Suspensão de diversos serviços e atividades, e determinação de toque de recolher. Para conter o avanço da pandemia do novo coronavírus, os municípios de Barra de São Francisco, Água do Doce do Norte e São Gabriel da Palha definiram uma série de medidas ainda mais rígidas que as ações impostas pelo governo do Estado durante a vigência da 'quarentena' de 14 dias.
As medidas têm características próximas de um lockdown, já que serviços essenciais foram fechados, e a livre circulação impedida em parte do dia.
O médico infectologista e professor universitário Lauro Ferreira Pinto avaliou que as medidas adotadas pelos municípios representam um "ato de coragem" necessário para enfrentar o cenário da pandemia vivido no Espírito Santo. No entendimento do especialista, é preciso reforçar o controle de circulação das pessoas, o uso de máscara e distanciamento social.
De acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), Barra de São Francisco é considerado um dos epicentros da variante mais contagiosa e letal do vírus no Espírito Santo. Neste aspecto, a outra cidade é Piúma, no litoral do Sul do Estado.
De acordo com a Sesa, a variante B1.1.7, descoberta no Reino Unido, em setembro do ano passado, possui uma taxa de infecciosidade que pode chegar até 90%. O risco dela levar o contaminado a óbito é 62% maior que das demais variantes.
Segundo o Painel Covid-19, ferramenta do governo do Estado, o município possui 45 mil habitantes. De março do ano passado até o momento, registrou 2.875 casos de infecção pelo novo coronavírus. Desse total, 90 pessoas morreram. No município, a taxa de letalidade é de 3,1%, acima da média no Estado, que está em 1,9%
Ainda de acordo com dados do sistema, mesmo faltando sete dias para março de 2021 acabar, o número de casos do novo coronavírus no mês já é o maior desde o início da pandemia em Barra de São Francisco, com 523 registros. Em fevereiro, foram 275 pacientes confirmados com a doença no município.
Na terceira fase de expansão da Covid-19 no Estado, o dia em que Barra de São Francisco registrou o maior número de casos foi 17 de março, quando foram computados 53 novas infecções pelo vírus. Por causa do avanço da doença, o Executivo municipal publicou o Decreto nº 045-A/2021 declarando “Situação de Calamidade e Emergência em Saúde Pública".
De acordo com o documento, farmácias e supermercados só podem funcionar em sistema de delivery e está proibida a circulação nas ruas entre 20h e 6h. Nestes estabelecimentos, está proibida a abertura parcial de portas, portões e afins, bem como o atendimento ao público externo no interior, com ou sem horário marcado, e na porta do estabelecimento.
O município de Água Doce de Norte possui 11 mil habitantes, segundo a Sesa. De março do ano passado até o momento, a cidade registrou 584 diagnósticos positivos para Covid-19. Desse total, 26 pessoas morreram. No município, a taxa de letalidade é 4,5%. Até esta quarta-feira (24) 88 pessoas foram contaminadas pelo vírus em março. Em fevereiro, foram 26. Em janeiro, 48.
Na terceira fase de expansão da Covid-19 no Espírito Santo, foi nos dias 12 e 19 de março que o município registrou o maior número de casos neste ano: 11 pacientes confirmados com Covid-19. Assim como em Barra de São Francisco, o Executivo municipal decretou restrições ainda mais rígidas do que as da quarentena determinada pelo governo do Estado.
A partir desta quarta-feira (24), e durante cinco dias, fica suspenso todo o transporte coletivo e determinado toque de recolher nas ruas da cidade, das 20h às 6h. No Decreto nº 133/2021, a administração municipal considera a proximidade com Barra de São Francisco, o fato de o município ser epicentro da variante, e a situação atual do Hospital Estadual Dr. Alceu Melgaço Filho, localizado na cidade como motivos para declarar Situação de Calamidade e Emergência em Saúde Pública.
Os decretos nos dois municípios restringem o funcionamento do comércio e determinam o toque de recolher. Água Doce do Norte, no entanto, também suspende o transporte coletivo no município, diferente do que acontece em Barra de São Francisco.
O município de São Gabriel da Palha possui 39 mil habitantes, segundo a Sesa. De março do ano passado até o momento, a cidade registrou 4.343 casos positivos. Desse total, 48 pessoas perderam a vida. No município, a taxa de letalidade é 1,1%. Até esta quarta-feira (24) 657 pessoas foram contaminadas pelo vírus somente no mês de março. Em fevereiro, foram 484. Em janeiro, 463.
Na terceira fase de expansão da Covid-19 no Espírito Santo, foi nos dias 15 e 22 de março que o município registrou o maior número de casos neste ano: 56 pacientes confirmados com Covid-19 em ambas as datas.
No Decreto nº 2.118, a prefeitura considera a proximidade com Barra de São Francisco e o aumento de casos no município para tomar as medidas. Além disso, o documento considera a ocupação de leitos acima de 90% no Estado.
Segundo o decreto, a partir desta quarta-feira (24) passa a vigorar um toque de recolher nas ruas da cidade, das 20h às 6h. Além disso, todos os setores do comércio permanecerão fechados, com supermercados e farmácias podendo funcionar apenas em sistema delivery.
Para explicar melhor a diferença entre lockdown e quarentena, a médica infectologista Rubia Miossi utiliza três conceitos que vêm sendo oficialmente adotados. Eles são, em ordem de menor para maior isolamento imposto: distanciamento social seletivo, distanciamento social ampliado (quarentena) e bloqueio total, ou lockdown em inglês.
Distanciamento social seletivo: ficam em casa os grupos sociais com maior risco de adoecimento grave, com maior risco de morte, bem como as pessoas que tiveram exames positivos para a Covid-19. Estas pessoas ficam em isolamento domiciliar por 14 dias, caso não precisem ser internadas.
Distanciamento social ampliado: é o que mais se aproxima da "quarentena" implementada no Espírito Santo pelo governador Renato Casagrande. A recomendação é que todas as pessoas fiquem em casa, não só quem tenha testado positivo para a doença. Só saem de casa quem precisa trabalhar nas áreas consideradas essenciais.
Bloqueio total ou lockdown: consiste em fechar tudo, inclusive serviços essenciais, mantendo abertos apenas farmácias, supermercados e hospitais. Há, neste caso, necessidade de autorização, muitas vezes por parte das autoridades policiais, para sair de casa. "É como em um toque de recolher. Já é bem mais extremo, para quando o número de casos está descontrolado e o sistema de saúde já não dá conta. Serve para tentar parar a evolução da pandemia", afirma Rúbia.
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