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De isopor e pichada por jovens: o que há por trás da obra da Praça do Papa

De isopor e pichada por jovens: o que há por trás da obra da Praça do Papa

O artista Zota Coelho conversou com a reportagem e contou mais detalhes da escultura. Da produção até a instalação, a obra tem o intuito de chamar atenção para o "Janeiro Branco"

Publicado em 31 de janeiro de 2023 às 16:44

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Atlas na praça
A escultura do artista Zota - Atlas tenta levantar o globo terrestre, mas não consegue. (Carlos Alberto Silva)

A escultura do titã mitológico Atlas, instalada no último domingo (29) na Praça do Papa, em Vitória, deu o que falar. A invenção do artista capixaba Zota Coelho busca chamar atenção para os cuidados com a saúde mental.

Com cerca de quatro metros, feita de isopor e fibra de vidro, Atlas está em um dos principais pontos da capital do Espírito Santo. Na pele, estão estampadas pichações que chamaram a atenção das pessoas que passam pela Enseada do Suá e dos internautas de A Gazeta. Em conversa com a reportagem, Zota Coelho contou mais detalhes da obra.

Poucas horas depois da instalação, Zota Coelho afirmou ter recebido muitos elogios. As críticas, segundo ele, são contornadas com explicações sobre a utilidade da arte no debate público.

Aspas de citação

Estou muito feliz porque tenho recebido muito apoio dos que cuidam da saúde mental. Recebo felicidade e feedback positivo. Isso significa que o problema está sendo discutido

Zota Coelho
Artista capixaba
Aspas de citação

A estrutura foi instalada no meio da Praça do Papa, justamente onde está o globo, já conhecido pelos capixabas. O artista explica que a obra é uma leitura contemporânea sobre Atlas, conhecido por carregar nas costas o globo.

Este, porém, tem uma série de interpretações, como as obrigações e trabalhos do cotidiano. Para Zota Coelho, a visão moderna do titã busca mostrar que, apesar de toda a força, não há como levantar o "globo de obrigações", compromissos e tarefas do dia a dia.

Material utilizado?

A obra de cerca de quatro metros de altura foi feita sem dinheiro público ou com apoio de qualquer organização privada. Tudo saiu do bolso do próprio artista.

O material usado para a construção do "Atlas capixaba" mistura isopor e fibra de vidro. Na parte interna, como o esqueleto humano, feito para sustentar os dois materiais, Zota colocou um metal bem leve. A ideia era que a obra pudesse ser móvel, facilmente transportada e retirada dos lugares.

Tempo de produção

O artista não soube precisar uma data em que o Atlas começou a tomar forma, mas foi há mais ou menos dois meses que a construção teve início. Zota explicou que estava fazendo outros trabalhos paralelos, mas não interrompeu a produção do Atlas.

Atlas na praça
Zota Coelho ao lado da obra feita por ele e exposta na Praça do Papa. (Carlos Alberto Silva)

Um estúdio em Cariacica foi alugado para a construção da obra. O local foi escolhido justamente considerando a altura de Atlas. "Já estou limpando o galpão para devolver. Alugo o local de acordo com o trabalho, considerando o que preciso fazer", diz o artista.

Quanto tempo a obra vai ficar no local?

A notícia boa para os capixabas que gostaram e se interessaram pela obra é que não há um prazo para que ela saia da Praça do Papa. Zota pediu autorização da prefeitura para colocar a estrutura no local, mas não foi estipulado um prazo para o término da exposição. Segundo ele, é a própria prefeitura que deve determinar quanto tempo vai ficar no local.

E a escolha do praça não foi à toa. Zota pensou em utilizar o globo justamente para fazer referência ao "peso da vida". O globo, porém, é uma obra de outra artista, já presente na praça. Zota Coelho afirma que a exposição na rua é importante para a compreensão da arte.

"Precisamos contribuir pouco a pouco para a formação das pessoas, que elas entendem a importância da arte. Acho que se eu conseguir mudar a visão de um, já está valendo", afirma o artista.

E as pichações?

Quem passa pela Praça do Papa também pode se questionar sobre o fato de a obra estar com pichações. Mas a pichação não envolve atitude criminosa ou aleatória. Foi pensado pelo artista capixaba. Segundo Zota Coelho, as pichações chamam atenção, o que pode aumentar o interesse das pessoas pela campanha Janeiro Branco.

Aspas de citação

As pessoas estão perguntando muito sobre a pichação. Mas já imaginou se o mundo fosse feito a partir de um padrão de beleza? A ideia é que não seja branco, não quero que seja unanimidade. A proposta é chamar atenção para um assunto gravíssimo, um problema

Zota Coelho
Artista capixaba
Aspas de citação

Apenas Zota Coelho e um ajudante participaram da construção do Atlas. Mas quando chegou o momento da pintura, quase 40 pessoas colaboraram diretamente. São jovens artistas de 16 a 30 anos que já estão ligados à arte de rua na Grande Vitória.

Atlas na praça
Corpo do Atlas foi pichado por artistas da Grande Vitória. (Carlos Alberto Silva)

O responsável por reunir o grupo foi o artista Ronaldo Gentil, um parceiro de Zota Coelho. Ele abriu o convite a todos os conhecidos, indicando a ideia do projeto e o local onde estava o Atlas.

Aspas de citação

Foram quase 40 pessoas, uma molecada. Fiz uma lista de quem queria pichar. Reuni os nomes de pessoas que tinham interesse, elas foram por livre e espontânea vontade. Indiquei o local do galpão e todas foram lá. É a galera da cena de rua

Ronaldo Gentil
Artista capixaba
Aspas de citação

A obra que está em um dos principais pontos da Grande Vitória tem o objetivo de chamar a atenção para a arte de rua. As pichações, portanto, foram feitas com intenção e permissão do artista criador.

Pichação ou pixação? 

O dicionário da Língua Portuguesa indica que pichação, escrita com "ch", significa ato de escrever ou rabiscar sobre muros e edificações com rolo de tinta. A mesma palavra, mas escrita com "x", tem sido usada por artistas para valorizar a expressão da arte urbana.

Mesmo que não esteja regulamentada no dicionário, ela está nas ruas. Quem trata pichação como arte valoriza as mensagens deixadas, como a obra da Praça do Papa.

Atlas na praça(Carlos Alberto Silva)
Aspas de citação

Chamamos atenção para a tradição de pintura popular e também atentar sobre o conteúdo da arte. A abordagem acadêmica afirma que pintura de criança já é arte. Então, por isso, automaticamente a pichação já é arte. Pessoas que fazem isso não são enxergadas, como o funk, por exemplo. Muita gente é tratada como criminoso

Ronaldo Gentil
Artista capixaba
Aspas de citação

Gentil afirma, no entanto, que há crime em alguns casos de pichação.

"Obviamente existe crime na pichação, mas também há um debate sobre a arte. É uma questão que tento abordar sempre. A pixação com x a gente direciona para tradições, envolve um contexto de conhecimento, reprodução de identidade. A pichação com ch é um escrito na parede sobre um manifesto político, por exemplo", completa.

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