O governador Renato Casagrande assinou, na tarde desta quarta-feira (23), a ordem de serviço para obras na Terceira Ponte que liga os municípios de Vitória e Vila Velha. O projeto prevê mais duas faixas para veículos, muro de proteção para prevenção de suicídios, ciclovias e um mirante. Para entender como as mudanças devem influenciar no trânsito da Grande Vitória, A Gazeta conversou com especialistas em mobilidade urbana.
As ciclovias serão formadas por estruturas metálicas que ficarão instaladas para fora das duas laterais da plataforma de concreto da Terceira Ponte, ficando abaixo da altura da mureta metálica de onde passam os veículos. Dessa forma, não será possível que o ciclista visualize os carros da via e possibilitará que os motoristas mantenham a visibilidade das paisagens ao redor da ponte. Cada via para bicicletas terá três metros de largura, contando assim com duas faixas. Já a parte de concreto, onde fica o asfalto, será totalmente usada para os veículos circularem.
Com relação à mobilidade de veículos, a previsão é de que a ponte passe a ter mais duas faixas uma em cada sentido além das quatro já existentes. Para isso, a mureta de concreto que hoje divide os sentidos dos veículos será reduzida de espessura mais da metade, passando de 1,43 m para 0,60 m e as pistas existentes serão estreitadas. As faixas laterais serão as maiores, e de uso exclusivo de transporte coletivo, passando a ter 3,10 metros cada. As demais terão 2,80 metros.
Nos dois sentidos da ponte, o projeto ainda prevê uma barreira contra suicídio, que contará com uma grade antiescalada de três metros de altura para a proteção e uma pista de ciclovia com pavimento asfáltico de três metros de largura. Próximo ao vão central, a estrutura da ciclovia terá um alargamento chegando a seis metros de largura e funcionará como uma espécie de mirante. Neste ponto, parte da grade antiescalada será substituída por vidro.
A implantação das ciclovias nas laterais da ponte foi elogiada pelos especialistas em mobilidade urbana. Para Ronaldo Gaudio, especialista em trânsito, a iniciativa não vai mudar o trânsito da região de forma significativa. Além da implementação da ciclovia, outros dois fatores apontados por ele que pesam na decisão do ciclista de usar mais a bicicleta como transporte são as questões climáticas e a garantia de segurança pública.
"Na Terceira Ponte, é válido e interessante ter ciclovias. Vemos hoje pessoas atravessando de ônibus com bicicletas, tamanha é a vontade de ir trabalhar pedalando. Ou seja: não é só esporte, é mobilidade. Mas é preciso considerar fatores básicos como segurança pública por conta dos assaltos e a questão climática, porque quando chove ou há vento forte a maioria das pessoas não pedala. E mesmo que houvesse garantia de segurança e falta de chuva, não é possível afirmar que a ciclovia vai aliviar o fluxo de veículos, já que há muito mais carros que ciclistas", conta.
Já Manoel Rodrigues, especialista em trânsito que é professor da Faesa e da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), considera a obra uma "inovação importante". Segundo ele, a iniciativa do governo em criar as ciclovias nas laterais da Terceira Ponte tem potencial de induzir a utilização de bicicleta, além de permitir conhecer futuramente que fatores motivam e impedem as pessoas de utilizá-la. Mas como o uso é realizado por uma parcela pequena da população, existem fatores que são empecilhos a essa prática vir a ser adotada por um contingente maior de pessoas.
"A bicicleta favorece a coletividade, pois recria uma nova qualidade de vida urbana devido ao fato de democratizar o uso da via pública, reduzir os congestionamentos, promover grande mobilidade e agilidade no tráfego, necessitar de pequenos espaços viários e áreas de estacionamento e possibilitar baixa intrusão visual. Mas há que se considerar que elementos climáticos como a chuva, vento intenso, sol abrasador, ausência de ciclovias, velocidades excessivas dos automóveis e risco de furto da bicicleta exercem significativa influência sobre os ciclistas", comentou.
A engenheira de tráfego Nadja Lisboa da Silveira Guedes concorda com os dois profissionais e afirma que a implementação de ciclovia é válida porque incentiva o uso das bicicletas como meio de transporte, dando mais segurança na locomoção dos ciclistas. No entanto, ela também faz ponderações quanto às melhorias no trânsito.
"A iniciativa é positiva para os ciclistas. Mas não vejo como uma ciclovia, independente de ser ou não na ponte, pode alterar o trânsito de veículos de forma significativa", disse.
Os especialistas completaram que a obra na Terceira Ponte não deve melhorar o trânsito e a mobilidade na Região da Grande Vitória de forma significativa. Uma das preocupações apontadas é se os acessos no entorno da ponte em Vitória e Vila Velha também serão ampliados. A reportagem de A Gazeta fez o questionamento ao governo, que respondeu, por nota, que inicialmente não há previsão de ampliar esses acessos.
"Não adianta ter mais espaço para veículos transitarem sobre a ponte se os acessos nos dois sentidos continuarem da mesma forma. O congestionamento não será evitado. A única diferença é que serão mais veículos em cima da ponte aguando ter vasão para a subida e a descida. O impacto negativo que eu vejo é o de, justamente, onerar os cofres públicos com algo que não terá efeito real", afirmou Ronaldo Gaudio.
Manoel Rodrigues concorda que a obra por si só, não dará grande impacto no trânsito da região. Porém, ele citou outras obras que podem, juntas, dar algum efeito da diminuição do congestionamento.
"A ampliação da Terceira Ponte por si só não elevará significativamente a qualidade do trânsito e mobilidade, mas existe um movimento e entendimentos de que o governo pretende, por exemplo, realizar a ampliação da avenida Fernando Ferrari, no trecho da reta do antigo aeroporto, que liga o município de Vitória a Serra. O projeto visa incrementar mais uma faixa por sentido e construir um túnel na via que permitirá acesso direto aos bairros de Fátima e Jardim Carapina".
Rodrigues também citou um projeto que visa melhorar a chegada em Vitória, pelo município de Cariacica, com obras na Ilha do Príncipe. "Outra importante melhoria da qualidade da mobilidade da Região Metropolitana da Grande Vitória virá com o término das obras do contorno do Mestre Álvaro", completou.
Outra preocupação, é em relação ao risco de colisões laterais devido a distância entre os veículos nas novas pistas. Embora o governo afirme que a mureta de concreto que hoje divide os sentidos dos veículos será reduzida de espessura e que as faixas laterais terão 3,20 metros de largura (para uso exclusivo de transporte coletivo) e 2,80 metros (para os demais veículos), Ronaldo Gaudio acredita que, na prática, o distanciamento lateral entre os veículos será menor.
"Aumentar o número de pistas apenas reduzindo a mureta não vai resultar na margem desejada. Será necessário diminuir a largura das vias atuais, provavelmente para 2,80 metros. O padrão hoje das pistas na ponte, no geral, é de 3,20 metros, mas há ônibus que chegam a 3,40, fora os retrovisores. O trânsito entre os veículos, lateralmente, será muito próximo e os riscos de colisões laterais serão maiores, principalmente para motociclistas, que já estão em estatísticas preocupantes de acidentes", diz.
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