O Núcleo Interinstitucional de Estudos Epidemiológicos (NIEE), que reúne mestres e doutores da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes) e do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN), analisou os dados da Covid-19 no Estado e constatou redução no número de mortes da população com mais de 80 anos após o início da vacinação.
As primeiras observações sobre os efeitos da imunização nessa faixa etária foram organizadas em uma nota técnica, que estabelece uma relação da vacina com a diminuição das mortes provocadas pela Covid-19 no Espírito Santo, e foi publicada nesta terça-feira (20). Alguns dados já haviam sido antecipados pela coluna de Leonel Ximenes no mês passado.
Pablo Lira, diretor de integração do IJSN e membro do núcleo, disse que, antes da vacinação, a população de 80 a 90 anos respondia por cerca de 22% dos óbitos decorrentes da Covid-19. A partir da imunização, esse índice caiu para 13%. Situação semelhante foi observada entre o público com mais de 90, que representava quase 8% das mortes e passou para 3,55%.
"Vale ressaltar que estamos avaliando o efeito da vacina em março, quando muitos só tinham tomado a primeira dose, ou seja, não estavam com o esquema vacinal completo", pontuou.
Para o estudo, foram examinadas informações do Painel Covid-19 - ferramenta do governo do Estado com indicadores sobre a doença atualizados diariamente. Os dados foram coletados no último dia 8 de junho.
Na metodologia aplicada para a análise, foram considerados todos os registros de casos confirmados, e a data de notificação foi estabelecida como referência para calcular a frequência dos infectados e dos óbitos.
Para observar o possível impacto da vacina, o NIEE utilizou gráficos com a distribuição por faixas etárias dos infectados e dos óbitos, comparando os efeitos antes e após o dia 1º de março de 2021, momento em que a população acima de 80 anos já havia começado a ser vacinada.
No Espírito Santo, a vacinação dos primeiros grupos de idosos — prioritário pelo maior risco de morte em caso de infecção — ocorreu da seguinte forma: em 4 de fevereiro, iniciou-se a imunização das pessoas com mais de 90 anos; em 17 de fevereiro, entre 85 e 89 anos; e, em 25 daquele mês, entre 80 e 84 anos.
Na nota técnica, os pesquisadores explicam que, devido à necessidade da aplicação de duas doses de todas as vacinas contra o Sars-Cov-2 (coronavírus) adquiridas pelo Brasil até o momento do estudo — a Janssen, de dose única, só chegou em 23 de junho — e o tempo até que os imunizantes façam efeito, os resultados nas estatísticas sobre a doença não são imediatos. Por esse motivo, o documento visa observar os dados referentes apenas à população acima de 80 anos e verificar possíveis resultados da vacinação nessa faixa etária.
Ao comparar a frequência de óbitos por faixa etária, usando o dia 1º de março como referência, observou-se uma queda significativa na incidência de mortes entre o público de 80-90 anos (44%) e acima de 90 anos (55%). O estudo aponta que o tamanho da redução é proporcional ao tempo decorrido desde o início da imunização no respectivo grupo.
Para Pablo Lira, muitas mortes poderiam ter sido evitadas se o governo federal tivesse adquirido vacinas logo que foram disponibilizadas pelas farmacêuticas e começado a campanha de imunização ainda em 2020. A vacinação teve início em janeiro, mas em um ritmo lento pela baixa oferta de doses. "O país perdeu a oportunidade de começar a vacinar mais cedo e de preservar vidas", constatou.
O diretor afirmou que o NIEE vai continuar as análises sobre o efeito da vacinação na população do Espírito Santo, com recorte em meses mais recentes, para alcançar também outras faixas etárias que já receberam pelo menos uma dose de imunizante contra a Covid-19.
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