Com 98 mortes confirmadas, o Espírito Santo enfrentou uma explosão de dengue em 2023. Foram 191.131 casos acumulados – um recorde, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) –, contra 20.929 de 2022. Isto é, de um ano para o outro, o número de registros subiu 813,2%.
A incidência foi de 4.702,97 casos por 100 mil habitantes entre 1 de janeiro e 30 de dezembro. Para se ter ideia, o nível considerado alto pelo Ministério da Saúde é a partir de 300 casos por 100 mil habitantes.
Neste contexto, a quantidade de óbitos provocados pela doença também disparou, crescendo 1.533,3% em relação ao mesmo período de 2022, quando seis pessoas morreram ao longo daquele ano
O subsecretário de Vigilância em Saúde do Espírito Santo, Orlei Cardoso, pontuou que, em geral, as epidemias de dengue são cíclicas, ocorrendo, geralmente, a cada três ou quatro anos. A última, até então, havia sido registrada em 2019. Naquele ano, 50 pessoas morreram por complicações da doença.
“No ano passado, tivemos a circulação de dois sorotipos (da dengue) no Estado. Normalmente encontramos o sorotipo 1, mas tivemos o 1 e 2, e quando você tem dois sorotipos diferentes circulando, a morbidade costuma ser maior.”
Cardoso observa que, paralelamente, as altas temperaturas, combinadas ao tempo seco, contribuíram para que os ovos colocados pelo mosquito Aedes aegypti tivessem um período de resistência maior do que o usual. Cada fêmea bota de 700 a 1.000 ovos por dia. Esses ovos podem demorar mais de um ano para eclodir, esperando a estação das chuvas.
A maioria das notificações de dengue em território capixaba aconteceu no primeiro semestre de 2023, quando os números escalaram até alcançar um pico na semana epidemiológica entre 26 de março e 1 de abril. Apenas naquele período, foram registrados 10.049 casos. Desde então, observa-se uma queda nesse patamar.
O cenário, porém, ainda preocupa. O subsecretário destaca que o Ministério da Saúde já vê risco de uma nova epidemia de dengue no Espírito Santo em 2024. Situação semelhante é enfrentada por Minas Gerais, e por alguns Estados do Sul brasileiro.
Cardoso pontuou ainda que, em 2023, foram registrados 16 casos de coinfecção, em que pacientes tiveram dengue e chikungunya – ambas transmitidas pelo Aedes aegypti – ao mesmo tempo, uma situação que aumenta o risco de gravidade do quadro, uma vez que o organismo precisa lidar com dois vírus simultaneamente.
Diante desse quadro, o Estado tem realizado ações junto ao Ministério da Saúde e aos municípios, a fim de conscientizar a população sobre os cuidados básicos (proteger garrafas, pneus; manter vasos de plantas e comedouros de animais limpos; cobrir ralos e caixas d'água).
“A ideia é que, com essas ações, mesmo chegando os sorotipos 3 e 4, a gente não tenha tantos casos. A gente aposta muito no trabalho de conscientização.”
Para conter a doença, o Ministério da Saúde também anunciou a incorporação de uma vacina contra a dengue ao Sistema Único de Saúde (SUS) em 2024, a princípio em regiões prioritárias, com público limitado, devido à capacidade reduzida de fornecimento do laboratório que produz o imunizante.
Questionada sobre a distribuição, a assessoria da pasta informou que ainda não há informações sobre a destinação das doses neste primeiro momento, ou mesmo qual será o público prioritário. Ou seja, não há confirmação, até a publicação deste texto, sobre quando ou se as doses serão ofertadas no Espírito Santo.
O Ministério frisou, porém, que a vacina faz parte do rol de estratégias de combate às arboviroses, e que a vigilância da população é de grande importância, inclusive porque a maioria dos focos de dengue está em áreas residenciais.
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