O Espírito Santo chegou a 9 mil mortes causadas pelo novo coronavírus nesta quinta-feira (22) – exatamente duas semanas depois de ter atingido as 8 mil vidas perdidas. Isso significa que bastaram 14 dias para que mil pessoas morressem em decorrência da pandemia, apenas em território capixaba. Um recorde.
Anteriormente, o menor intervalo tinha sido de 16 dias, justamente o tempo levado para sair de 7 mil óbitos em março e alcançar os 8 mil, no início de abril. Em ambos os casos, é como se a velocidade com que as mortes ocorrem tivesse dobrado em relação ao período mais crítico até então, quando o Estado passou de 1 mil (em junho) para 2 mil (em julho), após 29 dias.
• 1 mil mortes: em 13 de junho, com 100 dias de pandemia
• 2 mil mortes: em 12 de julho, com mais 29 dias
• 3 mil mortes: em 21 de agosto, com mais 40 dias
• 4 mil mortes: em 15 de novembro, com mais 86 dias
• 5 mil mortes: em 29 de dezembro, com mais 44 dias
• 6 mil mortes: em 8 de fevereiro, com mais 41 dias
• 7 mil mortes: em 23 de março, com mais 44 dias
• 8 mil mortes: em 8 de abril, com mais 16 dias
• 9 mil mortes: em 22 de abril, com mais 14 dias de pandemia
Estudos feitos pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) já apontavam que esse recorde poderia ser batido neste mês, se o pior cenário vislumbrado para esta terceira onda se concretizasse. Para a projeção foram considerados vários indicadores, como a média móvel de mortes de 14 dias e a taxa de transmissão.
Diretor-presidente do IJSN, o pesquisador Pablo Lira explicou que o agravamento aconteceu principalmente por uma parte significativa da população não ter respeitado as medidas de distanciamento social, como o uso da máscara. "Também vimos muitas pessoas jovens promovendo aglomerações", comentou.
Além disso, a sazonalidade das doenças respiratórias e as novas variantes contribuíram para a disseminação da Covid-19. No Estado, por exemplo, a cepa britânica (B1) se tornou a predominante, e estudos internacionais mostraram que ela era até 90% mais contagiosa e 62% mais letal que outras.
Juntos, todos esses fatores nos levaram à triste marca desta quinta-feira (22) e ao pior mês de toda a pandemia. Mesmo a oito dias do fim, abril já contabiliza 1.511 mortes. O número, embora parcial, é 37% maior que o total divulgado em março e representa 500 mortes a mais que as do primeiro pico, em junho do ano passado.
Para o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto, a grave situação atual já era esperada, diante de um "caldeirão de desacertos". "É uma sucessão de causas: uma crise sanitária sem precedentes, muita indisciplina no comportamento e uso de máscara e um estilo de vida difícil de criar mecanismos de distanciamento (com superlotação nos transportes, por exemplo)", disse.
Para ele, o cenário continuará sendo duro neste primeiro semestre. "Até termos uma imunização efetiva, vamos ter novas ondas. Basta ter mais gente se expondo. Se vai ser mais ou menos violenta que agora, depende de vários fatores, como a velocidade da vacinação, o nível de relaxamento das medidas e a saturação do serviço de saúde", afirmou.
Nesta semana, o Espírito Santo também bateu outros dois recordes: na segunda-feira (19), chegou a 964 pessoas internadas em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI) na rede pública; e, na terça-feira (20), teve 116 mortes em apenas 24 horas, se consideradas as atualizações diárias do Painel Covid-19.
Apesar disso, o secretário de saúde Nésio Fernandes afirmou que o número de casos já está em queda e que as internações entraram em uma fase de estabilidade. Consequentemente, uma redução na taxa de ocupação das UTIs e nos óbitos deve ser percebida entre o final deste mês e o início de maio.
Isso, porém, não significa que a pandemia terá acabado. "Por não termos alcançado uma imunidade coletiva por meio da vacinação, é possível que, ao longo do segundo quadrimestre (entre maio e agosto), o Estado possa viver uma nova expansão", alertou, na última coletiva on-line, realizada na segunda-feira (19).
Ou seja, apesar do cansaço, ainda é preciso – mais do que nunca – permanecer em casa quando possível, usar máscara de alto poder filtrante (de preferência), higienizar as mãos e respeitar as restrições sociais e econômicas previstas na matriz de risco do Estado. Atualmente, 30 municípios estão no risco extremo.
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