O "lixão" virou luxo, ou melhor, foi transformado em um espaço com direito à arquibancada, campo de futebol de areia, futevôlei, área para futmesa, mesas para dominó e carteado. Tudo isso foi feito com o esforço da própria comunidade do bairro Clemente, em Aracruz, no Norte do Espírito Santo. Como o local carecia de uma área de lazer, os moradores resolveram unir forças para limpar um terreno em desuso e, no local, criou alternativas para incluir o esporte na vida das crianças, jovens e adultos.
A área particular em questão era um ponto viciado de lixo, onde eram descartados pneus e entulhos em geral, por exemplo, e essa aparência de "lixão" incomodava moradores próximos. Decidido a mudar esta realidade e dar um novo aspecto ao bairro, o soldador Valério Sampaio Pantaleão, de 38 anos, idealizou transformar o local em algo útil. Com a ajuda braçal e financeira de vizinhos, amigos e conhecidos, o mato alto aos poucos foi se transformando na "Arena das Lendas", como passou a ser carinhosamente chamado o espaço.
"Tem mais ou menos uns seis meses que a gente teve esta ideia de fazer um campinho ali. Aqui no bairro não temos área de lazer ou uma quadra, a mais próxima fica distante. Eu percebi que daria para mudar, então resolvi chamar algumas pessoas e começamos a construir. Limpamos o terreno, conseguimos a areia, os pneus que viraram a arquibancada, algumas pessoas doaram as redes, bolas e outros materiais, e depois de muito esforço conseguimos construir este espaço, que é importante demais aqui para o Clemente", disse o soldador.
A importância citada por Valério está relacionada à ocupação positiva que o espaço propicia à comunidade. Antes sem uma área dedicada ao esporte, não era raro ver alguns jovens e crianças do bairro envolvidos com caminhos perigosos. Com o "complexo esportivo", a garotada agora pode passar o tempo jogando bola e se afastando das coisas ruins.
"Nosso é formado por pessoas humildes, gente de bem, mas sempre tem aqueles que optam pelas coisas erradas. A gente via a preocupação das mães com os filhos sem ir à escola por causa da pandemia. Ninguém quer ver um menino indo para o lado errado da vida, sabe. Então quando a gente se juntou, foi para também colocar essa molecada para ter o que fazer. Nada melhor do que eles mesmos construírem o campo onde jogam. Agora passam o dia todo lá e trouxe mais alegria ao bairro, além de alívio para as famílias", disse Valério.
O local, que pertence à empresa Suzano (antiga Fibria e Aracruz Celulose), agora sedia até torneios de futebol de areia e outras modalidades. A arena poliesportiva ainda recebe acabamentos como pintura, arborização e outros detalhes. A intenção do soldador é que mais pessoas da comunidade se envolvam com o espaço, fazendo da área um ponto de referência na comunidade.
"A gente quer sempre melhorar, né. Há pouco tempo a gente não tinha nada aqui e agora com nosso próprio esforço conseguimos colocar nosso projeto de pé. Tudo com a ajuda de um, de outro, das pessoas que cedem o próprio tempo, um pouco de tinta ou doa um pneu usado. Não tem participação de político, prefeitura nem nada. É tudo fruto do nosso empenho", salientou Valério.
Segundo a liderança da comunidade, quando as intervenções no espaço foram iniciadas, representantes da produtora de celulose estiveram no local para averiguar a situação. Mas rapidamente a comunidade mostrou as reais intenções e o projeto seguiu adiante.
"Chegou até eles que a gente estava desmatando uma matinha que tem aqui. Na verdade é o contrário, nós plantamos mais árvores para cercar o ambiente e limpamos todo o mato existente. A gente já tentou falar com a empresa, mas é muito difícil o contato com eles", explicou Valério.
Em contato com a reportagem de A Gazeta, a Suzano disse, em nota, que "recebeu o convite de um representante da comunidade para conhecer as ações de revitalização implementadas na área em questão. Uma visita já está sendo programada para as próximas semanas", disse a produtora de celulose inicialmente.
Na resposta, a empresa disse ainda que a companhia "acredita na importância do diálogo aberto e transparente, especialmente com as comunidades. Essa parceria é fundamental para fortalecer as ações, sobretudo aquelas que estão diretamente relacionadas ao Propósito de renovar a vida a partir da árvore, renovando a nossa forma de produzir, consumir, distribuir valor e como nos relacionamos com a natureza".
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