Nesta segunda-feira (23), dois voos da companhia GOL que pousariam no Aeroporto de Vitória tiveram de voltar aos respectivos destinos de origem pela incidência de "vento de cauda" na aproximação à Capital. Devido a uma manutenção de rotina, a pista nova, que conta com 2.058 metros de comprimento estava impedida de operar. Desta forma, os pousos e as decolagens foram transferidos para a pista antiga, esta menor, com 1.750 metros de extensão.
Cada pista possui duas cabeceiras, todas numeradas. Na pista nova, elas são denominadas 02 (aproximando sobre o mar) e 20 (sentido bairro Boa Vista II). Na antiga, as cabeceiras possuem a numeração 06 (aproximação sobre o bairro Goiabeiras) e a 24 (passando sobre o Shopping Mestre Álvaro). Estes quatro números são importantes para explicar o que também influenciou para que os dois pousos não fossem realizados.
Para que um avião toque o solo, o piloto precisa considerar muitas variantes, que vão desde as condições climáticas, passando pelo tráfego aéreo na região, situação da pista, peso da aeronave, entre outros elementos. Para pousar em segurança, um dos fatores ideais é que o avião aproxime-se da pista com o vento frontal, ou seja, a aeronave recebe o vento pela frente. Isso é importante para a sustentação no ar, como explicado pelo gerente de segurança operacional do Aeroclube do Espírito Santo, Marcos Nascif. Em entrevista ao Bom Dia ES desta terça-feira (24), ele detalhou sobre o incidente.
"O caso de ontem, coincidentemente entre 9h40 e 10h, eu estava em frente à Ufes e observei uma aeronave comercial efetuando o procedimento de pouso pela cabeceira 06. Ocorre que algumas empresas aéreas possuem restrições operacionais, e isso é permitido a elas. Existe o procedimento para que seja feito o pouso na cabeceira 06, ele é aprovado, mas algumas empresas optam por não realizarem (caso da GOL)", disse.
Segundo Nascif, todo pouso e decolagem deve ser feito prioritariamente na direção contrária ao vento. Nesta segunda (23), devido as condições climáticas e também pela interdição temporária da pista nova - informação confirmada pela assessoria da concessionária do Aeroporto de Vitória - as operações foram direcionadas para a cabeceira 06, a fim evitar as rajadas do "vento de cauda" na cabeceira 24, relatada por um dos pilotos dos dois voos em aproximação.
"No horário em questão, o vento estava entre 12 a 15 nós, o que dá uma velocidade de 25 a 30 km/h. Existe uma proibição expressa na aviação comercial mundial, na qual se fala que em situações de vento de cauda superior a 10 nós, já é proibitivo em certas condições, mas isso vai depender também da situação da pista, o tamanho da mesma, se está molhada ou não, e até o peso da aeronave. Então estes cenários são determinantes e devem ser avaliados por pilotos e controladores", complementou Nascif.
Ainda de acordo com o gerente de segurança do Aeroclube do ES, quando se opera a favor do vento (vento de cauda), a sustentação da aeronave diminui e pode trazer riscos para o pouso, podendo gerar um acidente ou um incidente, como atravessar a pista, sair da pista, entre outras situações. Com o vento de cauda, é como se o avião fosse 'empurrado' quando deveria estar desacelerando", explicou.
Antes de arremeter, o piloto do voo que havia saído do Santos Dumont tentou o pouso pela cabeceira 24, mas ao notar o vento de cauda na aproximação, o mesmo arremeteu com a aeronave e retornou ao Rio de Janeiro. Simultaneamente, o voo que havia partido de Guarulhos voava em círculos sobre a região de Guarapari e Anchieta à espera de uma condição melhor para pousar.
Com a confirmação da arremetida, o comadante comunicou aos passageiros que retornaria para São Paulo, pois não havia segurança para descer. Os voos da GOL não estão mais operando pela cabeceira 06. Esta informação foi confirmada por pilotos ouvidos pela reportagem, inclusive da própria empresa aérea, sendo que apenas a cabeceira 24 pode ser utilizada. As duas outras companhias comerciais que operam em Vitória, Latam e Azul, pousaram e decolaram normalmente ao longo do dia.
Em resposta à reportagem, a empresa comunicou, em nota, que a medida foi adotada por questões de segurança, sem porém especificar quais fatores foram determinantes para que a cabeceira 06 deixasse de ser utilizada pelos aviões da companhia - a cia opera com aeronaves da Boeing, da família 737, incluindo o 700, 800 e MAX. Antes da nova pista ser liberada em março de 2018, a GOL operava na cabeceira 06 do antigo terminal.
"A GOL sempre prioriza a segurança, seu valor número 1. Nossas tripulações observam e avaliam constantemente as condições operacionais do aeroporto. A decolagem e o pouso, em cada localidade, só são executados se todos os critérios de Segurança estiverem assegurados", disse a GOL.
Embora a GOL não tenha detalhado os motivos, pilotos ouvidos pela reportagem de A Gazeta disseram que a mudança se deu por causa do gradiente (ângulo) de descida do procedimento (pouso). Para que o pouso ocorra em segurança, o piloto segue por uma rampa de aproximação, uma espécie de caminho que a aeronave deve fazer enquanto vai descendo. Especificamente na cabeceira 06, a empresa orientou os pilotos a não operarem na mesma.
Em resposta à demanda feita pela reportagem de A Gazeta, a assessoria de imprensa da Zurich Airport, concessionária que administra o novo Aeroporto de Vitória, informou que não houve alteração na pista antiga e que a decisão de operar ou não na mesma compete aos pilotos e às companhias.
"Não houve nenhuma mudança. A decisão é da companhia aérea, porém esclarecemos que a decisão pelo pouso e/ou arremetida é sempre do piloto do voo, de acordo com as normas da aviação e procedimentos internos da cia aérea. A pista antiga está operacional, em pleno funcionamento e com os equipamentos que auxiliam no pouso em funcionamento", salientou.
A Zurich Airport disse ainda que durante a manhã, ocorreram operações pela pista 06/24 e também pela 02/20. Sobre a cabeceira, ela é definida pela Torre de Controle e varia de acordo com a direção dos ventos. "Na manhã de hoje (terça), operamos pela cabeceira 06 e pela 02, mas essa é uma situação dinâmica no universo da aviação e que pode mudar ao longo do dia. Reforçamos que a Aeroporto de Vitória é um dos poucos no Brasil com estrutura de 2 pistas capazes de operar aeronaves do código Charlie", complemetou a empresa.
A cabeceira 20, oposta ao mar, está em fase de homologação pelas autoridades competentes, mas em nada afeta a operacionalidade do aeroporto, garantiu a Zurich Airport. Nela, decolagens estão autorizadas, mas os pousos ainda não ocorrem.
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