Uma análise dos dados divulgados pelo Governo do Estado apontou que os negros que moram nas periferias do Espírito Santo são os que mais morrem pela Covid-19, doença provocada pelo novo coronavírus. Após a publicação dos índices estaduais em reportagem em A Gazeta, o Movimento Negro e a Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim-ES) cobraram ações da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa) e da Assembleia Legislativa do Espírito Santo (Ales).
Até a noite de segunda-feira (27), 63 pessoas morreram após terem sido infectadas. Desse total de vítimas, 55,5% (35) eram homens e 44,4% (28) mulheres. Quando se faz o recorte de raça/cor, o índice de mortalidade entre os negros era de 42,8%, dos brancos 19% e dos amarelos ( de origem oriental) é de 7,9%. De acordo com o Painel Covid-19, não havia informação sobre a raça de 30,1% dos mortos. Nesta quarta-feira (29), o Estado passou a registrar 83 mortes.
A Comissão de Igualdade Racial da Abracrim-ES, presidida pelo advogado Marcos Vinicius Sá, encaminhou um ofício à presidência da Assembleia visando a criação de projetos e mecanismos que visem tutelar a população periférica. À Sesa, o documento solicita melhor mapeamento dos casos confirmados a partir do recorte racial.
Alegando preocupação com as medidas de flexibilização, como o funcionamento do comércio, e consequente afrouxamento das medidas restritivas, o Movimento Negro capixaba emitiu uma nota de repúdio ao Poder Executivo estadual.
Os dados apontam que somos nós, negras e negros, que mais estamos expostos ao risco de morte, pois mesmo com a decisão do isolamento social não conseguimos sustentar nossas famílias sem recursos financeiros e não existe uma política que permita ao nosso povo se manter em casa, afirma um trecho da nota.
O Movimento Negro informou que protocolou um ofício ao governador Renato Casagrande no dia 14 de abril solicitando que sejam disponibilizados os dados de óbitos e infectados pela Covid-19 com a identificação racial, além da criação de um canal permanente de interlocução com o Comitê de Operações Emergenciais (COE).
Exigimos que o governador revogue o decreto de reabertura do comércio; que desenvolva medidas para garantir efetivamente assistência às pessoas que estão passando por necessidade e que dialogue com todos os segmentos sociais para tomada de futuras decisões sobre as medidas de flexibilização de circulação de pessoas, concluiu.
QUEM ASSINOU O DOCUMENTO DO MOVIMENTO NEGRO
A Secretaria da Presidência da Assembleia Legislativa informou que ainda não recebeu o documento encaminhado pela Associação Brasileira dos Advogados Criminalistas (Abracrim-ES). O Governo do Estado também foi questionado quanto ao conteúdo dos ofícios e em relação à forma que pretende abordar a temática. Até a conclusão do texto, nesta quarta-feira, a reposta ainda não havia sido enviada.
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