Evitar aglomeração, usar máscara e higienizar as mãos com álcool 70% ou água e sabão. Especialistas em saúde apontam que a evolução da Covid-19 no Espírito Santo vai depender de como a população pretende encará-la, principalmente, quanto à adoção das etiquetas respiratórias e de biossegurança.
Chefe de Infectologia da Universidade Estadual Paulista (Unesp) e consultor da Sociedade Brasileira de Infectologia (SBI). Alexandre Barbosa defende que a pandemia vai continuar apresentando dados flutuantes, que vão variar a partir do comprometimento das pessoas.
A população decretou o fim do isolamento social. Ninguém mais aguenta, as pessoas perderam a paciência. Então, para mitigar a transmissão, tem as três regras de ouro que são o uso constante da máscara, de forma correta, manter o distanciamento social de 1,5 a 2 metros e higienizar sempre as mãos.
Muito mais importante que qualquer determinação de governo, o médico acredita que o comportamento individual é o que vai ditar o rumo da pandemia em no país. Segundo ele, em uma perspectiva nacional, as taxas de transmissão são mais altas entre os jovens.
Tem aquela coisa da onipotência, de que não vão ficar doentes, mas acabam transmitindo. Está acontecendo uma tragédia. Temos uma média de mil mortes por dia no Brasil há três meses e é como se nada tivesse acontecendo. Se a população fizer uma flexibilização racional, o número de casos vai cair. Se virar oba-oba, obviamente, o que vai acontecer é explodir o número de casos.
O cardiologista e paliativista Henrique Bonaldi ressalta que países da Europa e os Estados Unidos, de certa forma, controlaram a doença porque determinaram medidas restritivas que tiraram a população das ruas e evitaram a aglomeração nas ruas, além da suspensão das aulas.
Hoje o que se sabe é que há dois jeitos de abaixar a curva: a população sai da rua e ganha da doença ou a doença passa pela população e se enfraquece. No Brasil, ela passou pela gente porque não fizemos o distanciamento correto, porque o ônibus ficou lotado, porque a população não tem saneamento básico e desmereceu o uso da máscara, pontuou.
Mesmo assim, Bolnaldi não vê indícios que apontam uma segunda onda de casos e óbitos maior que a primeira no Brasil. Na avaliação dele, o melhor termômetro que indica a incidência e gravidade da doença está nos registros de internação hospitalar.
Isso não quer dizer que a curva da doença vai cair vertiginosamente, ela provavelmente vai fazer degrau. Ela estava caindo muito bem há duas semanas, agora já lotou a UTI de novo. Não lotou com 17 leitos igual antigamente, mas saiu de quatro para nove leitos.
Bonaldi disse que há um mês o hospital em que ele trabalha no Espírito Santo tinha 90% de ocupação de leitos de UTI. À época, isso envolvia os leitos formados para atender outras doenças, que acabaram destinados a pacientes com Covid-19, além dos espaços criados exclusivamente para infectados com o vírus.
Parou-se a utilização de UTIs cardiológicas para pacientes com Covid. Agora o que acontece? Tenho 70% de ocupação e já nem é, dessa quantidade, de leitos de UTI, porque as UTIs, quando uso, são as criadas para atender casos de Covid.
O uso de máscara, a higienização das mãos com água e sabão ou com álcool 70%, além das medidas de distanciamento social devem fazer parte da rotina da população até a chegada de uma vacina eficaz. Segundo especialistas, seguir essas etiquetas de saúde ainda são as únicas armas eficientes contra o vírus.
No Brasil, as complicações no organismo causadas pelo coronavírus já mataram mais de 107 mil pessoas. O Espírito Santo registra mais de três mil óbitos. Apesar de resultar, em média, em 100 mortes por semana no Estado, a doença apresenta um nível de estabilidade nos municípios capixabas.
De acordo com dados do Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), a taxa de transmissão do Espírito Santo é de 0,58, quando 100 pessoas são capazes de infectar outras 58. Nos municípios do interior, a taxa está 0,89, ou seja, um grupo de 100 contamina 89 pessoas.
Na Grande Vitória, o índice é de 0,18, sendo que 100 pessoas transmitem a Covid para 18. Os números foram obtidos com base nas informações contidas no Painel Covid-19, da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), e indicam a realidade das regiões até o dia 14 de agosto.O estudo é feito semanalmente pelo NIEE.
O professor do Departamento de Matemática da Ufes e membro do NIEE, Etereldes Gonçalves Junior, explica que o Estado alcançou um estágio de descida das curvas epidemiológicas. Ele destaca que o pico de média móvel de óbitos do Estado girou em torno de 40.
A média móvel é uma avaliação que mostra a tendência de comportamento da Covid-19 no meio de variações muito fortes de um dia para o outro. De acordo com o Painel Covid, nos últimos sete dias, o índice era 14. Quando comparado aos últimos 14 dias, a média móvel era de 17.
Etereldes avalia que esse comportamento pode estar relacionado ao fato de que o Brasil flexibilizou atividades comerciais e medidas restritivas de circulação enquanto a curva ainda era ascendente. Ele cita que o comportamento da doença foi diferente em países que determinaram medidas de mitigação de riscos como o lockdown, fechamento total do comércio, serviços e restrição à circulação de pessoas.
Primeiro, houve concentração de casos na Região Metropolitana e depois no interior do Estado. Essa diferença temporal de pico faz com que tenha um deslocamento à direita na descida. Aliado a isso tem a questão da flexibilização que coloca mais gente exposta e vai descendo mais lentamente.
Ethel Maciel é doutora em Saúde Coletiva e Epidemiologia, professora do Departamento de Enfermagem da Ufes e membro do NIEE. Ela alerta que a OMS considera a pandemia controlada quando for registrado menos um caso por 100 mil habitantes.
Estamos tendo muitos casos novos por dia, além dos óbitos. A gente estava esperando chegar numa transmissão local, talvez mais rápido, mas para isso teríamos que ter menos um de caso por 100 mil habitantes e não ter óbito nenhum, declarou.
O secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, afirmou que o Laboratório Central do Espírito Santo (Lacen) deve ampliar a capacidade de testagem, além de receber um suporte da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) e da estratégia nacional de testagem desenvolvida pelo governo federal.
No mês de setembro a gente pode a voltar a ter características da época da transmissão local quando eu investigava todos os contatos dos casos positivos confirmados por PCR e isso me permitia fazer um isolamento também dessas pessos e acompanhá-las por alguns dias para saber se evoluíam com forma sintomática ou se seriam portadoras assintomáticas. A gente vai chegar nesse momento em setembro, por exemplo, ou em outubro, no máximo, com condições de poder enfrentar melhor a pandemia, declarou.
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