A explosão que deixou mortos e milhares de feridos em Beirute, no Líbano, nesta terça-feira (4), repercute em todo o mundo e também na comunidade libanesa do Espírito Santo. Apesar de longe, aqueles que têm o Líbano como pátria sofrem com as tragédias, guerras e atentados que assolam o território ao longo de sua história. Ex-governador do Espírito Santo, Vitor Buaiz faz parte do grupo e lamenta profundamente pelos acontecimentos recentes por lá.
O ex-governador diz que acompanha as notícias do país e que ficou preocupado recentemente ao ler uma reportagem sobre o colapso da economia no Líbano. "Fiquei preocupado tentando falar com os meus primos de lá. Como se não bastasse isso, agora existe a informação desse gás tóxico, resultado da explosão, utilizado tanto como fertilizante, como explosivo. E estava armazenado irregularmente. Não adianta. Os culpados serão condenados e tal, mas a irresponsabilidade foi permitirem que houvesse o armazenamento desse tipo de produto na beira do gás", lamentou Buaiz.
"Estive no Líbano em 1995, eu era governador, fui em uma comitiva. Minha família lá é grande, meus pais são de lá e foi uma recepção muito calorosa. Vimos, ainda, o resultado da guerra. Vários prédios estavam destruídos no Centro do Líbano", relembra.
Buaiz comenta que, na época, o presidente do Líbano era Rafiq Hariri, assassinado em 2005, e que naquela ocasião houve uma audiência com os chefes de Estado para manifestar solidariedade ao povo libanês. "Depois voltei lá em uma comitiva do presidente da República e grande parte de Beirute já tinha sido restaurada. A partir dali, tinha tudo para o crescimento do país ser alavancado. Agora, essa catástrofe. Há uma grande instabilidade política por lá, mas aquele lugar já foi considerado a Suíça do Oriente Médio", compara.
Buaiz também cita que os hospitais já estavam lotados por conta da pandemia do novo coronavírus. "Não tem onde receber pacientes. É um caos. Vai depender muito da ajuda humanitária dos outros países e negociação com o Fundo Monetário Internacional, que vai ser obrigado a ajudar. Extremamente lamentável para nós que estamos aqui. Mesmo brasileiros, sofremos pelo Líbano".
Cumprindo quarentena em Pedra Azul, na Região Serrana do Espírito Santo, Vitor Buaiz relembra a Avenida Jerônimo Monteiro, no Centro de Vitória, na década de 50. "Era quase inteira de libaneses. Naquela época, também foi construído o Clube Libanês na Praia da Costa. O libanês é muito acolhedor, generoso. Isso também traz o impacto para gente nesse momento. Eu penso que isso é um alerta para a humanidade", disse.
O produtor cinematográfico Vitor Graize, sócio da Pique-Bandeira Filmes, no Centro de Vitória, é bisneto de libaneses de origem "drusa", uma pequena comunidade religiosa que possui representantes em alguns países da região do Oriente Médio. Vitor já visitou o Líbano duas vezes e, em uma dessas oportunidades, se hospedou próximo ao local do acidente.
"Minha família, parte no interior de Minas, parte na Grande Vitória, teve diversos movimentos migratórios desde a década de 1920, quando chegou meu bisavô, Amim. Muitos parentes vieram, alguns voltaram, muitos ficaram. Por conta disso, desses laços, eu visitei o Líbano duas vezes, em 2013 e 2015", contou.
Vitor contou que sua maior precoupação quando ficou sabendo da explosão foram seus familiares que até hoje ainda residem em Beirut. Em seguida, muitas memórias da visita à cidade foram trazidas à tona.
Como recordação e forma de se aproximar da cultura de origem, Vitor tem um projeto fotográfico e, segundo ele, pretende voltar ao Líbano para dar sequência. Ele classificou sua relação com o Líbano como "permanente".
"Mais do que lembranças, a relação com o Líbano é algo permanente. Os primos, primas, tios e tias lá. E a distância, que é enorme. Mas mantemos contato diário pelas redes sociais", finalizou.
Michel Minassa, advogado de 60 anos e que possui avós libaneses, nunca conseguiu ir ao Líbano. Ele teve duas oportunidades; em uma delas, o pai adoeceu e não puderam ir. Em outra, no começo deste ano, ocorreram os ataques que culminaram na morte de Qasem Soleimani, general do Hezbollah, grupo terrorista do Oriente Médio e a tensão política no local impossibilitou a visita.
Ele buscava visitar o país de onde seus descendentes vieram justamente para resgatar as origens de sua família. "Tenho parentes que tem familiares lá. Da minha linhagem, ninguém voltou. Meu avô veio para o Brasil e se instalou no Sul do Estado. Queria exatamente ir até lá para resgatar essas origens", disse.
Michel classificou o Líbano como um país belíssimo e destacou o sentimento humanitário da população libanesa. Para o advogado, a explosão em Beirute traz muita tristeza, mas ele aposta na reconstrução da capital e do país como um todo.
"Foi um sentimento de muita tristeza e pena, porque é um país lindo, pelo povo que tem. É a Paris do Oriente Médio, um país que se reconstrói e se reinventa. A cena da explosão dá uma tristeza. Todo mundo com quem conversei hoje manifestou essa tristeza. Para mim, foi uma cena muito impactante, estou muito triste", disse.
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