O coveiro de um cemitério municipal de Cariacica, no Espírito Santo, se recusou a carregar o caixão com uma vítima do novo coronavírus nesta quarta-feira (13). Toda a situação foi gravada e revoltou os familiares. A prefeitura informou que instaurou um processo administrativo sobre o comportamento do servidor.
No caixão, estava o corpo de José Inácio da Silva Filho, que tinha 39 anos e era taxista. A família conta que ele se recuperava em casa da terceira cirurgia de tumor no cérebro quando teve febre e foi novamente hospitalizado.
No Hospital Doutor Jayme Santos Neves, na Serra, José Inácio testou positivo para o novo coronavírus. Ele chegou a ser entubado, mas não resistiu e morreu nesta quarta-feira (13). O atestado de óbito aponta falência respiratória, Covid-19 e neoplasia maligna de encéfalo como as causas da morte.
De acordo com o irmão da vítima, o soldador Marílio Mendonça da Silva, o funcionário da funerária que levou o caixão até o cemitério foi informado, logo que chegou, da recusa dos coveiros em fazer o trabalho.
"Quando estávamos saindo para ir ao enterro, o funcionário da funerária ligou dizendo que os coveiros estavam se recusando a pegar o caixão. Quando chegamos lá, todos estavam se recusando a enterrar", contou.
Após a família ameaçar chamar a polícia, dois dos coveiros concordaram em fazer o serviço. Já o terceiro manteve a negativa e deixou o local. Todos estavam equipados com roupas e equipamentos de proteção individual (EPIs).
"Eles (os coveiros0 estavam equipados, e nós não. Eles estavam com o equipamento de proteção completo, como profissionais da saúde usam. Mesmo assim, eles se recusaram (a fazer o enterro)".
Diante da situação, o funcionário da funerária e um familiar tiveram que ajudar a colocar o caixão na cova. "Meu outro irmão que teve que ajudar a descer o corpo e pegou nos ferros para colocar na cova", disse Marílio.
Para o soldador, a situação foi constrangedora. "Além da dor de não poder abrir o caixão pela última vez, o constrangimento. Já estávamos nervosos com a situação e ainda passamos por isso", lamentou.
Agora, a família cobra uma punição ao trabalhador que se recusou a fazer o enterro. Pedir desculpa não vai fazer diferença, não vai tirar minha dor. Queremos uma resposta para a população, disse Marílio.
Um dos coveiros que acabou concordando em levar o caixão até a cova desabafou durante a situação. No vídeo feito pela família da vítima, ele aparece contando que a Prefeitura de Cariacica não tem dado condições de trabalho aos profissionais da área.
Ainda de acordo com o relato dele, o outro coveiro que ajudou a carregar o caixão pertence ao grupo de risco, mas está trabalhando.
"Vocês estão em um momento tenso, também estamos, porque é muito sepultamento e a prefeitura não dá condição nenhuma de trabalho a nós. Eles falaram que tinha quatro coveiros (por dia), aqui só tem dois. Hoje que ele veio, ele é do grupo de risco, toma remédio controlado. Prefeitura não está nem aí para nós", disse.
A Secretaria Municipal de Serviços de Cariacica informou, por nota, que vai abrir um processo administrativo a respeito do comportamento do profissional sepultador em questão e tomará as medidas cabíveis, a partir da denúncia feita pela família.
A secretaria classificou o comportamento do coveiro como "inaceitável". A secretaria lamentou "que a família passe por tal constrangimento em um momento tão triste e delicado e pede desculpas pela atitude desrespeitosa".
Informou, ainda, que desde o final do mês de março os 21 coveiros de todos os oito cemitérios administrados pela Prefeitura de Cariacica receberam equipamentos de proteção individual (EPIs), composto de macacão protetor de corpo inteiro na cor branca, máscara facial e luvas para realizar a sua função.
Ainda segundo a Prefeitura, nenhum sepultador do cemitério Jardim da Saudade apresentou laudo médico justificando pedido de afastamento por pertença ao grupo de risco e comorbidade para a Covid-19.
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