Se um dente cai e é necessário um implante ou se um acidente causa uma fratura, a realização de um enxerto — técnica para reconstrução de um osso — pode ser a melhor opção para dentistas e médicos. Contudo, comprar ou pagar um serviço que utilize o material necessário para o procedimento, o chamado biomaterial, pode sair caro.
O motivo dos altos valores de procedimentos com enxertos, como alguns implantes dentários, é a utilização de biomaterial ósseo importado. Um grama desse material pode variar de R$ 500 a R$ 600, o que torna os serviços menos acessíveis.
Pensando nisso, pesquisadores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) desenvolveram um biomaterial a partir de tecido ósseo bovino cru que seria descartado de abatedouros. O produto criado na instituição pode ser utilizado em implantes dentários e em diversos outros preenchimentos, desde os que envolvam fraturas maiores — como a da tíbia, que é o principal osso da perna — até menores.
Em relação aos implantes dentários, esse biomaterial ósseo vai ser um aliado para a redução dos preços. Por ter um baixo custo de produção, o produto reduzirá o custo total dos procedimentos dentários que têm vantagens estéticas e funcionais em relação à prótese convencional ou à clássica dentadura.
Para desenvolver o biomaterial a partir de tecido ósseo bovino cru e deixá-lo seguro para o uso, os ossos usados são descelularizados e liofilizados, ou seja, passam por um processo de sublimação da água. Além disso, ocorrem diversos banhos e processos químicos.
Segundo o professor e pesquisador do Departamento de Morfologia da Ufes, Breno Valentim Nogueira, além da redução no preço, o método, que é mais natural, terá outras vantagens sobre os produtos importados.
Apesar das vantagens desse material desenvolvido, ainda há desafios para colocá-lo no mercado para os cidadãos.
“O nosso maior desafio será a captação de recursos para montagem da estrutura de produção em larga escala e o marketing do produto em um mercado consolidado, com a maioria dos produtos importados e de alto custo. Na tentativa de alavancar a produção, criamos a startup BioBone que está incubada no Espaço Empreendedor da Ufes”, explicou o pesquisador.
Até o momento, o método está em fase de certificação pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e tem a parceria do Instituto Capixaba de Ensino, Pesquisa e Inovação em Saúde (ICEPi).
Os pesquisadores pretendem, junto à Secretaria de Saúde do Espírito Santo (Sesa), disponibilizar o biomaterial para enxerto ósseo na população em procedimentos odontológicos de implante dentário.
A Ufes conquistou a patente desse projeto em abril e está em busca de parcerias com fábricas no Brasil ou no exterior para a produção do biomaterial em larga escala.
A patente nº BR 102018003726-9 concedida pelo Instituto Nacional de Propriedade Industrial (INPI) foi assinada pelos inventores Rodolpho José da Silva Barros, Breno Valentim Nogueira, Alex Balduino de Souza, Carlos Magno da Costa Maranduba, Danielle Luciana Auroro Soares do Amaral e Jairo Pinto de Oliveira.
O biomaterial é resultado da dissertação do estudante Rodolpho José da Silva Barros, intitulada Desenvolvimento de Biomaterial Ósseo, que foi defendida em 2018 no Programa de Pós-Graduação em Biotecnologia, sob a orientação de Breno Valentim Nogueira, professor do Departamento de Morfologia da Ufes.
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