A proibição de voos entre Portugal e Brasil que foi determinada pelo governo português no último dia 29 de janeiro e com vigência até 14 de fevereiro, em consequência da alta do número de casos e da nova variante do coronavírus em circulação no Brasil, vem trazendo transtornos para os brasileiros no território luso que tentam voltar à terra natal. Entre os prejudicados, estão capixabas que tiveram suas passagens aéreas canceladas e não sabem quando poderão retornar. Eles pedem ajuda ao Ministério das Relações Exteriores.
Natural de Cariacica, a capixaba Jhennyfer Pereira, de 21 anos, foi para Portugal com o marido, Vitor Meira, de 23 anos, há dois anos e meio. A intenção era ir em busca de trabalho e com a intenção de retornar ao Brasil em melhores condições. "Viemos para trabalhar e juntar dinheiro para podermos voltar ao Brasil em cinco anos, mas com tanta dificuldade decidimos voltar antes", disse.
Com passagem comprada para o próximo sábado, dia 6 de fevereiro, eles receberam a notícia do cancelamento dos voos após o decreto do governo português. O casal capixaba, agora, vive a incerteza sobre quando poderá retornar.
“A nossa passagem seria para o dia 6 de fevereiro, mas foi cancelada pela Azul. Nós entramos em contato com eles que disseram que o governo português obrigou todas as companhias aéreas a cancelarem as passagens do dia 29 de janeiro até 15 de fevereiro, sem ter confirmação de que no dia 15 esse decreto chegaria ao fim. A Azul conseguiu mudar minha passagem para o dia 16 de fevereiro, mas sem confirmação de que neste dia vai acontecer o voo”, disse.
Jhennyfer conta que dezenas de brasileiros estão na mesma situação que ela. Inclusive, decidiram criar um grupo para compartilhar informações. Ela conta que pessoas estão passando por sérias dificuldades devido às restrições impostas.
“Estou em um grupo com 200 brasileiros que querem voltar, que estão na mesma situação. Tem pessoas que estão sem casa, que estão sem comer, que não podem ir ao consulado brasileiro, pois está fechado. É uma situação muito precária. Nós só queremos ir embora, não queremos passagens de graça. Todos temos passagens compradas. Já temos uma lista com 89 pessoas que estão com passagens compradas e foram canceladas. Só queremos uma solução do consulado, do governo português. Só queremos ir embora”, completou.
Além disso, ela diz que os pedidos de ajuda para o Ministério das Relações Exteriores, incluindo voos humanitários para resgatar os brasileiros, não estão sendo respondidos.
“Nós tentamos ligar, enviar e-mails, SMS, e através do Instagram, mas só recebemos respostas automáticas. O consulado fez uma publicação dizendo que, resumindo, temos que respeitar as leis portuguesas, que eles já tentaram fazer de tudo para ajudar, mas não estão conseguindo e não podem fazer nada. Aí fomos comentar, mas eles estão apagando comentário por comentário”, reclamou.
Por meio de nota, a Azul explicou que cancelou as operações entre Campinas (SP) e Lisboa até o próximo dia 7 de fevereiro, em virtude do decreto português. A companhia aérea também garantiu que "está em contato com as autoridades portuguesas para poder operar voos humanitários para repatriação de europeus e brasileiros e, enquanto isso, tem providenciado a reacomodação daqueles que foram impactados".
A reportagem de A Gazeta acionou ainda o Ministério das Relações Exteriores para saber quais as orientações estão sendo passadas aos brasileiros retidos em Portugal, quais medidas estão sendo tomadas para a resolução do impasse e se alguma ajuda está sendo concedida. Nenhuma resposta foi recebida até a publicação desta matéria. Este texto será atualizado assim que houver retorno.
No dia 29 de janeiro, o Consulado-geral do Brasil em Lisboa publicou uma nota informando sobre a suspensão dos voos por determinação do governo português. No comunicado, o Consulado recomenda aos brasileiros que entrem em contato com as companhias aéreas para a remarcação de bilhetes. Diz ainda que “solidariza-se com os brasileiros afetados pela medida adotada e esclarece não ter a faculdade de interferir na disponibilidade de vagas em voos em qualquer companhia aérea, ou com a estada dos cidadãos que se encontram em Portugal”.
Confira a nota na íntegra, publicada no dia 29 de janeiro:
O Consulado-Geral do Brasil em Lisboa está atento ao cenário causado pela suspensão temporária dos voos entre Brasil e Portugal. No momento, não há previsão de voos de repatriação pelo governo brasileiro. Relembramos que a atual suspensão de voos ocorre num momento totalmente diferente do de março/abril de 2020. Recomendamos aos passageiros afetados pela suspensão dos voos entre Brasil e Portugal entrar em contato diretamente com a companhia aérea e verificar possibilidade alternativa de rota ou a remarcação dos seus bilhetes aéreos para outra data. O Consulado solidariza-se com os brasileiros afetados pela medida adotada e esclarece não ter a faculdade de interferir na disponibilidade de vagas em voos em qualquer companhia aérea, ou com a estada dos cidadãos que se encontram em Portugal. Aos brasileiros que se encontram em Portugal, pedimos acompanhar as atualizações que serão publicadas em nosso site e páginas nas redes sociais, conforme novos cenários se apresentem. O quadro tem evoluído diariamente. Cidadãos portugueses que estão no Brasil e precisam viajar para Portugal devem consultar o site oficial do governo português: https://www.portaldascomunidades.mne.pt/.../conselhos-aos... Novas restrições podem vir a ser impostas pelas autoridades sanitárias, sem prévio aviso, pelo que não recomendamos viagens internacionais neste cenário de agravamento da pandemia da Covid-19. O momento é difícil para todos e o Consulado continua atendendo a comunidade e procurando prestar os melhores serviços dentro das condições possíveis.
Após a publicação desta matéria, a companhia aérea Azul retornou aos questionamentos feitos pela reportagem. O texto foi atualizado.
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