Além do Sistema Único de Saúde (SUS), a ciência também tem ganhado destaque. Como ainda não há tratamento com um medicamento específico contra à Covid-19, toda a atenção está voltada ao desenvolvimento de uma vacina que crie anticorpos para impedir a evolução do coronavírus no organismo humano. No Estado, pesquisas da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) estão presentes na produção de frutas como o mamão; do café, cultivado nos diversos municípios capixabas; no asfalto usado em obras de pavimentação e até mesmo em como se dá a sincronização dos semáforos da Grande Vitória.
Para o secretário de Estado da Saúde, Nésio Fernandes, como gestor e médico, o momento atual permite que um conjunto da sociedade em todo o mundo, sobretudo no Brasil, reavalie questões que eram dilemas como o fortalecimento do SUS, o financiamento de pesquisas e a manutenção de investimentos para melhorar a oferta de serviços públicos de saúde.
A pós-doutora em Epidemiologia e professora da Ufes, Ethel Maciel, é outra defensora de um SUS cada vez mais equipado e capaz de oferecer serviços à população com melhor qualidade. Ela destacou que em países desenvolvidos, como Alemanha e Inglaterra, a pesquisa é valorizada, até mesmo como alternativa viável para movimentar a cadeia econômica nacional.
Antes da pandemia, a Alemanha anunciou milhões de euros de investimentos em pesquisas. Os orçamentos de vários países em desenvolvimento funcionam assim. Eles já entenderam que se você investe em pesquisa, acaba movimentando a economia porque descobre novas vacinas, novos medicamentos e até mesmo equipamentos. Tudo isso gera patente e move a economia, explicou.
Na avaliação dela, os investimentos públicos nesse setor são mais importantes que os aportes privados. A indústria farmacêutica, por exemplo, não vai querer investir em algo que talvez não dê em nada. Então o investimento público é importante porque, por exemplo, eu estou investigando 40 produtos. Digamos que sejam compostos de planta, talvez um apresente um resultado promissor. O que acontece em geral nos países desenvolvidos é que você tem o financiamento público para a pesquisa básica, que não é aplicada, que tem estudos em laboratório. Essas pesquisas geram patentes.
Como exemplo prático, Ethel citou que um grupo de pesquisadores da Ufes criou uma câmara com lâmpadas que geram radiação ultravioleta capaz de destruir microorganismos, inclusive o novo coronavírus. O primeiro protótipo, batizado de Covidkiller, já está sendo utilizado na desinfecção de equipamentos hospitalares recebidos para manutenção no Centro Tecnológico.
Essa criação tem características de ser transformada em um produto, mas a Ufes não tem capacidade de produção desse nível, teria que ter a participação da indústria para poder fazer esse investimento. Ali já passamos da fase da descoberta, estamos na parte da aplicação. A gente tem isso muito pouco, a gente não consegue avançar até que vire um produto para ser comercializado. Esse caminho é incipiente no Brasil, declarou.
A pesquisadora também faz um mea-culpa. Sem identificar canais de comunicação eficazes entre a população e o mundo das descobertas, Ethel enxerga o momento para destacar a importância da pesquisa e da ciência no cotidiano da sociedade. De acordo com ela, as produções acadêmicas sempre ficaram muito restritas ao universo científico das publicações de artigos em revistas e sites específicos sobre o tema.
Agora há um momento de valorização da ciência, mas ela precisa ser efetivada em recursos. Fazer ciência é caro e é importante que essa valorização se efetive em maiores investimentos. A gente tem no Brasil uma qualificação muito grande de pesquisadores, mas tem pouco investimento neles. Acaba que as pessoas saem, tentam buscar financiamento fora e aquilo que você faz acaba sendo produto ou patente para outro país, revelou.
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