Cinco anos após o brutal assassinato de dois irmãos na Piedade, em Vitória, quatro das seis pessoas denunciadas vão se sentar no banco dos réus. O julgamento será realizado no dia 5 de julho. Os irmãos Ruan Reis, 19, e Damião Marcos Reis, 22, foram mortos com mais de 20 tiros, cada um deles. Após a execução, outros crimes ocorreram na região, todos esses são resultados das disputas do tráfico de drogas no bairro Piedade e Fonte Grande, em Vitória.
Serão julgados:
Outros dois foram pronunciados - decisão judicial que os encaminha para o Tribunal do Júri -, mas não vão ser julgados com os demais porque recorreram contra a sentença e aguardam resposta da Justiça. São eles:
De acordo com a denúncia do Ministério Público do Espírito Santo (MPES), Ruan estava em casa, na companhia de sua cunhada, quando foi abordado pelo grupo apontado como autor do crime. “Além de estarem portando armas de fogo, trajavam toucas ninja, coletes e coturnos”, informa o texto.
Na sequência, eles ordenaram que a cunhada fosse para dentro da casa, e quando ela atendeu o pedido, o grupo indagou a Ruan sobre a localização dos chefes do tráfico do bairro. “Depreende-se que, como Ruan não soube informar a localização pretendida pelos denunciados, seus algozes o conduziram pelas ruas do bairro sob a mira de armas de fogo, chegando ao alto do morro da Piedade”, é relatado na denúncia.
A cunhada, ao perceber que Ruan foi levado pelo grupo, comunicou o fato aos seus familiares. Foi quando Damião saiu de casa correndo à procura de seu irmão. "Ele o encontrou já sob o poder do grupo, e ao questionar a motivação, os dois irmãos foram atingidos por vários disparos de armas de fogo", relata denúncia do MPES.
À época do crime, a polícia informou que foram mais de 60 disparos. A perícia encontrou 22 perfurações no corpo de Ruan e 20 no corpo de Damião. No local foram encontradas mais de 60 cápsulas de calibre 380, Ponto 40 e 9mm. O crime aconteceu no dia 25 de março de 2018, por volta de 1 hora, na Rampa Odilio Ferreira, próximo à Escadaria 25 de Abril, no bairro Piedade, em Vitória.
Os advogados Paloma Gasiglia e Marcos Daniel Vasconcelos Coutinho fazem a defesa de Flávio Sampaio. Informaram que acreditam na Justiça estadual e que buscarão a absolvição. Destacam que o processo se embasa em provas testemunhais que não reconheceram Flávio como partícipe, e que vão provar em plenário que ele não tem nenhuma ligação com o crime.
Os advogados dos três outros réus que vão a julgamento não foram localizados. quando ocorrer, este texto será atualizado.
O promotor Rodrigo Monteiro é um dos três que atuam na Primeira Vara Criminal de Vitória, responsável pelo Tribunal do Júri, e que vai fazer o julgamento dos irmãos. “Ruan e Damião eram jovens que tinham tudo para se envolverem com a criminalidade, mas optaram por uma vida digna, e foram mortos pela guerra absurda do tráfico”, destacou.
A expectativa, segundo ele, é de que será um júri difícil, como todos os que envolvem membros de facções criminosas. “Esperamos que seja um julgamento justo, em que todos sejam condenados a pelo menos 60 anos, cada um, que é o máximo que a lei permite. É preciso dar uma resposta para a sociedade”, assinala.
Os seis denunciados pelo MPES, incluindo os quatro que vão a julgamento, foram denunciados por homicídio, praticado por motivo torpe (fútil). “Uma vez que cometidos no contexto da guerra do narcotráfico, visto que os denunciados estavam à procura dos endereços dos chefes do tráfico local, pois planejavam retomar o controle do crime nos morros da Piedade e da Fonte Grande, assim, como as vítimas não lhes forneceram os endereços almejados, os denunciados as mataram”, é dito na denúncia.
O MPES apontou ainda que os crimes foram cometidos por recurso que dificultou a defesa das vítimas. “Os executores, que se encontravam em superioridade numérica, de inopino efetuaram disparos de arma de fogo em desfavor das vítimas, que estavam desarmadas”, é informado na denúncia.
O processo tem cerca de 1.500 páginas, com seis réus e muitas provas técnicas, algumas oriundas de interceptações.
O ano de 2018 no Morro da Piedade foi marcado por noites sangrentas, com crimes brutais, seguidos de ataques e ameaças a moradores que foram expulsos do bairro, localizado em Vitória. Era o resultado da guerra do tráfico de drogas pela disputa de territórios. Foram pelo menos oito assassinatos, além de duas tentativas de homicídio.
A comunidade chegou a realizar protestos pedindo por mais segurança. Dezenas de moradores acabaram deixando o bairro em decorrência do avanço da criminalidade e do medo de novos confrontos.
As investigações sobre os crimes ocorridos em 2018 apontaram que desde o final do ano de 2017, cerca de 20 pessoas portando armas de fogo e trajando toucas ninjas, coletes e coturnos se revezavam na procura pelos chefes do tráfico de drogas local, com o objetivo de eliminá-los e tomar o controle da região da Piedade, Fonte Grande e Moscoso.
Esse grupo, junto com suas famílias, tinham sido expulsos dessas localidades por volta do ano de 2012, pelos que estavam chefiando o tráfico na região. O comando do tráfico passou para as mãos dos integrantes da Família Ferreira Dias, e era em busca deles que estava o grupo. Contavam com o apoio do PCV/Trem Bala. Na busca pelas lideranças do tráfico, foram praticados os seguintes crimes:
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