Uso obrigatório de máscara, desinfecção de chaves e compras do supermercado, beijos e abraços proibidos entre amigos e familiares. Esses "protocolos de sobrevivência" eram inimagináveis até o início de 2020, quando a pandemia do coronavírus inaugurou um ciclo de novos hábitos. Quase um ano após a chegada do vírus, no entanto, ainda há gente que comete erros de higienização. E é aí que mora o perigo.
Segundo os especialistas em prevenção e saúde, a vacina é o melhor meio de prevenção. Mas, enquanto a imunização não está disponível para toda a população, é essencial redobrar a atenção com as medidas preventivas.
“Muitas pessoas imaginam que estejam seguras porque estão constantemente utilizando álcool e lavando as mãos, mas é preciso ter ainda mais cuidados para garantir a própria saúde e a dos outros. Não adianta passar um paninho com álcool por cima das compras, por exemplo, porque o coronavírus pode estar presente nas reentrâncias das embalagens”, orienta Mário Guedes, que é doutor em Ciências Biológicas e coordenador dos cursos de limpeza profissional da Fundação de Asseio e Conservação, Serviços Especializados e Facilities (Facop).
CONFIRA AS DICAS
1 - LIMPEZA DO CELULAR
Não é só por causa da Covid-19 que o celular se tornou um objeto com altas taxas de contaminação. De acordo com um estudo feito na Universidade do Arizona, nos Estados Unidos, um aparelho celular pode ter 10 vezes mais bactérias que o assento sanitário. No entanto, com a pandemia, a higienização dele deve ser reforçada.
Segundo o doutor em Ciências Biológicas, Mário Guedes, "o indicado é não falar ao telefone de máscara porque a parte externa da máscara é onde existe a contaminação. Se você encosta o celular nela e, mais tarde, no seu rosto, pode estar se contaminando".
Mantenha o aparelho higienizado e fale ao telefone sem máscara
Sempre que precisar usar o aparelho, higienize as mãos, tire a máscara, higienize as mãos de novo e use o telefone. Depois, higienize as mãos mais uma vez, coloque a máscara e, por fim, higienize as mãos e o celular
O celular e o carregador precisam ser guardados em ambientes higienizados
Sempre que apoiar o celular em algum lugar, lembre-se de higienizá-lo. É importante retirar a capinha para isso, porque a umidade que fica nos espaços entre o aparelho e a capinha costuma ser favorável para que o vírus sobreviva por mais tempo
Falar ao celular usando máscara não é recomendável, alerta especialista. (Freepik)
2 - DESINFECÇÃO DE ALIMENTOS
Todos os alimentos comprados nas feiras ou nos supermercados devem ser higienizados. Por terem sido manipulados diversas vezes até chegarem à mão e à mesa do consumidor, não é possível identificar quais produtos ou embalagens estão contaminados com o vírus.
De acordo com o farmacêutico bioquímico Rodrigo Alves do Carmo, "as partículas virais podem se depositar sobre as superfícies, permanecendo viáveis por algumas horas ou dias, dependendo das características de cada uma", destaca.
Ao chegar em casa, higienize as mãos e quando for diretamente para a pia, descarta a sacola e lava o alimento com água e sabão.
Esfregue bem, escorra o sabão e deixe o alimento de molho com uma solução contendo uma colher de sopa de água sanitária por litro de água (cerca de 15 minutos)
As folhas, por exemplo, como vegetais que são comidos crus, devem ser higienizadas com água corrente, inicialmente, e depois colocar de molho nessa solução (água sanitária)
As frutas com casca, como maçã, banana, laranja e limão, podem ser higienizadas com água e sabão e armazenadas.
As compras devem ser higienizadas ao chegar em casa. (Divulgação/Agência Brasília)
3 - AO ENTRAR NA RESIDÊNCIA
Teoricamente sua casa está livre do vírus, a menos que você a contamine. Por isso, o cuidado deve ser para que ele não passe da porta. Mas como fazer isso? Para impedir a contaminação de objetos, cômodos ou até mesmo de outros moradores, especialistas orientam a criação de um espaço específico no imóvel para deixar sapatos, adereços como relógios e joias e roupas.
Se possível, reserve um espaço da sua casa, próximo à entrada, para deixar calçados e roupas usados na rua
As superfícies de alto toque, como maçanetas, corrimãos, teclados de computador, entre outras, têm que ser higienizadas depois de serem tocadas - e é importante que as mãos sejam higienizadas antes de encostar nessas superfícies e após a limpeza
Animais de estimação também precisam ter suas patinhas higienizadas antes de entrar em casa. Para isso, é indicado usar detergente neutro.
Bolsas e mochilas, por exemplo, costumam ser levadas para espaços como a cabeceira da cama. Esse tipo de comportamento contamina ambientes da casa que, em teoria, deveriam estar sem o vírus.
4 - CUIDADO COM OS CALÇADOS
Diferentemente do que muitos acreditam, os sapatos não são grandes transmissores de coronavírus, de acordo com a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa). No entanto, tapetes higiênicos não funcionam porque, geralmente, o líquido utilizado neles é desativado pela sujeira.
“O desinfetante desses tapetes não vai agir da maneira correta porque não tem o tempo necessário de contato com os sapatos e dificilmente estará com a diluição adequada”, explica Mário Guedes.
O ideal é retirar os sapatos quando se chega em casa e lavá-los com água e sabão antes de guardá-los
Calçados devem ser higienizados após o uso. (Engin Akyurt/Pexels)
5- ATENÇÃO NOS ESPAÇOS DE TRABALHO
O problema dos espaços de trabalho é o volume de pessoas que os frequentam. Todos precisam ter cuidado com tudo o que entra nesses ambientes, assim como acontece em casa.
“Não adianta tirar a mochila, colocar no chão do carro - onde pisou ou colocou as compras – e, depois, levar a mochila para o espaço de trabalho. Tudo o que entra nesse espaço pode ser contaminante: chave de carro, mochilas, bolsas, sacolas”, alerta Guedes.
É fundamental higienizar com produto desinfetante (ou álcool 70%) e, de preferência, com panos e papéis descartáveis
Não é recomendável comer no espaço de trabalho
Se possível, sempre que chegar e antes de sair deve-se trocar a máscara, bem como higienizar objetos, como fones de ouvido e óculos, com solução desinfetante adequada.
Os óculos, aliás, precisam ser higienizados sempre que trocar a máscara ou conversar com outra pessoa.
Telefones e outras ferramentas que possam ser compartilhadas precisam ser higienizados antes e após o uso
Evitar contágio no ambiente de trabalho deve ser um esforço coletivo. (Freepik)
6 - MANUSEIO DE DINHEIRO E CARTÃO
Dinheiro, cartões e outras formas físicas de pagamento são grandes fontes de contaminação. Por esse motivo, é preciso higienizar as mãos antes e depois de pegar nas cédulas ou cartões.
“O papel retém o coronavírus por um longo período de tempo. Há pesquisas que falam em 48 horas, 72 horas ou até mais tempo, como uma semana. O melhor é não utilizar o cartão e, se utilizar, higienizá-lo antes de colocar de volta na carteira", orienta Guedes.
É importante lavar as mãos com água e sabão ou aplicar álcool 70% antes e depois de pegar no dinheiro
Quanto as cartões, a limpeza deve ser feita com desinfetante de uso geral e, em seguida, após o tempo de ação indicado pelo fabricante do produto, secar o objeto. Ou então usar um lenço umedecido desinfetante
A dica é usar álcool antes e depois de tocar na cédula. (Siumara Gonçalves)
7 - USO E LAVAGEM DE MÁSCARA
Embora as máscaras já façam parte do cotidiano da maioria das pessoas, muita gente ainda não sabe a forma correta de usá-la e, principalmente, de fazer a higienização dessas peças.
Em primeiro lugar, o professor lembra que o tecido escolhido precisa ser o correto. "Mesmo com o verão chegando, tecidos muito finos ou máscaras sem camada dupla não garantem proteção alguma contra o coronavírus", ressalta.
As máscaras que têm um filtro e você troca apenas o filtro, sem higienizar a máscara, podem não funcionar.
É preciso lavar as máscaras com detergente neutro, deixar de molho por dez minutos, passar por desinfetante de uso geral, deixar de molho por dez minutos, enxaguar e secar
Máscaras de pano reduzem chances de contágio do coronavírus. (Danielle Lameri Cuz Silva)
8 - MEIOS DE TRANSPORTE
Se abrir a porta e tocar no volante, no câmbio, no rádio, entre outros lugares, sem higienizar as mãos, a pessoa está espalhando contaminação nessas superfícies do automóvel. Os cuidados no ônibus também são essenciais e, principalmente, o uso de máscara.
“O segredo é higienizar as mãos a cada passo. Antes de pegar na chave, depois de abrir a porta, antes de sair do carro e depois de fechar a porta”, diz o coordenador dos cursos da Facop.
As maçanetas do carro e do porta-malas, bem como a chave, têm que ser higienizadas antes de entrar no veículo. Uma dica importante é ter sempre à mão álcool em gel 70% e lenços umedecidos desinfetantes
Carros utilizados por várias pessoas, como os veículos corporativos, precisam ser higienizados entre um turno e outro, sem esquecer de botões de abertura e fechamento de vidros, trincos das portas, rádio, botão de ligar e desligar seta e tudo aquilo em que os usuários encostam
Ao andar de ônibus e outros meios de transporte coletivos, nunca encoste no rosto e, se possível, não use o celular, fones de ouvido, óculos, no interior do veículo. Se tocar o rosto, higienize as mãos. Não retire a máscara por motivo algum
Mantenha as janelas sempre abertas, mesmo com chuva, e não apoie a bolsa em lugar algum
Tenha álcool 70% no veículo. (Freepik)
9 - RISCOS EM ESPAÇOS COLETIVOS
Os espaços pelos quais passam muitas pessoas todos os dias oferecem muitos riscos de contaminação pelo coronavírus. Nesses lugares, não se pode abrir mão do distanciamento social e da máscara
Em restaurantes só se deve retirar a máscara na hora de comer. Não a coloque sobre a mesa. A forma correta de fazer isso é colocá-la em um pacotinho
Ao final da refeição, higienize as mãos e coloque uma máscara limpa
Já em recepções de prédios e ambientes semelhantes, a orientação é respeitar sempre as marcações de distância no piso e as faixas de delimitação, não abaixar a máscara e não se aproximar demais das pessoas
Ao encostar em catracas ou no leitor de senhas, é importante higienizar as mãos antes e depois de fazer isso. O mesmo vale para elevadores e corrimãos
Uso de máscara e distanciamento social devem ser respeitados. (Maria Fernanda Conti )