Os números da pandemia seguem altos e, diariamente, fazem com que o Espírito Santo perca vidas para a doença. Muitos fatores contribuem para que a quantidade de casos e óbitos se mantenham elevados, um deles é o baixo índice de isolamento social. Basicamente, quanto mais pessoas próximas umas das outras e sem a proteção necessária, maiores também são as chances do vírus se espalhar.
Neste sentido, a cidade que possui o pior índice de isolamento social na Grande Vitória, de acordo com a atualização mais recente do painel específico para esta abordagem, é a Serra. O município mais populoso da Região Metropolitana do Estado tem índice de 43,53% de pessoas em isolamento social.
A cidade aparece também no topo do número de casos confirmados para a Covid-19, com 51.306 testes positivos registrados até a contabilização desta quinta-feira (15). Há poucos dias, era Vila Velha quem aparecia na liderança, atualmente com 50.939. Se somadas as cidades, o total de pessoas que já se infectaram ultrapassa a marca de 100 mil, representando praticamente 1/4 do montante de 411.584 casos que o Espírito Santo registrou desde o início da pandemia.
Na sequência da Serra, aparecem Vila Velha com índice de 44,43%, Guarapari com 45,31%, Vitória com 45,90%, e Viana, já com um percentual um pouco melhor, com 47,35% de isolamento. No interior, Colatina aparece com percentual de apenas 40,52%, o pior entre todas as cidades listadas no painel de referência. A meta desejada de é de pelo menos 70%, muito longe dos parâmetros observados diariamente no estado.
Segundo o Instituto Jones dos Santos Neves, os dados são informados diariamente pelas operadoras de telefonia, em parceria que não gera custos ao Estado, preservando a privacidade e sigilo dos usuários. A atualização é feita no painel até as 17h de cada dia. O IJSN explicou ainda que, no momento, as companhias repassam informações referentes à Grande Vitória e aos "municípios polos" do estado, devido a representatividade estatística (mais populosos). Esta escolha, segundo o Instituto, é definida pelas próprias empresas.
Diante do cenário de pouca colaboração da população, a Prefeitura da Serra demonstra preocupação com o pouco isolamento na cidade e diz empreender esforços para evitar aglomerações.
"Recebemos e interpretamos os dados como reflexo de pouca empatia entre os cidadãos. Temos colocado em prática tudo o que podemos com a capacidade máxima a serviço da fiscalização, do cumprimento dos decretos estaduais e municipais de restrição à convivência: fiscalizações integradas (Guarda Municipal, Departamento de Trânsito, Vigilância Sanitária, Meio Ambiente, Postura, Polícia Militar, Polícia Civil e Corpo de Bombeiros), barreiras sanitárias, conscientização com entrega de máscaras nas praias. Não raro, no entanto, temos comerciantes que descumprem os decretos, põem em risco a vida alheia baseando-se em ideologias alheias ao fato de que aglomerar-se implica em provável contaminação", explicou, em nota, o secretário-interino de Defesa Social da Serra, Alessandro Darós.
O representante da administração municipal salientou que as principais ocorrências na cidade são bares que insistem em permanecer abertos fora dos horários previstos pelos decretos estaduais e municipais. Além disso, há registros de festas noturnas, sem alvarás, com som alto e aglomeração, geralmente de jovens.
O panorama constante de isolamento social abaixo do almejado na Serra e nas demais regiões do estado é motivo de preocupação para a pós-doutora em epidemiologia, Ethel Maciel.
"A gente já sabe que essa taxa de isolamento abaixo de 60% é muito ruim e não consegue impactar tanto a curva de novos casos. Ainda tem muita gente circulando e isso significa muita transmissão da doença. Seria muito importante a Serra ter uma redução maior de pessoas em circulação, pelo menos na faixa dos 50%", salientou a especialista.
Segundo Ethel, o baixo índice de isolamento faz com que a ocorrência de novos casos se mantenha acelerada diariamente, o que sobrecarrega a capacidade de atendimento na saúde, seja em ocupação de leitos de UTI ou enfermaria, além de demandar um quantitativo alto de insumos. Para ela, é preciso ser ainda mais incisivo na abordagem da gravidade do momento atual da pandemia.
"Precisaria de ter campanhas de conscientização e mais informação sobre a importância delas evitarem circular. Há um grupo considerável de pessoas que não precisam estar nas ruas porque são já aposentados, estão em trabalho remoto. Estes grupos precisam compreender que não podem se mobilizar (sair de casa). Aqueles que estão se mobilizando, ou seja, que são essenciais e precisem estar presencialmente no trabalho, precisam estar cientes que necessitam usar máscaras mais filtrantes ou duas máscaras. Ainda vemos muitos sem a proteção ou utilizando-a de forma errada. Com as novas variantes, é preciso estar ainda mais protegido. Quanto mais proteção, menos transmissão", salienta Ethel.
Por fim, a pós-doutora ainda orienta que as pessoas, de uma forma em geral, evitem locais com muitos presentes, especialmente ambientes fechados e sem circulação de ar corrente. No trabalho, o ideal é que portas e janelas sejam mantidas abertas para que o ar circule para diminuir a chance de transmissão.
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