A ideia de avanço da idade como impedimento para novas aventuras é uma premissa que Adilson da Silva Bolzan, de 73 anos, não deixa prevalecer. Ele e o amigo Misael Frade, de 57 anos, saíram de São Mateus, no Norte do Espírito Santo, na madrugada do dia 10 de junho, e pedalaram por 11 dias, até o Santuário de Bom Jesus da Lapa, na Bahia.
Segundo a dupla, foram 11 paradas pelo caminho e 1.170 quilômetros rodados, além das belas paisagens. Quem propôs o desafio foi o próprio Adilson, que pratica cicloturismo há 20 anos. “Nós íamos fazer com outro parceiro. Ele desistiu e Misael acabou topando ir comigo”, explica.
Segundo Adilson, o desafio teve um caráter de aventura, mas com o espírito religioso. “O Santuário, a pedra às margens do Rio São Francisco… São coisas únicas”, afirma. E o amigo completa: "A formação daquela pedra, da gruta é meio inexplicável. É como você pegar Linhares e São Mateus, onde é tudo reto e colocar uma montanha no meio", conta.
Para vencer o desafio, os amigos planejaram, desde o início, a meta de fazer uma parada a cada 100 quilômetros pedalados e cerca de cinco a sete horas de pedal por dia. “Teve um dia que chegamos a pedalar mais de 100 quilômetros, mas sempre que chegávamos nos 100, procurávamos algum hotel para descansar e ficar”, explica Adilson.
Nos hotéis, os amigos aproveitavam para repousar e ficar até o período da manhã, quando tinha o café, para cair novamente na estrada.
Ao longo dos municípios percorridos, a dupla encontrou cidades completamente fechadas, por conta da pandemia de Covid-19, e que estavam com restrições para evitar a propagação da doença. Com isso, segundo Adilson, eles enfrentaram dificuldades para comprar água, alimentos e conhecer certos municípios.
E para quem pensa que os amigos enfrentaram muitos desafios, ambos afirmam que a única dificuldade foi um pneu furado. “Um pneu furou, mas a gente já estava no hotel, fora isso, só o cansaço mesmo”, conta Misael.
Pelas estradas, os dois ainda contaram com uma ajuda especial, a dos caminhoneiros. “Ficamos impressionados com a cordialidade e parceria com os caminhoneiros. Em alguns pontos sem acostamento, eles abriam espaço para a gente poder passar com segurança”, completa.
Se para eles, a sensação era de tranquilidade, para a família, os 11 dias foram marcados por ansiedade. “O coração ficou apertadinho e ansioso! Infelizmente a gente sabe dos riscos que correm pela estrada, seja assalto, acidente, mas eles foram mandando notícias, respeitando os limites do corpo, e fiquei muito orgulhosa e mais admirada ainda”, conta Mariana Frade, filha de Misael.
Após chegar na Lapa e conhecer o santuário, os amigos retornaram de ônibus para São Mateus, com a bagagem cheia de experiências únicas e a sensação de dever cumprido. “Foi mais uma vitória alcançada. Mesmo tendo participado de cicloturismo há 20 anos, tem o desafio da idade, mas superamos”, finaliza Adilson.
O Santuário fica em uma gruta de pedra descoberta pelo português Francisco Mendonça Mar, em 1691. Ele exercia a função de pintor e artista plástico. Em 1688, foi encarregado de pintar o palácio do Governador Geral do Brasil, em Salvador, mas, ao invés de receber o pagamento, foi levado à cadeia e açoitado. Depois de liberto, passou a andar pela Bahia acompanhado de uma imagem de Jesus e, após meses de caminhada, encontrou o morro onde fica o Santuário. Na abertura da pedra, se deparou uma gruta onde colocou a cruz que carregava. Mar se tornou padre, e a gruta onde ele deixou a cruz acabou virou o Santuário do Bom Jesus da Lapa, visitado por milhares de romeiros anualmente.
Fonte: Santuário de Bom Jesus da Lapa
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