A balança de pesagem usada na fiscalização de excesso de carga em caminhões e carretas no km 250 da BR 101, próxima ao posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), na Serra, será desativada com a inauguração do Contorno do Mestre Álvaro. A reportagem de A Gazeta apurou que o projeto da obra que desafiou a engenharia no Espírito Santo não contemplou a instalação de um novo equipamento. Até a implementação de outra balança, que levará tempo, o trecho ficará sem fiscalização. Um estudo recente foi feito pela Eco101, pedindo a mudança de lugar, mas ainda não está aprovado.
O Contorno do Mestre Álvaro vai se transformar na BR 101 após a inauguração prevista para as primeiras semanas de dezembro. Com isso, o atual trecho federal que passa por dentro de bairros da Serra será municipalizado e convertido na Avenida Mestre Álvaro, fora da jurisdição federal e de suas fiscalizações.
Por conta dessa municipalização, o atual posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF) vai mudar de lugar. Um novo já foi construído no km 244, cerca de 6 quilômetros mais ao Norte em relação à atual localização, que está no km 250. No sentido Norte, a numeração dos quilômetros vai reduzindo até chegar ao zero.
A mesma mudança não ocorreu com a balança de pesagem, também localizada no km 250, a alguns metros do posto da PRF. Nas últimas semanas, a reportagem de A Gazeta foi encaminhada de um órgão a outro, em busca de informações sobre o que ocorreria com o equipamento. O primeiro contato foi feito com o Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit), responsável pelas obras do Contorno do Mestre Álvaro.
O Dnit afirmou que a balança não estava prevista no projeto da nova rodovia e orientou a reportagem a procurar a Eco101, concessionária que administra a via, pois seria dela a responsabilidade pela construção do equipamento. Após três dias, a empresa informou que não se posicionaria e recomendou a reportagem a procurar a Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).
A agência, então, confirmou que o equipamento será desativado, pois ficará no trecho a ser municipalizado. Destacou ainda que a Eco101 fez um estudo locacional e propôs a implantação de nova balança no km 224. "A proposta está atualmente em análise pela agência", destacou.
Vale ressaltar que a Eco101 decidiu devolver o contrato de concessão da BR 101 no Espírito Santo, fato que pode atrasar ainda mais a implementação da nova balança. Caso o projeto seja aprovado, a balança ficará em Fundão, a 20 quilômetros do novo posto da PRF. Os órgãos não explicaram a razão do equipamento não ficar perto do novo prédio da corporação.
Como a própria ANTT destaca, o principal objetivo da balança é a segurança do próprio caminhoneiro, além de reduzir o consumo de combustível, a deterioração do veículo, o desgaste precoce de peças e o dano ao pavimento.
A agência ressalta ainda que o excesso de peso provoca a criação das conhecidas “trilhas de rodas”, que prejudicam a segurança e controle de veículos leves, como carros de passeio e especialmente as motos.
Os veículos obrigados a adentrar às áreas destinadas à pesagem veicular são os pesados, como ônibus, micro-ônibus, caminhão, caminhão-trator, trator de rodas, trator misto, chassi-plataforma, reboque ou semirreboque e suas combinações. Portanto, apenas esses veículos estão sujeitos à infração pelo sistema não metrológico de fiscalização.
A reportagem de A Gazeta visitou as obras do Contorno do Mestre Álvaro. A construção se aproxima do final e a previsão do governo federal é inaugurar a rodovia no dia 15 de dezembro. Iniciada em maio 2019, a obra teve que superar desafios de engenharia impostos pela formação do solo do local, quase todo alagadiço como um manguezal.
Orçada em R$ 456 milhões, a nova rodovia tem extensão total de 19,7 quilômetros, dos quais 2,3 quilômetros são vias elevadas projetadas sobre as áreas de solo mole. Foi quase como construir uma nova Terceira Ponte, visto que a ligação entre Vila Velha e Vitória tem três quilômetros.
O terreno da região, no entanto, é tão instável que algumas estacas de concreto das vias elevadas chegaram a 50 metros de profundidade, o equivalente a um prédio de 16 andares.
Algumas delas ainda têm 5 metros de altura a partir do solo. Mesmo com essa dimensão, alguns pilares não chegaram em solo firme e são chamados de "flutuantes". Os engenheiros colocaram peso sobre elas e viram que a força de coesão do solo mole garante a estabilidade.
Foram usadas 5 mil estacas, o que demandou 160 mil m³ de concreto. Para fabricar tantos pilares, foi construída uma fábrica ao lado da obra, o que demandou quase 20 mil viagens de caminhão basculante. Além dos desafios de engenharia, a obra precisou ocorrer sem interromper a logística da Estrada de Ferro Vitória-Minas. Quando não havia fluxo de trens, os operários aproveitavam para construir o viaduto sobre ela.
A nova via se conecta à atual BR 101 — próximo à PBA Stones e ao Posto Cinco Estrelas — e à Rodovia do Contorno, perto do Tims, e já nasce duplicada. Serão quatro pistas, cada uma com 3,5 metros. O novo contorno passa a ser parte da BR 101 e a atual rodovia federal se tornará a Avenida Mestre Álvaro, sendo administrada pela Prefeitura da Serra.
Após a publicação da reportagem, a Eco101 informou que no trecho concessionado da BR 101 existem quatro postos de pesagem localizadas nos municípios de Linhares, Serra, Viana e Rio Novo do Sul. "Todas as unidades estão em funcionamento, 24 horas por dia, sete dias da semana", afirmou.
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