Com um corte de R$ 15 milhões em seu orçamento após a aprovação da LOA (Lei Orçamentária Anual), o Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes) alcançou a marca do menor valor de custeio nos últimos dez anos. No mesmo período o número de alunos da instituição dobrou. Estudantes que correm agora o risco de perder assistência como transporte, alimentação e até bolsas.
Foram afetadas as instituições federais de ensino do país, como a Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes). No caso do Ifes, o corte nos valores destinados ao custeio foi de 22% em relação a 2020, e de 28% em relação a 2019. Na prática, corresponde a uma perda de R$ 15 milhões para a manutenção dos campis no Estado.
Não foram afetados os recursos para salários e aposentadorias, que são despesas de pagamento obrigatório. Para este fim foram destinados R$ 623.352.974,00, que vem direto do Ministério da Economia, segundo o reitor.
O bloqueio de recursos atinge as chamadas despesas discricionárias, tais como o pagamento de conta de luz, água, telefone, contratos de limpeza, segurança, dentre outros. Mas pode ainda ter repercussões na assistência estudantil, como o pagamento de bolsas de estudo e programas de auxílio, além de impactar nos investimentos, como a compra de equipamentos e realização de obras.
Desde 2010, o número de alunos matriculados nos campi do Ifes tem apresentado crescimento constante. Saiu de 15.417 para a marca de 33.112 em 2019. Os dados referentes ao ano de 2020 ainda não foram divulgados pelo Ministério da Educação.
Nos últimos anos, unidades do Ifes se destacaram no ranking das melhores instituições de ensino do país. Em fevereiro deste ano, foi incluída entre as 65 instituições de ensino superior brasileiras mais bem colocadas no Webometrics Ranking of World Universities.
A classificação é publicada anualmente pelo Laboratório Cybermetrics, grupo de pesquisa do Conselho Superior de Investigações Científicas (CSIC), localizado na Espanha, e que considera critérios como excelência em pesquisa, transparência e impacto na web.
É a qualidade do ensino procurada pelos alunos, segundo o reitor Jadir Pela, que está ameaçada. “Com os cortes que já ocorrem desde 2017, não teremos como oferecer o serviço de qualidade que sempre prestamos e estamos correndo sérios riscos de funcionamento”, desabafa o reitor.
Ele destaca que este ano três estudantes aprovados em Medicina na Universidade de São Paulo (USP) são oriundos do Ifes.
Jadir Pela informou que vai tentar manter a assistência estudantil, com transporte, moradia, alimentação, para o qual estão destinados R$ 17.133.913,00. “Este é um ponto de muita preocupação para os estudantes. Temos recursos pelo menos até setembro e vamos tentar manter até o final do ano”, relata.
Também vai tentar manter as bolsas de pesquisa e extensão. “Vamos lutar para manter as bolsas para estudantes, nas várias modalidades com recursos próprios e ainda de projetos de extensão”, explica.
Mas o recurso destinado a investimento, R$ 1.535.456,00, é pouco, informa o reitor. “É muito pouco para investimento em obras, compra de equipamentos de laboratórios, dentre outros pontos. No ano passado conseguimos R$ 20 milhões com o apoio dos parlamentares da bancada capixaba”, explicou.
Em relação aos Galpões do IBC, cedidos pela Secretaria de Patrimônio da União (SPU) ao Ifes, a expectativa é de ocupação até o final do ano com o polo de inovação em uma estrutura menor. A ocupação propriamente dos galpões vai ser viabilizada a partir do próximo ano. "Vai ser outra peleja. Vamos buscar recursos com o MEC, com a bancada de parlamentares capixabas, com empresas", relata.
O reitor Jadir Pela avalia como “extremamente grave” a situação da instituição após o corte. “Vamos terminar o ano devendo muita coisa”, desabafa. O problema, explica o reitor, é que os ajustes necessários para sobreviver aos cortes no orçamento já estão sendo adotados há pelo menos cinco anos, desde quando as reduções começaram a ser mais frequentes.
“Já passamos da etapa do desafio, economizando com energia, água, contratos de limpeza, substituímos a vigilância armada por porteiros. Não vejo onde mais é possível fazer cortes em nossos contratos”, relata.
Atualmente o Ifes mantém o sistema APNP (Atividades pedagógicas não-presenciais). Nesta condição, segundo o reitor, os recursos vão ser suficientes para manter a instituição até outubro. “Porém, se retornarmos com as presenciais, não chegaremos com recursos a agosto”, relata.
O reitor pede ajuda aos alunos, à sociedade e aos parlamentares do Estado para recompor o orçamento da instituição. “Precisamos lutar, juntos, pela recomposição do orçamento junto ao MEC, que nos ajude a ter um orçamento justo, para funcionar minimamente, pagar as contas e dar aos nossos servidores e estudantes uma condição mínima de trabalho”, desabafa o reitor.
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