Imagine passar quase duas semanas exposto ao frio, à fome e à sede. Foi o que aconteceu com um grupo de nigerianos que atravessou o Oceano Atlântico escondido em um navio que ancorou em Vitória na segunda-feira (10).
Segundo a Polícia Federal, os clandestinos, que apresentavam condições precárias de saúde, foram localizados pela própria tripulação ao alcançar o litoral do Espírito Santo.
Eles estavam escondidos em um pequeno compartimento sobre o leme da embarcação. O leme é uma espécie de pá que fica abaixo da linha d'água e serve para desviar o fluxo de água, para que a embarcação possa ir na direção pretendida.
O compartimento que fica sobre essa estrutura é chamado casa de leme, serve como acesso ao eixo do leme e permite atividades de manutenção no maquinário, por exemplo.
A casa do leme pode ser acessada tanto pelo lado de dentro da embarcação, quanto por fora, por meio de uma abertura em direção ao mar, que teria sido o meio pelo qual os estrangeiros entraram clandestinamente no navio. O grupo ainda será ouvido pela polícia, que vai apurar todas as informações.
Os imigrantes embarcaram em Lagos, na Nigéria, no dia 27 de junho. É a maior cidade daquele país, com uma população que tem quase duas vezes o número de pessoas que vivem no Espírito Santo.
Eles nem mesmo sabiam qual era o destino do navio, que veio da Libéria, e só foram descobertos depois de 13 dias, pela própria tripulação, após o navio percorrer cerca de 5, 5 mil quilômetros até atracar no litoral capixaba.
A parte na qual ficaram os nigerianos teria 2m³, e como havia pouco espaço disponível no compartimento, pelo qual passa o eixo do leme, acredita-se que os imigrantes nigerianos precisaram revezar, com um sendo obrigado a ficar do lado de fora, como foi registrado nas imagens que rodam o mundo nos últimos dias.
O espaço era pouco seguro, dada as chances de os quatro imigrantes acabarem caindo no oceano em um movimento mais brusco da embarcação. Dois deles não sabiam nadar, segundo a PF.
Por conta da proximidade entre a estrutura e a água do mar, o local era frio e úmido, mesmo que usassem várias camadas de roupas.
Além disso, a água e a comida que levaram para a viagem foi insuficiente, o que os expôs à fome e à sede durante parte da travessia.
Há vários anos, a Nigéria enfrenta conflitos de ordem religiosa e por disputas de recursos naturais. A crise dos refugiados, com a insurgência do Boko Haram (grupo radical islâmico), já dura cerca de uma década, e, de tempos em tempos, moradores daquele país tentam escapar da crise humanitária, ainda que em condições precárias, como as que foram enfrentadas pelos imigrantes escondidos no navio.
Os quatro nigerianos que chegaram ao Porto de Vitória devem ser enviados de volta ao país africano em até 25 dias. Segundo a Polícia Federal, todos os custos envolvendo o retorno dos imigrantes serão pagos pela empresa responsável pelo navio, o que está previsto em lei.
"Por motivos humanitários, foi autorizado o desembarque condicional. Agora ficarão sob custódia e responsabilidade da Agência Marítima até que retornem ao país de origem, compulsoriamente", informou a corporação.
Outra alternativa, para permanecer legalmente no país, seria pedir refúgio ou residência permanente, o que é uma possibilidade prevista em lei, mas é avaliada caso a caso.
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