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Corporação investiga participação de bombeiros em sociedade de tirolesa no Moreno

Corporação investiga participação de bombeiros em sociedade de tirolesa no Moreno

Dois cabos do Corpo de Bombeiros são sócios da empresa que administra a tirolesa no Morro do Moreno. Eles serão investigados por um sindicância, que tem prazo de 30 dias para ser concluída

Publicado em 4 de maio de 2021 às 10:19

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Crea - ES realiza vistoria nas bases da tirolesa do Morro do Moreno, em Vila Velha, para apurar acidente que causou a morte do engenheiro João Paulo Sampaio dos Reis
Crea realiza vistoria na tirolesa do Morro do Moreno. (Fernando Madeira)

O Corpo de Bombeiros vai investigar a participação de dois cabos da corporação na sociedade da empresa responsável pela tirolesa do Morro do Moreno, em Vila VelhaUm acidente no local, no último sábado (1º), provocou a morte do engenheiro João Paulo Moreira dos Reis, de 47 anos. 

Inicialmente a informação era de que apenas um cabo do Corpo de Bombeiros era sócio da empresa. Mas as investigações mostraram que um outro militar da corporação também faz parte do negócio. Os dois serão investigados por um sindicância, que tem prazo de 30 dias para ser concluída. 

"Durante as primeiras investigações que fizemos, descobrimos que não é apenas um cabo, mais dois cabos do Corpo de Bombeiros são sócios da empresa. Eles exercem a função de sócio cotista, que é permitido pela lei", afirmou o tenente-coronel Scalfoni.

LEI PERMITE SOCIEDADE

Uma lei estadual permite que Bombeiros sejam sócios em empresas privadas, desde que na condição de cotistas. No entanto, não é permitido que eles atuem na administração ou gerência da sociedade.  

Art. 29

Ao militar da ativa é vedado comercializar ou tomar parte na administração ou gerência de sociedade ou dela ser sócio ou participar, exceto como acionista ou cotista, em sociedade anônima ou por cotas de responsabilidade limitada.

"O cotista é a pessoa que entra somente com a parte financeira. Ele não participa da administração, da gerência da empresa. O contrato social reza isso daí. Participa apenas financeiramente e fazem parte dos lucros da empresa. Até então está tudo legal", explicou o tenente-coronel do Corpo de bombeiros.

Aspas de citação

É uma sindicância meramente investigativa. Não é um processo, eles serão investigados. Nós temos um prazo de 30 dias para chegar a uma conclusão. Estamos avaliando como é a participação societária desses bombeiros militares e como tudo aconteceu em relação a parte deles, e não o acidente em si. O acidente compete à Polícia Civil

Tenente-coronel Scalfoni
Corpo de Bombeiros
Aspas de citação

UM DOS SÓCIOS NÃO TERIA ENTREGADO MATERIAL À POLÍCIA

Um dos bombeiros, sócio do empreendimento, estava no Morro do Morno no momento do acidente. De acordo com o boletim de ocorrência da Polícia Militar, ele teria se recusado a entregar aos policiais o material que sustentava o corpo do engenheiro João Paulo Moreira dos Reis. 

"Quando os militares da Força Tática chegaram no local, observaram que o indivíduo morto, apesar do acidente na tirolesa, não se encontrava com nenhum equipamento referente à prática do esporte, tipo capacete e cintas. O responsável pela tirolesa, que é Cabo do Corpo de Bombeiros, informou que fora ele a colocar o acidentado na plataforma e que no local do acidente havia removido o material do corpo do indivíduo. Foi solicitado que ele apresentasse o material retirado, porém ele se recusou a apresentar", diz o Boletim de ocorrência da PM.

De acordo com o tenente-coronel Scalfoni, o material não foi entregue à polícia, e nem mesmo à equipe do Corpo de Bombeiros que estava no local para ajudar nos trabalhos de remoção e resgate.

"Tivemos que ir com quatro viaturas. Onze militares foram escalados para ir até o local, que prestaram todo o apoio. Quando os Bombeiros chegaram ao local, a vítima já estava sem esses equipamentos. Não foi entregue nem aos bombeiros, nem à polícia. Quando chegamos lá, a vítima já estava na parte de baixo. Não conseguimos nem visualizar esses equipamentos, a vítima já estava sem eles. Cabe ao cabo que não quis apresentar o material, que ele preste esclarecimentos à Polícia Civil que está fazendo as investigações", disse o tenente-coronel em entrevista à TV Gazeta.

EMPRESA NEGA TER SE RECUSAO A ENTREGAR MATERIAL

Na tarde desta segunda-feira (3), a empresa responsável pela tirolesa enviou uma nota à reportagem de A Gazeta. No documento, a empresa afirma está de luto e  nega que houve alteração da cena da ocorrência. "Em momento nenhum foi negado a entrega do material que compõe o equipamento de descida da tirolesa", diz parte do texto. Veja abaixo na íntegra.

Prestamos total solidariedade à família, estamos todos de luto.

Estamos aguardando o resultado da perícia para sabermos tecnicamente o que de fato aconteceu, pois todos os procedimentos de prevenção são tomados durante a operação de ancoragem e descida até o destino final com segurança, tanto que em quase 2 anos nenhum incidente aconteceu. Todos os equipamentos de proteção individual para atividade são regulamentados por normas internacionais, devidamente certificados com CE – Certificação Europeia, e UIAA, que é uma certificação que outorga ao equipamento de montanhismo, escalada, alpinismo, rapel, e tirolesa, o cumprimento de normas de segurança internacional.

Nossos instrutores passam por um treinamento de operação dado pelo engenheiro responsável pela implantação da tirolesa, conhecedor das normas da ABNT, e a tirolesa nos dias de funcionamento é avaliada por um grupo de gestão em segurança com vídeo dos conectores, lacres, que conectam no tracionamento de sustentação e ancoragem ao sistema da tirolesa, desde o backup da ancoragem de engate, até o sistema de acionamento de freios.

O senhor João Paulo foi até a tirolesa com uma filha e uma amiga da filha, de forma que a filha de aproximadamente 14 anos desceu primeiro, participando da atividade com total segurança e tranquilidade, demonstrando o bom funcionamento da tirolesa, logo em seguida desceu a amiga, também de aproximadamente 14 anos, que também atestou a segurança e tranquilidade da atividade e do sistema, mas fatalmente ocorreu o infortúnio com o Senhor João Paulo, e muito embora as menores atestaram a segurança do sistema, pois desceram logo antes do Sr. João Paulo com segurança e tranquilidade, infelizmente algum fortuito ocorreu durante a descida do Senhor João Paulo.

Os sócios e organizadores da tirolesa estão muito abalados, sofrendo muito com o ocorrido, e prestam os presentes esclarecimentos, inclusive já estão sendo realizados todos os procedimentos para o contato com a família do Senhor João Paulo, prestando as condolências, bem como apresentando a apólice de seguro que cobre acidentes pessoais e óbitos, seguro este obrigatório como condicionante para o funcionamento da atividade esportiva.

Foi realizado todo o procedimento de RCP – massagem torácica cárdio respiratória, e APH – Atendimento Pré Hospitalar, uma vez que nossos instrutores são treinados para tais procedimentos, eis que foi retirado o equipamento da tirolesa, cadeirinha de descida e equipamento de EPI do Sr. João Paulo, para facilitar o procedimento pré-hospitalar RCP, APH e outros procedimentos técnicos visando desobstruir as vias respiratórias.

Em nenhum momento houve alteração da cena da ocorrência, mas sim, foram feitos os procedimentos protocolares visando resgatar e preservar os sinais vitais até a chegada do socorro acionado.

Em momento nenhum foi negado a entrega do material que compõe o equipamento de descida da tirolesa, que envolve todo equipamento de proteção individual, pois a todo o momento a preocupação sempre foi com o resgate e preservação dos sinais vitais do Sr. João Paulo, até a chegada do socorro acionado. Foi acionado o grupamento aéreo, o SAMU, Bombeiros, para o resgate. Todas as condolências são prestadas à família do Sr. João Paulo.

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