Um pequeno aumento na interação social, seja com a reabertura do comércio, a volta às aulas, ou até com caminhadas no calçadão, praias e ruas, já é o suficiente para aumentar o número de mortes e de pessoas hospitalizadas pelo novo coronavírus. Pesquisa capixaba aponta que um crescimento de 10% na ampliação do convívio, por exemplo, pode provocar um aumento de 30,6% no número de mortes pela doença.
O estudo é do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), formado por pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e considera, dentre outras variáveis para o cálculo, o número de casos e mortes que foram confirmados por intermédio de exames.
Os cenários projetados foram feitos em 15 de abril, quando já era possível ter mais informações sobre casos da doença, indo até o dia 15 de maio. Para este dia foi projetado um total de 193 mortes em quatro municípios da Grande Vitória: Vitória, Serra, Vila Velha e Cariacica. Juntos eles respondem a 76% dos casos/mortes de Covid-19 no Estado.
A projeção em 15 de abril era de que em 15 de maio, se houvesse 5% de interação social, o número de mortes subiria para 221, um acréscimo de 14,5%. Com 10% a mais de convívio, teríamos 252 óbitos, um aumento de 30,6%.
A realidade acompanhou a projeção. No dia 15 de maio, ocorreram 290 mortes por Covid-19 em todo o Estado, 220 delas em quatro municípios da Grande Vitória. Se a interação social tivesse aumentado em 10% neste dia teríamos, nos quatro municípios, 252 casos, quase o total registrado no Estado, que foi de 290, explica Pablo Lira, doutor em Geografia, mestre em Arquitetura e Urbanismo, pesquisador do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e membro do NIEE.
Os cálculos foram feitos já sob os reflexos das medidas adotadas por volta da segunda quinzena de março, com suspensão de aulas presenciais, a redução das atividades comerciais e proibição de aglomeração. Posteriormente teve-se a retomada das atividades comerciais, seguindo um protocolo de reabertura.
Um outro cenário, com projeções de casos para até o próximo dia 30, inclui outra variável no cálculo: a taxa de letalidade de doença. Foi considerada a taxa de 2,81%, registrada no dia 21/04 no Estado, e a 4,2%, registrada no Brasil no dia 04/04.
Pode-se observar que no final de maio, a variação do número de mortes é de 31,9% (de 248 para 327), considerando a taxa de 2,81%, ou um aumento de 32,16% (370 para 489), considerando a taxa de letalidade de 4,2%.
A comparação entre o melhor e o pior cenário da tabela gera uma diferença de 97,2% no número de mortos (de 248 para 489), diz o texto do estudo.
Vale destacar que este cenário foi projetado para os quatro municípios da Grande Vitória. No cenário da mortalidade de 2,81%, com 10% de interação, onde seriam registrados 327 mortes nos quatro municípios, em todo o Estado seria registrado um total de 430 óbitos.
Outro impacto do aumento da interação social foi analisado em relação ao número de pessoas que vão precisar de hospitalização em decorrência da doença. A partir do dia 15 de abril foi projetado um cenário do dia mais crítico, com um maior número de casos.
A avaliação foi feita para o dia 5 de maio, quando se teria 390 hospitalizados. Com uma interação social no período de 5%, o número passaria para 476, um crescimento de 22% em um dia crítico. O aumento de 10% na interação resultaria em mais pessoas internadas, um total de 576, com o dia crítico ocorrendo desta vez no dia 6 de maio, refletindo um crescimento de 48% nos hospitalizados.
Segundo Lira, este é um cenário em que se projeta poucos dias a frente, no máximo 15 dias. O que se observou, disse, é que este pico de dias críticos se deslocou para a segunda semana de maio. Com isto, o gráfico já não mostra o declínio apresentado no dia 15 deste mês.
Outro ponto, segundo Lira, é que mesmo com a retomada das atividades comerciais, seguindo um protocolo de reabertura, não houve um aumento significativo na interação social. Ela estava em 46% e ficou, após a retomada parcial das atividades, em 47%. "Mas se as aulas presenciais tivessem sido retomadas, com mais trânsito, congestionamento, provavelmente a interação teria sido maior, explicou.
O pesquisador destaca que até que seja desenvolvida uma vacina contra a doença, o que se constata é que o mais eficiente é o isolamento social. Combinado com ações de uso de máscaras, distanciamento social, sem aulas presenciais, comércio seguindo o protocolo, sem lojas lotadas, respeitando a metragem de segurança e a etiqueta respiratória.
Os estudos feitos pelo NIEE ajudam o governo estadual a entender o comportamento da doença e ainda permitem a adoção de medidas em relação ao isolamento social.
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