"Eu só quero ter uma resposta sobre o paradeiro dele". O apelo, em tom de desabafo, é da representante comercial Suelen Mônico, 36, que não tem notícias do pai há seis anos. Nesta quinta-feira (17), ela esteve na Chefatura da Polícia Civil, em Vitória, para ceder o seu DNA na esperança de ter, em breve, um desfecho para um dúvida que se arrasta.
Assim como Suelen, outros 23 familiares de pessoas desaparecidas no Espírito Santo procuraram a Polícia Civil nesta semana para participar de uma campanha de coleta de material genético. A ação foi elaborada pela Rede Integrada de Bancos de Perfis Genéticos (RIBPG), com o apoio da Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp).
O objetivo é reunir dados de desaparecidos, familiares de desaparecidos, pessoas vivas desconhecidas e de corpos sem identificação.
De acordo com a perita criminal Bianca Bortolini Merlo, a campanha teve início em todo Brasil na última segunda-feira (14). Foram coletados materiais genéticos de pessoas que tenham um familiar desaparecido há mais de 30 dias e que tenham registrado Boletim de Ocorrência comunicando o desaparecimento à Polícia Civil.
“Algumas pessoas souberam por meio das mídias, outras estavam em nossos bancos de dados e nós ligamos para informar sobre a coleta”, explicou.
E mesmo após o fim da campanha, a coleta de DNA vai continuar. “A campanha foi para intensificar e as pessoas terem conhecimento de que agora existe esse serviço. Após a campanha, o trabalho vai continuar, vai virar um atendimento às família dos desaparecidos”, explicou.
A coleta do material genético é gratuita e indolor, feita através da retirada de mucosa extraída das bochechas. A amostra deve ser coletada de um familiar de primeiro grau preferencialmente (mãe, pai, irmão ou filho) e a família também pode entregar objetos de uso pessoal, que possam conter amostras de DNA do parente desaparecido. Pode ser uma escova de dentes, uma aliança, um aparelho de barbear ou até mesmo um dente que tenha sido guardado.
Segundo a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp), o perfil genético obtido não será utilizado para nenhum outro fim, além da identificação do parente desaparecido.
Para fornecer o material genético, é necessário fazer o agendamento pelo WhatsApp do Departamento Médico Legal (DML), através do número (27) 3225-8260.
Após a coleta, os dados serão inseridos no Banco Nacional de Perfis Genéticos (BPG). Com esse material, aumenta a possibilidade de localização de pessoas desaparecidas, uma vez que informações coletadas em diversos Estados poderão ser acessadas e compartilhadas pelos laboratórios de DNA.
Quando é notificado o desaparecimento de uma pessoa, ou quando um cadáver é encontrado, podem ser utilizadas ferramentas, como o exame de DNA e o BPG, para auxiliar no processo de investigação e identificação. Esses recursos possibilitam a comparação de restos mortais não identificados ou de pessoas de identidade desconhecida com amostras-referência de familiares de pessoas desaparecidas.
A representante comercial Suelen Mônico mantém a esperança de saber o que aconteceu com o pai Abenito Mônico - desaparecido há seis anos - mas acredita que as chances de encontra-lo com vida são poucas. “Pelo tempo não tenho mais esperança de encontrar meu pai vivo, mas quero uma resposta. Pelo menos o corpo do meu pai”, conta.
Abenito tinha 52 anos quando desapareceu, em 2014. A última vez que Suelen o viu foi em agosto daquele ano, no bairro Itararé, em Vitória.
No dia do desaparecimento, Abenito saiu da casa dele dizendo que iria trabalhar em Vila Velha. Ele não portava documentos de identificação.
“A última vez que o vi foi na frente da casa dele. A gente conversou um pouco, ele me abraçou e disse que me amava. Foi o último abraço, o último ‘eu te amo’. Infelizmente, não sabemos o real motivo do desaparecimento dele. Ele não tomava nenhum medicamento. Um dos únicos itens que coloquei na ocorrência na época foi o alcoolismo”, desabafa.
Suelen conta que foi a Polícia Civil que entrou em contato para falar da campanha. “Quando meu pai sumiu, eu procurei a polícia e meus dados ficaram lá. É muito importante fazer esse exame para quem quer ter uma resposta. Todo tipo de ajuda é uma esperança”, pontua.
Além das dúvidas sobre o que aconteceu com o pai, Suelen precisa ainda lidar com a saudade. “Vivemos como se ele estivesse conosco, porém sem o corpo presente. O que nos resta é a saudade e o amor que tínhamos por ele. Um homem de família e de coração enorme”.
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