A falta de vacinas da Coronavac está preocupando quem tomou a primeira dose do imunizante contra a Covid-19 e já deveria ter recebido a segunda dose, quando só então a pessoa estará imunizada. Isso tem deixado muita gente aflita por ainda estar sujeita a quadros graves da doença.
"Eu sou idosa e hipertensa e estou trancada em casa há 14 meses, só saio para ir em médicos. Eu só preciso da segunda dose. Falta controle, organização e responsabilidade do Ministério da Saúde. Nem abraçar minha filha eu posso, fico a vendo na porta da minha casa", contou a bancária aposentada Ignez Freire, de 60 anos, que tomou a vacina no dia 10 de abril.
Ignez deveria ter recebido a outra aplicação da Coronavac no dia 8 de maio, cumprindo o intervalo máximo de 28 dias entre as doses, mas já são 12 dias sem saber quando estará em paz.
"A ansiedade para que esse dia chegue logo me faz chorar, provoca dores de cabeça, sinto como se eu estivesse perdendo a minha vez, meu direito de ser imunizada", desabafa.
O repasse de lotes do imunizante aos Estados, prometido pelo Ministério da Saúde, foi menor que o necessário para atender todo o público, além de estar acontecendo de pouco em pouco.
Soma-se a isso, a desorganização do plano nacional de imunização com o pouco que se tem da vacina. E, para completar, a falta de insumos chineses para a produção de novos lotes pelo Instituto Butantan.
A Coronavac é produzida no Brasil pelo Instituto Butantan, em São Paulo, em parceria com o laboratório farmacêutico chinês Sinovac e tem a previsão de intervalo de 14 a 28 dias entre a aplicação da primeira e da segunda doses, necessárias para que se tenha a imunização completa.
De grão em grão, ou seria de lote pequeno em lote pequeno, chegaram 99 mil doses ao Estado recentemente. Isso acalmou parte dos 152 mil moradores do Espírito Santo que aguardavam para ter a imunização completa pela Coronavac.
No meio dessa indefinição, agora são cerca de 53 mil capixabas atentos a cada lotes de Coronavac que chega ao Estado. E vale deixar a família em alerta para saber quando e onde se vacinar, que é o que acontece na casa da fisioterapeuta aposentada Eliane Radaelli, 62 anos.
"Aqui em casa estamos todos ansiosos. A data da segunda dose seria 8 de maio. Primeiro tentamos marcar, depois veio a lista feita pela prefeitura. Minha filha e eu estamos acompanhando tudo e a ansiedade só aumenta. É uma situação muito angustiante, ainda mais sem saber se ainda vai 'valer' a primeira dose. Nada disso estaria acontecendo se tivessem reservado a segunda dose", pontuou Eliane.
A reserva da segunda dose estava sendo feita pelo governo estadual desde o início da vacinação no Brasil, no final de janeiro. Porém, em março, antes de deixar o cargo de Ministro da Saúde, o general Eduardo Pazuello determinou que todas as reservas fossem utilizadas para a aplicação da primeira dose na população, garantindo que haveria doses quando chegasse o momento da segunda aplicação. Mas o final dessa história resultou em muita gente esperando sem saber quando será imunizada.
Enquanto isso, Eliane continua evitando sair de casa, indo uma vez ou outra à farmácia, se exercitando dentro de casa. Mas a aflição dela vale por dois, já que o marido, o administrador Paulo Roberto, 63, também está com o prazo vencido e precisa fazer viagens a trabalho. "Ele tenta fazer ao máximo as tarefas do trabalho por telefone, mas muitas vezes precisa viajar", conta.
Na casa do aposentado Jairo Ramos, 63 anos, a espera também é em dose dupla, já que ele e a esposa estão no aguardo da segunda dose. O casal tem uma filha que mora com eles e é profissional da saúde e já está imunizada.
"Nós estamos na expectativa de vacinas, em especial minha esposa que vacinou no dia 03 de abril. Ficamos aguardando notícias oficiais, um posicionamento de quando teremos as doses. Ninguém ligou para a gente, abrimos os sites toda hora para ver se abriu agendamento. Nem a vacina da gripe nós tomamos por precisar esperar 14 dias depois para tomar a da Covid. Por isso, estamos aguardando para quando chegar a Coronavac, que está difícil", detalhou Jairo.
Ele conta que mora em Vila Velha e que sabe agora que tem uma lista. A prefeitura explicou que esta lista contém cerca de 3 mil nomes, atualmente. Como a cidade recebeu 6 mil doses de Coronavac deve abrir uma nova relação em breve.
Outra dúvida que ajuda a causar frustração em Jairo, Eliane e Ignez é sobre o tempo de validade da primeira dose. E para essa questão, até mesmo a ciência ainda não tem uma resposta pronta.
“Em nenhum desses países (mais avançados nas pesquisas sobre as vacinas) tivemos esses problemas que estamos tendo aqui. As doses foram dadas no tempo certo. Ainda não temos uma previsão para o que está acontecendo no país. O que a gente sabe, de fato, é que a segunda dose é o que a gente chama de booster, é como se ela reforçasse a resposta imunológica a durar por mais tempo", pontuou a epidemiologista Ethel Maciel, em entrevista para A Gazeta no final de abril.
Ethel diz que a primeira dose da vacina serve, a princípio, para apresentar aquele agente infeccioso ao sistema imunológico, e que, nessa fase, a resposta do organismo ainda é baixa. A segunda dose do imunizante ajuda a reforçar a imunidade e a mantê-la por mais tempo.
A especialista explicou que, por enquanto, não há muitos dados específicos sobre o assunto. As pesquisas mais avançadas sobre a imunização são realizadas em países em que grande parte da população já recebeu a vacina, como em Israel e no Reino Unido. Nesses locais, entretanto, não houve atrasos e o que ocorre no Brasil é uma situação inédita.
Assim, não há parâmetro. Via de regra, entretanto, a imunização somente poder ser considerada completa após a segunda dose do imunizante. Ou seja, mesmo com atraso, é preciso tomar a segunda dose.
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