Com o início da vacinação contra a Covid-19 em todas as regiões brasileiras, inclusive no Espírito Santo, muitas dúvidas surgem em relação à imunização, principalmente em relação a alguns grupo como alérgicos, crianças, gestantes e doentes em tratamento de doenças com uso de corticóides.
Para sanar esses questionamentos, A Gazeta conversou com médicos, consultou documentos da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI) e a bula da Coronavac disponibilizada pelo Instituto Butantan, responsável pela produção da vacina em parceria com o laboratório Sinovac.
O imunologista, pesquisador e professor da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) Daniel de Oliveira Gomes explicou que até o momento a vacina tem sido administrada a todos os grupos de pessoas, sem recomendação de suspensão por uso de medicamentos. Entretanto, pessoas com histórico de reações alérgicas fortes precisam de maior atenção e vigilância.
"Nos estudos da Covid-19, não houve nenhuma resposta adversa que fosse importante a ponto de suspender a vacinação. Nesse caso, os indivíduos que têm histórico de resposta alérgica a qualquer tipo de vacina precisam ser analisados. A princípio, não estão excluídos, mas há indicativo de que eles sejam melhor assistidos antes e após o processo de vacinação", sugeriu.
Outro questionamento recorrente está relacionado à aplicação da Coronavac em quem faz uso de corticóides, medicamentos de ação anti-inflamatória e imunossupressora, usados para suprimir os mecanismos de defesa do corpo.
O médico infectologista e doutor em Medicina Tropical, Ricardo Tristão, explicou que não há uma contraindicação da vacina em pacientes que fazem uso de corticóide. A orientação é procurar atendimento médico para que cada caso seja analisado individualmente.
No Estado, a aplicação da vacina será feita em três fases, seguindo as orientações de prioridade do Ministério da Saúde e as diretrizes da Organização Mundial da Saúde (OMS). Ao todo, devem ser imunizados cerca de 1,1 milhão de capixabas durante a campanha. Mesmo aqueles que já foram infectados pelo novo coronavírus serão vacinados.
Na primeira etapa, que foi subdividida, vão ser vacinados trabalhadores da saúde da linha de frente no combate à Covid-19; pessoas idosas que moram em casas de repouso; pessoas a partir de 18 anos de idade com deficiência que vivem em instituições; população indígena vivendo em terras indígenas. Na sequência serão imunizados demais profissionais da saúde que não estão na linha de frente da Covid-19; idosos com 75 anos ou mais; professores; e profissionais da área de Segurança Pública. A segunda fase contempla as pessoas que tenham entre 60 anos e 74 anos de idade. Já a terceira etapa vai ter como público-alvo pessoas com comorbidades.
As pessoas idosas que moram em asilos ou abrigos e pessoas a partir de 18 anos de idade com deficiência residentes em instituições receberão as vacinas no local em que vivem, não precisam se deslocar. As demais seguirão as orientações de cada prefeitura. Contudo, não adianta correr agora às unidades de saúde, porque a vacinação nesses locais ainda não começou e somente vai ser feita quando o Estado receber mais doses.
As prefeituras da Grande Vitória devem disponibilizar um agendamento on-line assim que receberem mais doses para imunizar pessoas que pertencem ao segundo grupo da primeira fase, que inclui os idosos, profissionais de segurança e educação. Contudo, ainda não há uma data para que isso aconteça e nem cadastro a ser preenchido. A população vai ser comunicada por meio de avisos nos portais de cada prefeitura.
As pessoas com menos de 60 anos e sem comorbidades ficaram de fora do planejamento de vacinação elaborado pelo Ministério da Saúde. Dessa forma, não há previsão para quando elas serão imunizadas. De acordo com o secretário de Saúde do Espírito Santo, Nésio Fernandes, não há um calendário claro, uma agenda de imunização e logística capaz de garantir imunização para toda a população neste ano.
Sim. A indicação é para que quem já teve a doença se vacine. Estudos comprovam que a imunidade conferida pela Covid-19 pode ser de curta duração, além de haver o risco de reinfecção por variante diferente.
Pessoas que estão contaminadas no momento da vacinação não devem ser vacinadas. A orientação é que elas esperem passar os primeiros sintomas da doença para que não haja uma confusão entre a dose da vacina e a resposta imunológica provocada pela própria doença e para que os efeitos da vacina não fiquem mascarados ou sejam mal interpretados.
Os especialistas alertam que grávidas e crianças não foram incluídas na maioria dos estudos clínicos dos laboratórios responsáveis pelas vacinas. Como não há informações que atestam a segurança e eficácia dos compostos nestes dois grupos, eles ainda não foram incluídos em nenhum plano de vacinação iniciado no mundo. Há expectativa de que essas pessoas sejam contempladas à medida que os dados sejam analisados e publicados pelos cientistas. Os médicos destacam que, com a vacinação dos outros grupos, o vírus perde força de circulação, diminuindo, assim, o risco de contágio dos grupos não beneficiados com a vacina.
A vacina cria um processo infeccioso natural. De maneira artificial, induz à imunidade, mexendo nos processos imunológicos do indivíduo, que pode apresentar sintomas mais brandos do que se tivesse sido infectado pelo coronavírus (Sars-CoV-2). Essa reação é esperada principalmente nas vacinas que estão sendo produzidas com vetores virais - outro tipo de vírus que carrega o material genético do Sars-CoV-2 - e sintomas semelhantes como dor de cabeça e febre controlável com antitérmico podem se manifestar. Pode haver também dor no local, inchaço, vermelhidão.
Pessoas alérgicas podem tomar qualquer vacina, inclusive as que estão sendo aprovadas agora. Apenas em casos específicos alérgicos não devem se vacinar. As únicas pessoas que não têm indicação de tomar a vacina são as que já tiveram reações alérgicas graves a outras vacinas anteriores ou quem é alérgico a um componente da vacina que será aplicada no Brasil , que vai contar com uma bula indicando a sua composição. Sintomas alérgicos graves são aqueles que ocorrem imediatamente após a vacinação. Entre eles se incluem urticária generalizada, falta de ar e crises convulsivas.
Depende da doença autoimune e do tratamento que está sendo realizado. Nesses casos, o ideal é consultar o médico para avaliar caso a caso. Segundo os médicos, em geral, pessoas em tratamento de radioterapia ou quimioterapia para qualquer tipo de câncer não costumam tomar qualquer tipo de vacina porque a doença ativa e o tratamento debilitam o sistema imunológico. Pessoas transplantadas também não têm indicação de vacinação, porque, após o procedimento tomam imunossupressores, isto é, medicamentos que alteram o sistema de defesa do corpo humano. No entanto, pessoas HIV positivas em tratamento com coquetel de medicamentos podem tomar a vacina contra o coronavírus porque a terapia retroviral faz com que a pessoa tenha o sistema imunológico perfeitamente normal. Já a Sociedade Brasileira de Reumatologia (SBR) considera que a decisão pela vacinação de pessoas com enfermidades reumáticas deverá ser tomada individualmente, analisando cada caso. Segundo a SBR, pacientes com doenças reumatóides autoimunes não estão entre os grupos de risco da Covid-19, sendo assim, a maior parte deles tem indicação para se vacinar.
Sim, pessoas com deficiências que não afetam o sistema imunológico podem se vacinar normalmente. Os médicos informam que não há indícios de que uma deficiência afete a resposta imune, e isso diz respeito a qualquer vacina.
Não há uma contraindicação da vacina em pacientes que fazem uso de corticóide, no entanto, é importante que as doenças autoimunes, em tratamento com corticóide, estejam controladas. De maneira geral, o paciente com doença autoimune deverá consultar seu médico e a indicação da vacina deverá ser avaliada individualmente.
Cada fabricante de vacina definiu uma idade mínima para imunização. Os especialistas em saúde informam que a maioria dos estudos relacionam jovens, acima de 18 anos.
Antes de uma vacina ser disponibilizada para aplicação em massa na população, é necessário passar por uma série de testes, com protocolos primeiro em animais até a realização de estudos em humanos. Com as pessoas, três fases têm de ser cumpridas para a indústria farmacêutica receber a autorização de comercialização do produto. Na primeira etapa, é avaliada a segurança da vacina, se o produto não causará toxicidade ao organismo do indivíduo. Na segunda fase, é verificada a eficácia do imunizante, ou seja, a capacidade de prevenir a doença para o qual está sendo desenvolvido. Nesses dois momentos, o grupo pesquisado é pequeno para maior controle dos efeitos. Na terceira etapa o estudo é ampliado, abrangendo maior número de pessoas para testar a imunidade em massa, e assim levar à validação de uma produção em larga escala para vacinar a população. Antes de serem incorporados no plano de imunização do país, os imunizantes dependem de aprovação da Anvisa - órgão regulador do governo federal na área de medicamentos.
(Com informações de Iara Diniz/A Gazeta)
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