Três microrregiões do Espírito Santo estão com taxa de transmissão do novo coronavírus acima de 1. A região com o dado mais preocupante é a Central Serrana, onde estão cidades como Santa Teresa e Santa Leopoldina e outros três municípios. Lá o resultado alcançou 1.98, segundo a Resenha de Indicadores Covid-19, feita pelo Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e publicada na última sexta-feira (9).
A taxa de transmissão pode ser interpretada da seguinte forma: quando está acima de 1 significa que dez indivíduos infectados podem passar a doença para outros 10. No caso da Região Central Serrana, por exemplo, dez pacientes têm potencial para infectar quase 20 pessoas.
O boletim do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) analisou o surgimento de novos casos de coronavírus entre 18 e 25 de setembro.
Além da Central Serrana, estão com dados acima de 1 o Noroeste e a área Sudoeste Serrana. Ao todo, esses três territórios somam 19 municípios.
Também simbolizado por Rt, o "ritmo de contágio" é um número que traduz o potencial de propagação de um vírus. Para que a doença pare de avançar de forma rápida, o Estado tenta manter os indicadores abaixo de 1. De acordo com o boletim, a média para todo o Espírito Santo no período analisado foi de 0,82. Em abril, a taxa estava em 3,44.
"Para mantermos os dados abaixo de 1, é importante as pessoas manterem o protocolo. Isso vai ser necessário até se exista uma vacina. Mas lembrando que isso não vai ser rápido. Ela vai precisar ser produzida e depois será necessário enfrentar os problemas de logística para que ela chegue aos locais para atender, primeiramente, o grupo de risco. As regras para se proteger da doença vão valer por muito tempo", analisa o diretor de Integração e Projetos Especiais do IJSN, Pablo Lira.
De acordo com Lira, em especial os índices referentes às Regiões Central Serrana, que chegou a 1,98, e Sudoeste Serrana, que atingiu 1,35, podem ter relação com o fato de serem localidades turísticas.
"A região das três santas, por exemplo, e de Domingos Martins, são turísticas. Pudemos observar, com o feriado de 7 de setembro, que isso pode ter influenciado a taxa de 25 de setembro, pouco mais de 14 dias depois, e levado a um aumento de casos naquela área na época. Mas destacamos que o feriado não é o único fator que explica. Guarapari, por exemplo, não teve aumento de casos na mesma proporção de Santa Teresa", iniciou.
Sobre o percentual de 1.98 na Central Serrana, que compreende os municípios de Santa Teresa, Itaguaçu, Santa Leopoldina, Santa Maria de Jetibá e Itarana, Lira ressalta que esta é a segunda semana que a região atinge taxa como esta. Já a Sudoeste Semana avançou no período de 1,23 para 1,35. No Noroeste, passou de 0,92 para 1,04.
"É preciso que haja também uma atenção do poder público municipal, para monitorar e trazer para baixo de 1. Nesses locais não há uma população tão expressiva quanto na Grande Vitória, mas chama a atenção o número. A Região Central Serrana que recebe muitos turistas da Grande Vitória e de Minas Gerais, por exemplo, tem que monitorar a situação", frisou.
Sobre a função que cabe aos municípios, o especialista aponta que eles têm papel crucial para o controle das taxas. "É importante a atenção dos órgãos fiscalizadores, além da própria população se conscientizar da utilização das máscaras, do afastamento físico, de seguir os protocolos de saúde pública de maneira geral", apontou.
Apesar dos indicadores das três regiões com maiores taxas, o diretor do IJSN destacou que o Espírito Santo, de modo geral, está há dez semanas com taxa de transmissão abaixo de 1 e que a previsão é que isso se mantenha para os próximos períodos.
Na Grande Vitória, no entanto, pode haver ligeiro aumento, já esperado. "Houve redução de casos confirmados e óbitos, com uma média móvel em redução desde julho e RT desde 17 de julho abaixo de 1. Essas flutuações são esperadas e a possível explicação seria primeiramente que, em setembro, houve ampliação do critério de testagem, o que significa dizer que quanto maior o número de testes, maior o número de casos confirmados e ativos. E a nossa média de óbitos continua em queda", afirmou.
Além da ampliação da testagem, o outro fator que implica nas variações da taxa de transmissão é a maior interação das pessoas. "Em 7 de setembro, por exemplo, que foi um feriado prolongado, pode ter influenciado no aumento da taxa. Isso não é um fator determinante, mas contribui. É importante observar que estamos passando por um novo feriado prolongado, mas, ao contrário de 7 de setembro, o 12 de outubro tem outra característica ambiental, com baixas temperaturas e maiores índices pluviométricos, ou seja, mais chuvas. Isso pode ser positivo para diminuir o contágio na Grande Vitória e em outros municípios", comparou.
A menor taxa de transmissão está no Litoral Sul, que chegou a ter 4,2 em abril e agora está em 0,36. A localidade compreende os municípios de Anchieta, Piúma,, Alfredo Chaves, Iconha, Rio Novo do Sul, Itapemirim, Marataízes e Presidente Kennedy.
Em relação à possibilidade de aumento da taxa de transmissão com a volta às aulas presenciais, Lira explicou que não vê riscos significativos neste sentido, já que o Espírito Santo tem adotado protocolos rígidos.
"O que a gente observa, olhando a tendência de outros países, em termos de volta às aulas de forma escalonada, seguindo o protocolo, não ocorreram alterações significativas nas curvas epidemiológicas. O Estado está fazendo isso, voltando em período de queda de taxa de transmissão, após 10 semanas, estamos seguindo um caminho prudente, para garantir maior segurança", pontuou.
Além disso, por tratar-se de uma retomada de forma facultativa, com decisões que cabem às famílias dos alunos, a população poderá optar por enviá-los ou não para o presencial, podendo continuar com o ensino remoto.
"É uma escolha das famílias, algumas têm pais que trabalham e que entendem que é importante a socialização do aprendizado. Além disso, há as famílias mais vulneráveis, que têm dificuldade de acesso à informação. Entendemos que isso não vai gerar impactos significativos na curva, já que está sendo seguido todo o protocolo de forma gradual. É importante a retomada porque é um período de adaptação", opinou.
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