A chegada de dezembro e o anúncio do Natal evidenciam os sentimentos de partilha e confraternização. Para os pequenos, é a chance de ganhar aquele tão sonhado brinquedo. Mas na vida da costureira Francisca Monteiro Alves, de 69 anos, conhecida como Chiquita, moradora de Santana, em Cariacica, Grande Vitória, esta reta final do ano nunca foi sinônimo de muitos presentes. Tentando fazer com que a infância de outras pessoas seja diferente, ela restaura bonecas e torna viva a alegria do Natal em muitas crianças.
Em meio às atividades do dia a dia, Chiquita sempre pega um tempinho para restaurar uma boneca ou outra. Costura daqui, tira a mancha dali e lá se vai um ano inteiro dedicado a buscar a felicidade das crianças.
Em 2021, entre ursos e bonecas, Chiquita já restaurou 286 peças, o maior número desde que começou com a ação. No ano anterior, foram 281. O tecido para o restauro vem de amigos e faz parte da preocupação de Chiquita na produção das peças.
“Gosto de fazer o aviamento bom, para durar mais tempo, não coloco botões, porque tenho medo das crianças arrancarem, é perigoso”, conta.
As bonecas muito grandes e que não são tão adequadas para crianças pequenas são vendidas e a costureira reverte o dinheiro em bombons. Assim, consegue presentear ainda mais crianças no Natal.
As bonecas restauradas são distribuídas para várias cidades capixabas. Ela recebe o contato de assistentes sociais e distribui até no ponto de ônibus na frente de casa. “Eu vou distribuindo elas, não ficou com nenhuma. Baixo Guandu, aqui em Cariacica, Vila Velha…”, ressalta.
Independentemente do destino, cada boneca restaurada guarda o carinho e a dedicação de Chiquita e garante o sorriso de muitas crianças. “Eu fico mais feliz do que as crianças, de ver a alegria delas, o importante é comemorar o Natal, Jesus. Ver a criança ganhando um presente é felicidade demais”, finaliza.
A única boneca que Chiquita ganhou na infância era compartilhada com todos os seus irmãos. Acabou ficando muito suja. Quando ela a levou para lavar no córrego, a boneca acabou se desfazendo.
“Era uma boneca rosa, pesada, troncuda e como lá em casa ninguém tinha muito brinquedo, todo mundo queria pegar um pouquinho e sujou muito ela”, relembra.
"Eu fui lavar ela e ela foi desmanchando, aquela massa rosa, até que chegou no jornal e acabou a boneca, depois disso nunca mais. Com 11 para 12 anos, logo fui trabalhar de babá e ajudar em casa", completa.
Chiquita conta que sempre teve paixão por bonecas, mas nunca conseguia comprar. A infância passou rapidamente e logo chegou a hora de começar a trabalhar para ajudar a família. Na casa onde trabalhava, a patroa pediu para que ela também passasse a costurar e, desde então, ela foi reunindo retalhos.
Há seis anos, a costureira uniu a profissão à solidariedade. Com a aposentadoria próxima, Chiquita pensava em dedicar o tempo livre a ajudar igrejas ou alguma entidade social.
Conversando com uma amiga e preocupada como tinha sido o Natal da comunidade de Graúna, também em Cariacica, ficou sabendo que o irmão da colega havia conseguido umas bonecas usadas. Elas foram limpas e entregues às crianças. A partir daí, Chiquita teve uma ideia semelhante.
“Eu imaginei: já que pode ser uma coisa usada, eu vou fazer umas bonecas. Achei umas 18 e restaurei. Aí foi crescendo. Hoje, onde vejo, eu pego, trago para casa e arrumo. Já ando com uma sacolinha dentro da minha bolsa”, explica.
Moradora de Santana há 44 anos, o trabalho de Chiquita ficou tão conhecido que tem sido comum a costureira sair no portão de casa e encontrar bonecas deixadas para que ela restaure. “Um dia tinha um saco cheio de bonecas aqui”, conta rindo.
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