Com a confirmação do primeiro caso de reinfecção pela Covid-19 em Hong Kong, na China, em um estudo publicado nesta segunda-feira (24), e diante da incerteza de se há no Brasil e, em especial, no Espírito Santo, situações semelhantes, a reportagem de A Gazeta buscou ouvir especialistas para entender o que é possível esperar e se é possível ser otimista em imaginar um quadro menos grave para um segundo contágio pelo novo coronavírus.
O primeiro caso confirmado foi observado, de acordo com informações da agência Folhapress, em um homem de 33 anos que teve a segunda infecção pelo vírus confirmada em um aeroporto de Hong Kong ao voltar de uma viagem à Europa.
No Estado, de acordo com a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), estiveram em investigação amostras de 21 pacientes sobre casos de reinfecção. Destas, segundo o órgão, em 17 não foi possível realizar análise devido à falta de material da primeira coleta. Nas demais, a conclusão foi de três amostras descartadas para reinfecção e uma inconclusiva, que continua sendo investigada. A Sesa informou ainda que, de acordo com novas identificações de suspeita de reinfecção, serão abertas novas investigações.
Para o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto, apesar de ser cedo para ter certeza, a primeira impressão é otimista, de que, além de raros, os casos de reinfecção possam ser mais brandos que o primeiro contato com a doença. "Nós estamos indo para 9 meses de pandemia, que começou em dezembro, e só agora apareceu o primeiro caso documentado. Então a primeira impressão que a gente tem é de que isso deve ser uma coisa rara de acontecer e a informação que eu tenho é que a segunda infecção foi bastante branda. Mas temos que esperar o trabalho ser publicado, imagino que nos próximos dias a gente consiga ler sobre isso e ter uma noção melhor", afirmou.
Segundo o especialista, duas observações podem ser feitas: a primeira no sentido de que deve ser extremamente rara a reinfecção e a segunda de que é bom imaginar que não existe de fato imunidade duradoura pela Covid-19. "Saber que é possível contaminar-se novamente faz com que as pessoas mantenham os cuidados. Mesmo as pessoas que já tiveram a Covid devem manter o uso de máscara, nós estamos lidando com uma doença nova. Até ter uma vacina e um controle bom da pandemia, todo mundo deve ter cuidado", frisou.
Para o médico intensivista Gabriel Rangel, que faz parte da coordenação das unidades críticas e intensivista responsável por uma das Unidades de Terapia Intensiva (UTI) para Covid do Hospital Estadual Jayme dos Santos Neves, existem duas questões básicas que promovem uma reinfecção. A primeira delas é a capacidade de produzir anticorpo e a segunda, é ter uma imunidade que cai ao longo do tempo e que torna os indivíduos suscetíveis novamente a uma infecção.
Quanto à capacidade de produzir anticorpo, Rangel afirma que não se sabe ainda quanto tempo o anticorpo ficaria pronto e ativo. "Mesmo que de maneira hibernante, não sabemos em quanto tempo ficaria pronto para combater uma nova exposição ao vírus. Também é possível que exista uma imunidade que vai caindo ao longo do tempo e que nos torna suscetíveis de novo a uma infecção, muito provavelmente mais leve, porque existe, mesmo que como resquício, uma memória imunológica", disse.
Ainda segundo o intensivista, é possível ter um vírus fazendo uma mutação. "É possível ter uma cepa diferente de vírus, sendo ainda do mesmo grupo, o que também promove uma reinfecção. É possível que esta reinfecção também seja mais leve, justamente porque já existiu uma infecção por algo parecido e isso pode trazer algum grau de imunidade, mesmo que mais básica. Mas são dois mecanismos que podem fazer a gente entender porque pode se reinfectar", definiu.
De acordo com o médico Gabriel Rangel, é muito provável que passem a existir reinfecções, o que não se sabe ainda é quais são as variáveis relacionadas a elas. "Não sabemos se serão mais graves e provavelmente não serão. A gente não sabe se existe alguma questão do hospedeiro, ou seja, do paciente, que facilite essa reinfecção. Por exemplo, uma deficiência imunológica própria, questões relacionadas a comorbidades, ao grau da doença da primeira infecção", esclareceu.
Para ele, é provável que em breve haja relatos e evidências de reinfecções. "Isso justamente porque depende de duas variáveis: a primeira do vírus ser capaz de gerar novas cepas e isso é muito provável. A segunda referente à nossa população, que é muito grande e heterogênea, o que faz com que as pessoas tenham capacidades de gerar uma resposta imunológica diferente, assim como de promover um combate mais intenso a aquele primeiro vírus e novamente ter uma resposta imunológica menos persistente", concluiu.
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