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Coronavírus: jovens se expõem, e negros têm mais chance de serem contaminados

Coronavírus: jovens se expõem, e negros têm mais chance de serem contaminados

Inquérito sorológico mostra que as pessoas na faixa etária de 20 à 39 anos e 40 à 59 anos são as mais infectadas

Publicado em 25 de agosto de 2020 às 18:23

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Data: 26/03/2020 - ES - Vitória - Movimento de pessoas no calçadão da Praia de Camburi durante pandemia do Covid-19
Jovens são os que mais estão se expondo ao coronavírus no Espírito Santo e, consequentemente, os mais contaminados pela Covid-19 . (Carlos Alberto Silva)

Os jovens são os que mais estão se expondo ao coronavírus no Espírito Santo e, consequentemente, estão entre os que mais testarem positivo para a Covid-19. O dado, coletado na segunda etapa do segundo inquérito sorológico da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), foi apresentado em coletiva de imprensa, nesta terça-feira (25). O estudo ainda mostrou que os negros possuem mais chances de serem contaminados no Estado. 

Durante a apresentação dos dados coletados no último inquérito sorológico, a médica infectologista Cristiana Costa Gomes apontou que, em geral, as pessoas que testaram positivo eram mais jovens que as que testaram negativo, havendo um predomínio entre pacientes na faixa etária de 20 à 39 anos e 40 à 59 anos. Os números mostraram, ainda, a menor probabilidade de testes positivos entre idosos com idades entre 80 e 104 anos.

Esses números apontam que as pessoas contaminadas pela Covid-19 são, em media, 2,7 anos mais jovens que aqueles que testaram negativo para a doença. Para o gerente estadual de Vigilância em Saúde, Orlei Cardoso, esses dados desmistificam a ideia de que a doença é representada apenas pelos idosos. 

"As pessoas mais jovens estão se infectando mais. As vezes a gente pensa muito na Covid-19 em termo do quanto de doença ela causa e a vê muito representada pela classe mais velha da população. Mas esse dado mostra algo importante: quem está se expondo mais dão os mais jovens. E se estão se expondo mais, se infectam mais e acabam sendo veículos de transmissão para os mais vulneráveis. Ou seja, não adianta proteger os mais velhos se os mais jovens estão levando a infecção para dentro de casa", alertou. 

NEGROS SÃO OS MAIS CONTAMINADOS NO ESTADO

Ainda de acordo com os dados coletados na segunda etapa do segundo inquérito sorológico, não houve diferença estatisticamente significante na proporção de positivo na comparação entre os sexos e não houve diferença estatisticamente significante quanto à escolaridade - mas há uma tendência de mais casos entre aqueles que possuem menor escolaridade. O estudo apontou, ainda, um predomínio de positivos entre pardos e pretos, com probabilidade 30% menor de uma pessoa branca testar positivo.

Vitória - ES - Coronavírus - Ponto de ônibus na avenida Jerônimo Monteiro, Centro.
A segunda etapa do segundo inquérito sorológico apontou um predomínio de positivos entre pardos e pretos. (Vitor Jubini)

Em abril de 2020, A Gazeta mostrou que negros da periferia já eram os que mais morriam por Covid-19 no Espírito Santo. As motivações para os dados podem ter relação com a maior vulnerabilidade social entre essa população. No item intitulado Deficiência das Condições de Moradia, a Síntese dos Indicadores Sociais do Espírito Santo 2018 - elaborada pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), apontou que 13,4% das pessoas autodeclaradas pretas, 11,1% das pessoas pardas e 6,3% dos brancos residentes no Estado vivem em moradias inadequadas.

O tópico engloba domicílios excessivamente adensados, quem têm ônus excessivo com aluguel e vive em moradias com paredes externas de materiais não duráveis. Os domicílios excessivamente adensados são configurados quando três ou mais pessoas dormem em um mesmo cômodo. O ônus excessivo com aluguel é considerado quando a família gasta 30% do orçamento mensal com o pagamento da habitação. Paredes de material não duráveis são aquelas construídas com papelão e madeiras não aparelhadas.

Na ocasião, o médico infectologista Crispim Cerutti Junior, citou que o fato da mortalidade ser maior entre os negros pode estar relacionada, em um primeiro momento, ao fato da população capixaba ser composta pela maioria de pretos e pardos. Neste entendimento, ele também que frisa que os negros são os mais desfavorecidos socialmente. "Uma marca das doenças infecciosas em geral, particularmente, da Covid-19, é que elas transmitem melhor nos ambientes de moradias mais inadequadas. O acesso aos serviços de saúde é uma possibilidade também", explicou, na época.

Em julho de 2020, quando o Espírito Santo ultrapassou a marca de mais de 2 mil mortes por Covid-19. Os dados revelaram, mais uma vez, que a doença estava alcançando com mais voracidade a população negra, na época correspondendo a 42% dos óbitos

Uma boa parte destas mortes ocorreu nos bairros de periferia da Região Metropolitana, como Planalto Serrano, Feu Rosa, Novo Horizonte e Vila Nova de Colares, na Serra; e Itararé, Maria Ortiz Santa Martha, Nova Palestina, em Vitória. Locais de grandes aglomerados urbanos, como observou a professora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), Maria Helena Elpídio, membro da Unidade Negra Capixaba (UNC), na ocasião. 

“Há uma banalização quando a morte chega às periferias, onde fica o silêncio, onde não se tem acesso a políticas públicas, onde não é ouvida a voz destas pessoas, que enfrentam dificuldade para fazer isolamento, para obter o auxílio emergencial porque não contam com internet para fazer a solicitação, com transporte público lotado”, destacou. 

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