A recente explosão no número de casos de Covid-19, em paralelo com a epidemia de gripe, tem afetado não apenas à população geral, como também alguns dos principais agentes do enfrentamento à crise sanitária: os profissionais da saúde. Levantamento feito por A Gazeta junto às prefeituras da Grande Vitória mostra um crescimento expressivo no número de casos de médicos, enfermeiros, técnicos, entre outros servidores afastados por causa de sintomas respiratórios a partir de dezembro.
Segundo o Conselho Regional de Enfermagem do Espírito Santo (Coren-ES), trata-se de uma situação generalizada que tem impactado na prestação dos serviços e na sobrecarga dos profissionais. Diante do momento de demanda alta de pacientes com síndromes gripais, os serviços municipais de saúde estão tendo que tomar medidas para garantir os atendimentos, como suspensão de férias de profissionais e reforço no quadro de funcionários.
Esse é o caso de Cariacica, onde o número de afastamentos de profissionais de saúde cresceu quase cinco vezes. Em novembro, houve um desfalque temporário de 24 (1,64%) profissionais da saúde por conta de gripe ou Covid-19. Já em dezembro, o número saltou para 113 (7,74%). E somente nos primeiros quinze dias de janeiro, 67 (4,59%) trabalhadores da área tiveram que ser afastados pelas mesmas causas.
No total, o município emprega 1.459 profissionais na área da saúde, e para contornar essas ausências, em meio a um momento de recrudescimento da pandemia, a Secretaria de Saúde de Cariacica (Semus) informou que, por meio do decreto 19/2022, determinou a suspensão das férias dos servidores lotados na Semus, com retorno imediato ao trabalho.
A secretária informou também está realizando contratação de profissionais, convocando aprovados em processos seletivos vigentes para suprir as urgências de recursos humanos.
A cidade de Vitória, por sua vez, tem uma das altas mais expressivas. O número de profissionais de saúde da rede pública afastados após terem contraído Covid-19 ou influenza mais que triplicou em um mês. Segundo dados da prefeitura, dos 2.912 servidores ativos, 78 (2,67%) foram afastados de suas atividades durante alguns dias do mês de novembro por conta das doenças.
Já em dezembro do ano passado, o número passou a 242, que equivale a 8,31% do total de profissionais da saúde empregados pela Capital. E o número de afastamentos segue elevado. Na primeira quinzena de janeiro de 2022, 164 (5,63%) trabalhadores da saúde chegaram a ser afastados em Vitória por conta de sintomas respiratórios.
Vale destacar que os afastamentos solicitados nesses meses foram mantidos por prazos variados, e isso não significa que os desfalques ocorreram ao mesmo tempo, nem tampouco que os servidores passaram todo o mês afastados.
Ainda assim, a prefeitura da Capital reforçou que “segue monitorando os números de casos de Covid-19 e de H3N2, avaliando continuamente a melhor forma de garantir a segurança dos servidores e dos cidadãos de Vitória, mantendo a prestação dos serviços com mínimo impacto.”
O município esclareceu também que continuam vigentes a Lei 9.254/2018 e o Decreto 17.584 que regulam, no âmbito do Poder Executivo municipal, o trabalho remoto para casos específicos (pessoas com quadro gripal, por exemplo), e destacou que cada caso é avaliado individualmente, de forma a aumentar a qualidade da prestação de serviços com foco no cidadão, resultando em mais tecnologia, economia e aumento da produtividade, além da segurança do servidor.
“A prefeitura avalia diariamente o cenário pandêmico e epidêmico, podendo adotar medidas adicionais em caso de agravamento da atual situação”, informou.
Em Vila Velha, dos 2.190 servidores ativos da Secretaria de Saúde, 21 (0,95%) foram afastados em novembro. Já em dezembro, esse número cresceu mais de seis vezes e passou a 130 (5,93%). Por fim, na primeira quinzena de janeiro, foram registrados 65 (2,96%) casos.
O município não esclareceu quais medidas estão sendo adotadas diante da alta de casos.
Já a Secretaria de Administração e Recursos Humanos da Serra informou que “assegura a confidencialidade e o sigilo dos motivos de saúde que implicam nos afastamentos do trabalho dos servidores municipais”, e, por isso, não disponibilizou o número de profissionais afastados.
A Secretaria da Saúde do município, entretanto, já havia esclarecido que, “assim como a população, os profissionais de saúde que atuam no município também estão adoecendo. Entre esses profissionais há médicos, enfermeiros, técnicos de enfermagem, além dos trabalhadores que atuam na área administrativa dos serviços.”
Diante dessa situação, a pasta frisou que tem se organizado para não deixar os moradores sem assistência. Uma das medidas que vêm sendo adotadas é a redistribuição de profissionais ou referenciar o atendimento para outra unidade.
A presidente do Coren-ES, Andressa Barcellos, pontuou que trata-se de uma situação generalizada, quem tem afetado os mais diversos profissionais da saúde embora, no caso da enfermagem, ela cite que há registros de subdimensionamento de profissionais, que traz um impacto significativo à qualidade do atendimento, o que tem resultado em unidades de saúde lotadas e pacientes e trabalhadores frustrados.
"São duas coisas. Já existe um déficit de profissionais de longa data. As instituições de saúde, os gestores, não conseguem entender que, na atual situação, não tem como a gente prestar assistência direta ao paciente, que é o que a enfermagem exige. E com a Covid e o surto de gripe, houve um aumento natural da demanda, e os profissionais também estão adoecendo porque estão mais expostos."
A Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) também foi questionada sobre afastamentos na rede estadual, mas informou que os dados serão analisados somente no final de janeiro, quando é realizado o fechamento da frequência do servidor no trabalho. A pasta ressaltou, entretanto, que os serviços prestados pela secretaria estão sendo realizados normalmente.
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