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Comunidade libanesa no ES lamenta explosão em Beirute

Comunidade libanesa no ES lamenta explosão em Beirute

Membros da comunidade libanesa no Espírito Santo lembram com carinho de visitar à capital do país e sentem por mais um episódio grave na cidade

Publicado em 4 de agosto de 2020 às 23:53

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Escombros após forte explosão na área portuária de Beirute, no Líbano
Escombros após forte explosão na área portuária de Beirute, no Líbano. (HASSAN AMMAR / AP / ESTADÃO CONTEÚDO)

explosão que deixou mortos e milhares de feridos em Beirute, no Líbano, nesta terça-feira (4), repercute em todo o mundo e também na comunidade libanesa do Espírito Santo. Apesar de longe, aqueles que têm o Líbano como pátria sofrem com as tragédias, guerras e atentados que assolam o território ao longo de sua história. Ex-governador do Espírito Santo, Vitor Buaiz faz parte do grupo e lamenta profundamente pelos acontecimentos recentes por lá.

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Essa catástrofe deve ser a pior. Em poucos minutos destruiu uma parte importante da cidade e o porto. O Líbano não tem agricultura, indústria, como outros países. Depende de importação, que vem dos vizinhos. A destruição do porto cria um outro problema, porque os outros dois portos secundários não terão capacidade para receber essa mercadoria necessária

Vitor Buaiz
Ex-governador do ES e membro da comunidade libanesa do Estado
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O ex-governador diz que acompanha as notícias do país e que ficou preocupado recentemente ao ler uma reportagem sobre o colapso da economia no Líbano. "Fiquei preocupado tentando falar com os meus primos de lá. Como se não bastasse isso, agora existe a informação desse gás tóxico, resultado da explosão, utilizado tanto como fertilizante, como explosivo. E estava armazenado irregularmente. Não adianta. Os culpados serão condenados e tal, mas a irresponsabilidade foi permitirem que houvesse o armazenamento desse tipo de produto na beira do gás", lamentou Buaiz.

"Estive no Líbano em 1995, eu era governador, fui em uma comitiva. Minha família lá é grande, meus pais são de lá e foi uma recepção muito calorosa. Vimos, ainda, o resultado da guerra. Vários prédios estavam destruídos no Centro do Líbano", relembra.

Buaiz comenta que, na época, o presidente do Líbano era Rafiq Hariri, assassinado em 2005, e que naquela ocasião houve uma audiência com os chefes de Estado para manifestar solidariedade ao povo libanês. "Depois voltei lá em uma comitiva do presidente da República — e grande parte de Beirute já tinha sido restaurada. A partir dali, tinha tudo para o crescimento do país ser alavancado. Agora, essa catástrofe. Há uma grande instabilidade política por lá, mas aquele lugar já foi considerado a Suíça do Oriente Médio", compara.

Renato Casagrande foi vice-governador de Vitor Buaiz (1995-1998)
Vitor Buaiz ao lado de Renato Casagrande em 1995. (Gildo Loyola)

Buaiz também cita que os hospitais já estavam lotados por conta da pandemia do novo coronavírus. "Não tem onde receber pacientes. É um caos. Vai depender muito da ajuda humanitária dos outros países e negociação com o Fundo Monetário Internacional, que vai ser obrigado a ajudar. Extremamente lamentável para nós que estamos aqui. Mesmo brasileiros, sofremos pelo Líbano".

"ALERTA PARA A HUMANIDADE"

Cumprindo quarentena em Pedra Azul, na Região Serrana do Espírito Santo, Vitor Buaiz relembra a Avenida Jerônimo Monteiro, no Centro de Vitória, na década de 50. "Era quase inteira de libaneses. Naquela época, também foi construído o Clube Libanês na Praia da Costa. O libanês é muito acolhedor, generoso. Isso também traz o impacto para gente nesse momento. Eu penso que isso é um alerta para a humanidade", disse.

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Temos que ser mais solidários, temos que ter mais consciência de que as guerras são inadmissíveis. Este é um alerta, assim como a pandemia. A humanidade precisa colocar as mãos na cabeça e pensar que não podemos destruir o planeta, porque isso representa a destruição do próprio ser humano.

Vitor Buaiz
Ex-governador do ES e membro da comunidade libanesa do Estado
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Pessoas, muitas delas feridas, circulam pelas ruas cobertas de escombros após uma forte explosão na área portuária de Beirute, no Líbano(HASSAN AMMAR / AP / ESTADÃO CONTEÚDO)

"QUE A CIDADE POSSA SE REEGUER"

O produtor cinematográfico Vitor Graize, sócio da Pique-Bandeira Filmes, no Centro de Vitória, é bisneto de libaneses de origem "drusa", uma pequena comunidade religiosa que possui representantes em alguns países da região do Oriente Médio. Vitor já visitou o Líbano duas vezes e, em uma dessas oportunidades, se hospedou próximo ao local do acidente.

Vitor guarda com carinho as fotos tiradas em Beirut, próximo ao local onde houve a explosão
Vitor guarda com carinho as fotos tiradas em Beirut, próximo ao local onde houve a explosão. (Vitor Graize)

"Minha família, parte no interior de Minas, parte na Grande Vitória, teve diversos movimentos migratórios desde a década de 1920, quando chegou meu bisavô, Amim. Muitos parentes vieram, alguns voltaram, muitos ficaram. Por conta disso, desses laços, eu visitei o Líbano duas vezes, em 2013 e 2015", contou.

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Nessas visitas estive, claro, em Beirute. Fiquei hospedado duas vezes em Achrafieh, justamente na região que foi a mais afetada pelo que aconteceu hoje.Caminhei muito pela região do Porto, cuja proximidade com a parte antiga da cidade lembra muito Vitória, pela Praça dos Mártires, o Souk (mercado), que havia sido inteiramente reconstruído e 'modernizado' após a guerra civil

Vitor Graize
Produtor cinematográfico
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Vitor contou que sua maior precoupação quando ficou sabendo da explosão foram seus familiares que até hoje ainda residem em Beirut. Em seguida, muitas memórias da visita à cidade foram trazidas à tona. 

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A primeira preocupação era saber se os familiares estavam bem — e estavam, pois vivem em algumas cidades das montanhas. Depois vieram muitas imagens, memórias. O hotelzinho onde fiquei e o restaurante Le Chef, localizados a mais ou menos três quarteirões do local da explosão, são o que mais dói. Torço para que os trabalhadores desses locais estejam bem

Vitor Graize
Produtor cinematográfico
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Vitor guarda com carinho as fotos tiradas em Beirut, próximo ao local onde houve a explosão
Vitor guarda com carinho as fotos tiradas em Beirut, próximo ao local onde houve a explosão. (Vitor Graize)

Como recordação e forma de se aproximar da cultura de origem, Vitor tem um projeto fotográfico e, segundo ele, pretende voltar ao Líbano para dar sequência. Ele classificou sua relação com o Líbano como "permanente".

"Mais do que lembranças, a relação com o Líbano é algo permanente. Os primos, primas, tios e tias lá. E a distância, que é enorme. Mas mantemos contato diário pelas redes sociais", finalizou.

Vitor guarda com carinho as fotos tiradas em Beirut, próximo ao local onde houve a explosão
Vitor guarda com carinho as fotos tiradas em Beirut, próximo ao local onde houve a explosão. (Vitor Graize)

"VISITAR O LÍBANO É UM SONHO AINDA NÃO REALIZADO"

Michel Minassa, advogado de 60 anos e que possui avós libaneses, nunca conseguiu ir ao Líbano. Ele teve duas oportunidades; em uma delas, o pai adoeceu e não puderam ir. Em outra, no começo deste ano, ocorreram os ataques que culminaram na morte de Qasem Soleimani, general do Hezbollah, grupo terrorista do Oriente Médio e a tensão política no local impossibilitou a visita.

Ele buscava visitar o país de onde seus descendentes vieram justamente para resgatar as origens de sua família. "Tenho parentes que tem familiares lá. Da minha linhagem, ninguém voltou. Meu avô veio para o Brasil e se instalou no Sul do Estado. Queria exatamente ir até lá para resgatar essas origens", disse.

Michel classificou o Líbano como um país belíssimo e destacou o sentimento humanitário da população libanesa. Para o advogado, a explosão em Beirute traz muita tristeza, mas ele aposta na reconstrução da capital e do país como um todo.

"Foi um sentimento de muita tristeza e pena, porque é um país lindo, pelo povo que tem. É a Paris do Oriente Médio, um país que se reconstrói e se reinventa. A cena da explosão dá uma tristeza. Todo mundo com quem conversei hoje manifestou essa tristeza. Para mim, foi uma cena muito impactante, estou muito triste", disse.

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Pela força do povo, determinação e garra, acho que o Líbano vai se reconstruir, Beirute vai se reconstruir. Visitar o Líbano, pra mim, é um sonho que ainda não foi realizado, mas será

Michel Minassa
Advogado e membro da comunidade libanesa no Estado
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Grande explosão atinge área portuária de Beirute
Grande explosão atinge área portuária de Beirute. (Reprodução/Sociais)

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