O risco de desmoronamento em um prédio de Nova Itaparica, em Vila Velha, fez com que 130 moradores deixassem suas casas no último domingo (24). Em um áudio enviado aos moradores do edifício nesta segunda-feira (25), o dono da construtora Santos, responsável pela obra, alegou que o risco do prédio desabar foi causado por algum "morador bêbado ou drogado que acertou as colunas", e disse que "a verdade está chegando". Ouça abaixo.
"Ontem fizeram esse desespero todo de que o prédio estava desabando, mas hoje a verdade chegou. Já mandei apurar porque o condomínio vai ter que se responsabilizar pelos gastos. Graças a Deus a verdade está chegando. Então foi um morador bêbado ou drogado que acertou as colunas lá", diz o áudio.
Na noite desta segunda-feira (25), a Santos Construtora informou, por meio da advogada Caroline Cucco, que "a construtora está aguardando a conclusão oficial dos órgãos competentes. A princípio, essa informação foi passada por um próprio morador do edifício para a construtora, mas foi constatado a improcedência".
A reportagem da TV Gazeta conversou com profissionais do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia do Espírito Santo (Crea-ES), que constataram — além de nenhuma marca de batida — ser impossível que um carro tenha atingido a área afetada na coluna, que fica na parte alta. Foi feito ainda no domingo (24) o procedimento de escoramento com aço, sendo utilizado material de trilho de trem para conseguir segurar a estrutura.
De acordo com o gerente de relacionamento do Crea, Giuliano Battisti, em entrevista ao repórter Diony Silva, da TV Gazeta, as primeiras análises feitas no local compararam fotos e medidas extraídas durante a madrugada de domingo (24) com os resultados obtidos nesta segunda-feira (25), e revelaram que não houve ainda mudança no aspecto físico do imóvel. No entanto, houve sim mudanças nas informações.
"Já conseguimos verificar projetos, o Crea já levantou as anotações de responsabilidade técnica (ARTs) para resgatar a sociedade de serviços leigos. O levantamento que realizamos nos indica divergências importantes entre o projeto e o que foi executado", iniciou.
No edifício, que foi entregue há dois anos, já foi constatado esmagamento da estrutura e flambagem em dois pilares importantes, segundo Battisti. "Duas colunas com alterações importantes, com colapso. Já verificamos, nisso, divergência com o projeto. Já conversamos com a Defesa Civil e orientamos que não seja permitida ocupação no local. Vai precisar ser feita intervenção grande, seja de reforço, reconstituição, de verificar fundação, todos os aspectos de engenharia", continuou.
Em entrevista à reportagem de A Gazeta, o engenheiro civil do Crea-ES informou que entre as divergências de execução em relação ao projeto inicial do prédio, está o uso de menos aço na estrutura das colunas do que o projeto previa.
"O que vimos foi de 30 a 40% do dimensionamento previsto no projeto. Ou seja, tem menos da metade da quantidade de aço que deveria ter. O próprio dimensionamento externo das colunas está reduzido, então os pilares suportam menos peso e acabaram, por isso, sendo esmagados. Além disso, o projeto previa 20 cm x 60 cm de dimensionamento das pilastras e de fato tem 20 cm x 40 cm. Outro ponto é que onde era para ter, pelo projeto, 16 hastes de aço, tem somente 6. É uma discrepância muito grande. E tem outros prédios no entorno sendo construídos pela mesma construtora. Já estamos olhando", alertou.
Um prédio localizado na Avenida do Canal, no bairro Nova Itaparica, em Vila Velha, apresentou risco de desmoronamento na madrugada de domingo (24). De acordo com testemunhas, que preferem não se identificar, duas vigas de sustentação do imóvel estão trincadas. Moradores e vizinhos precisaram evacuar as residências.
Segundo informações da Prefeitura de Vila Velha (PMVV), o edifício Santos II, n°2 apresenta riscos e sofreu interdição. Além dele, o prédio de trás, as casas e prédios laterais e de frente também foram interditados. A Guarda Municipal realizou isolamento total da rua, não permitindo que as pessoas entrem no prédio até autorização do engenheiro da Defesa Civil, até para também resguardar de furtos aos bens nas residências interditadas.
Era por volta da meia-noite deste domingo (24) quando moradores do prédio ouviram um grande estrondo, acompanhado de uma movimentação do edifício para baixo. O vendedor Thiago Costa, de 34 anos, havia acabado de colocar o filho de seis meses para dormir. Ele era o único acordado no apartamento.
"Quando eu botei o pé na sala, eu ouvi um barulho muito forte, como se fosse um caminhão batendo em algum lugar. No mesmo momento, eu senti como se estivesse dentro de um elevador descendo. Eu chegue até a abrir os braços", lembrou ele, que conseguiu sair só com alguns pertences do local.
De acordo com a advogada Caroline Cucco, da Santos Construtora, responsável pelo edifício, a empresa está tomando as medidas cabíveis. "Os moradores do local foram realocados em hotéis, onde está sendo oferecida alimentação", garantiu. Sobre a estrutura, ela informou que está "aguardando o laudo definitivo".
Após a publicação desta matéria, a Santos Construtora informou, por meio da advogada Caroline Cucco, que "a construtora está aguardando a conclusão oficial dos órgãos competentes. A princípio, essa informação foi passada por um próprio morador do edifício para a construtora, mas foi constatado a improcedência". O texto foi atualizado.
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