"Ser obstinado é muito importante, mas tão importante quanto foi o apoio externo que eu recebi". O reconhecimento é de quem sabe que jamais teria conseguido realizar um sonho sozinho. Aos 19 anos, Pedro Carlos Marques da Silva é aluno do primeiro período de Medicina da Universidade de São Paulo (USP). A aprovação veio na primeira tentativa, graças ao apoio da família e a ajuda do amigo Ezequiel da Silva Passos Porto, de 18 anos, que compartilha com ele do mesmo sonho realizado. Os amigos são moradores de Vila Velha e foram aprovados no mesmo curso na universidade paulista.
Colegas de classe no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes), unidade de Vila Velha, Pedro e Ezequiel se prepararam juntos para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Ao longo de todo o ano de 2020, a dupla se dividiu entre as aulas on-line do Ifes e as muitas horas de estudo em meio a livros e videoaulas. O aprendizado e as dúvidas eram compartilhadas entre os dois através de um aplicativo de voz.
"Não fizemos cursinho. Reunimos alguns vídeos na internet, uns materiais que nos ajudavam. Estudava simultaneamente por videoaula e livro. Conforme a minha necessidade eu ia pesquisando o que se adequava mais ao meu estilo de estudo. 2020 foi um ano de muita experimentação, todo dia eu pesquisava alguma coisa nova", lembra Pedro.
Os dois amigos tinham em comum o gosto pela Biologia e a vontade de estudar em uma universidade pública reconhecida. Mas foi somente em 2020, ao longo das horas de estudo, que os dois decidiram que queriam cursar Medicina. "No Ifes, meu interesse pela área da saúde cresceu, mas sempre gostei muito de Biologia. E desde que a gente começou a se preparar, a gente tinha ideia de ir para USP", afirma Ezequiel.
Pedro admite que vivenciar uma pandemia também influenciou na escolha pelo curso. "A escolha da medicina foi recente, mas eu já tinha afinidade com a área da saúde. Decidi em 2020, quando me identifiquei com a grade curricular, a rotina do trabalho. Com a pandemia, todo mundo viu a importância do profissional da saúde e isso também influenciou na minha escolha", explica.
Filho mais novo, Pedro vive com a mãe, Maria Amélia, de 46 anos, em uma casa simples no bairro Jardim Marilândia, em Vila Velha. Ele é o primeiro da família a entrar para a universidade. "Meus irmãos não chegaram a ingressar no ensino superior. Tive muito apoio da minha família para ter a oportunidade de me dedicar só ao estudo. Minha mãe trabalhou como cuidadora de idosos o ano de 2020 inteiro. Ela segurou as pontas na questão financeira da casa para eu poder me dedicar aos estudos", conta.
Além de ajudar a mãe – que tem curso de técnica de enfermagem, mas não exerce a profissão –, Pedro quer salvar vidas. "Antes de tudo eu espero amar o que eu faço. Quero entrar na medicina e poder ajudar as pessoas com as minhas próprias mãos. Quero me sentir realizado ajudando as pessoas no trabalho", afirma.
Para Ezequiel, o interesse pela ciência grita: "Minha ideia é tentar entrar um pouco na pesquisa e em alguma área cirúrgica. A USP é famosa por pesquisa, vamos ver se eu consigo".
As aulas na universidade já começaram e, pelo menos por enquanto, acontecem de forma online. "Tem os desafios normais do EAD, mas a gente acostuma. Com pandemia não tem muito o que fazer", diz Ezequiel.
Quando os reflexos da pandemia diminuírem e mais pessoas estiverem vacinadas, os dois vão precisar da ajuda da universidade para conseguirem sobreviver em São Paulo. A ideia é poder contar com programas sociais oferecidos pela própria USP, como o auxílio moradia.
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