A família de Miqueias Ferreira Caetano, de 11 anos, que mora no bairro Jardim Planalto, em Pinheiros, no Norte do Espírito Santo, chora a morte do menino, na madrugada do último domingo (26), vítima de uma pneumonia. Em entrevista à reportagem de A Gazeta, a mãe, a dona de casa Vanuza Ferreira dos Santos, de 43 anos, acusa o Hospital Municipal de Pinheiros de negligência no atendimento ao filho dela.
A dona de casa disse que percebeu que Miqueias estava com febre e tosse forte na segunda-feira da semana passada, dia 20 de março. A mãe cuidou do menino e ele melhorou por algumas horas, mas voltou a passar mal no dia seguinte, com os mesmos sintomas. Na quinta-feira (23), Vanuza levou a criança para uma unidade de saúde do bairro. Na sexta-feira (24), diante da piora do quadro de saúde, levou a criança ao Hospital Municipal de Pinheiros.
"Eu vi que ele continuava cansado, mas percebi que ele segurava a tosse. Eu não sabia o que era. Cheguei ao hospital por volta de 7h na sexta-feira para fazer a ficha dele. Precisamos esperar pelo atendimento até por volta de 11h. Uma médica realizou a consulta, mas não levantou nem para tocar um dedo no meu filho. Apenas observou que ele estava cansado.
Vanuza contou ainda que o estado de saúde de Miqueias piorou no sábado (25) e disse chegou a ver o menino expelir sangue ao tossir. “A pneumonia estava avançada. Fui ao hospital de novo, os médicos viram que ele tinha tido um princípio de parada cardíaca”, contou.
Ela disse que foi novamente com Miqueias para o hospital, por volta de 16h, e reclama que a ambulância do Samu chegou apenas após as 19h para fazer a transferência da criança para outra unidade hospitalar – que seria necessária, diante da gravidade do caso. A família acionou a Polícia Militar para relatar o atraso, mas a equipe do Samu já estava no local quando os policiais chegaram. Mesmo assim, a dona de casa disse que deu informações à PM sobre a demora para registro da ocorrência.
"O Samu chegou por volta de 19h. Os médicos disseram que não poderiam tirar meu filho do hospital porque ele poderia morrer na estrada. Eu entrei no quarto para ver o meu filho, vi ele sendo entubado. A equipe do Samu me chamou e explicou que teria que levar ele para Colatina, mas afirmaram que não tinham como garantir que ele chegaria lá com vida”, falou a mulher.
Miqueias foi levado para uma Unidade de Terapia Intensiva (UTI) pediátrica em Colatina. A mãe relatou para A Gazeta que o filho sofreu paradas cardíacas e não resistiu. “Eu não aguentava nem ver ele cheio de aparelho para respirar. Meu filho morreu por volta de 5h, após quatro paradas cardíacas”, comentou.
O enterro do menino aconteceu nesta segunda-feira (27), em Pinheiros. Ele tinha um irmão gêmeo chamado Samuel e outros três irmãos. “Miqueias era um menino muito amado por todos. Ele nunca passou por isso, não ficava doente. Sempre ia à escola, era presente na igreja. É uma dor muito grande acordar e não ver ele”, finalizou a mãe, emocionada.
A reportagem de A Gazeta procurou a Polícia Militar e a Polícia Civil para obter mais informações sobre o caso e saber se há uma investigação em andamento, mas não houve retorno até a publicação desta matéria.
Em relação à acusação de negligência e ao relato da mãe de Miqueias sobre a profissional que atendeu o menino no hospital municipal, a Prefeitura de Pinheiros informou que tomou conhecimento da denúncia da família, e, "de imediato, a médica foi dispensada e não mais compõe o quadro clínico de Pinheiros. Ela era contratada via empresa terceirizada conveniada à prefeitura. A empresa foi comunicada sobre o ocorrido para as providências cabíveis", disse, em nota enviada à reportagem de A Gazeta.
A Prefeitura de Pinheiros também emitiu uma nota de esclarecimento sobre o caso nas redes sociais, alegando que "não faltaram esforços de toda a equipe, equipamentos ou medicamentos para o atendimento. Vários profissionais foram mobilizados. Além dos médicos que estavam de plantão, foram convocados mais dois para o apoio emergencial. Enfermeiros e Técnicos se voltaram 100% para o amparo do atendimento, contando com a ajuda até do Diretor do Hospital que é Enfermeiro de formação e passou a atuar junto com a equipe", iniciou.
Na nota (veja acima na íntegra), a administração municipal menciona atraso da equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) para chegar ao Hospital de Pinheiros e realizar a transferência da criança, e reforça que vai cobrar do governo do Estado que apure a situação "Por ser órgão de responsabilidade direta do Estado, iremos encaminhar um relatório ao governo do ES para que apurem o ocorrido e responsabilizem quem for necessário, para que providências sejam tomadas e tal situação não mais se repita", concluiu.
Sobre a alegação de atraso da equipe do Samu para atender Miqueias – da mãe do menino e da Prefeitura de Pinheiros –, a Secretaria de Estado de Saúde (Sesa) informou que "até a chegada da ambulância de suporte avançado ao hospital, a equipe médica que acompanhou a criança recebeu todas as orientações sobre a necessidade de estabilização do quadro de gravidade da criança para o transporte", iniciou, em nota enviada à reportagem.
A Sesa esclareceu ainda que, o chegar ao hospital, a equipe do Samu realizou os procedimentos de estabilização para realizar a transferência ao hospital de referência, com a garantia da melhor assistência ao paciente.
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