A escultura do titã mitológico Atlas, instalada no último domingo (29) na Praça do Papa, em Vitória, deu o que falar. A invenção do artista capixaba Zota Coelho busca chamar atenção para os cuidados com a saúde mental.
Com cerca de quatro metros, feita de isopor e fibra de vidro, Atlas está em um dos principais pontos da capital do Espírito Santo. Na pele, estão estampadas pichações que chamaram a atenção das pessoas que passam pela Enseada do Suá e dos internautas de A Gazeta. Em conversa com a reportagem, Zota Coelho contou mais detalhes da obra.
Poucas horas depois da instalação, Zota Coelho afirmou ter recebido muitos elogios. As críticas, segundo ele, são contornadas com explicações sobre a utilidade da arte no debate público.
A estrutura foi instalada no meio da Praça do Papa, justamente onde está o globo, já conhecido pelos capixabas. O artista explica que a obra é uma leitura contemporânea sobre Atlas, conhecido por carregar nas costas o globo.
Este, porém, tem uma série de interpretações, como as obrigações e trabalhos do cotidiano. Para Zota Coelho, a visão moderna do titã busca mostrar que, apesar de toda a força, não há como levantar o "globo de obrigações", compromissos e tarefas do dia a dia.
A obra de cerca de quatro metros de altura foi feita sem dinheiro público ou com apoio de qualquer organização privada. Tudo saiu do bolso do próprio artista.
O material usado para a construção do "Atlas capixaba" mistura isopor e fibra de vidro. Na parte interna, como o esqueleto humano, feito para sustentar os dois materiais, Zota colocou um metal bem leve. A ideia era que a obra pudesse ser móvel, facilmente transportada e retirada dos lugares.
O artista não soube precisar uma data em que o Atlas começou a tomar forma, mas foi há mais ou menos dois meses que a construção teve início. Zota explicou que estava fazendo outros trabalhos paralelos, mas não interrompeu a produção do Atlas.
Um estúdio em Cariacica foi alugado para a construção da obra. O local foi escolhido justamente considerando a altura de Atlas. "Já estou limpando o galpão para devolver. Alugo o local de acordo com o trabalho, considerando o que preciso fazer", diz o artista.
A notícia boa para os capixabas que gostaram e se interessaram pela obra é que não há um prazo para que ela saia da Praça do Papa. Zota pediu autorização da prefeitura para colocar a estrutura no local, mas não foi estipulado um prazo para o término da exposição. Segundo ele, é a própria prefeitura que deve determinar quanto tempo vai ficar no local.
E a escolha do praça não foi à toa. Zota pensou em utilizar o globo justamente para fazer referência ao "peso da vida". O globo, porém, é uma obra de outra artista, já presente na praça. Zota Coelho afirma que a exposição na rua é importante para a compreensão da arte.
"Precisamos contribuir pouco a pouco para a formação das pessoas, que elas entendem a importância da arte. Acho que se eu conseguir mudar a visão de um, já está valendo", afirma o artista.
Quem passa pela Praça do Papa também pode se questionar sobre o fato de a obra estar com pichações. Mas a pichação não envolve atitude criminosa ou aleatória. Foi pensado pelo artista capixaba. Segundo Zota Coelho, as pichações chamam atenção, o que pode aumentar o interesse das pessoas pela campanha Janeiro Branco.
Apenas Zota Coelho e um ajudante participaram da construção do Atlas. Mas quando chegou o momento da pintura, quase 40 pessoas colaboraram diretamente. São jovens artistas de 16 a 30 anos que já estão ligados à arte de rua na Grande Vitória.
O responsável por reunir o grupo foi o artista Ronaldo Gentil, um parceiro de Zota Coelho. Ele abriu o convite a todos os conhecidos, indicando a ideia do projeto e o local onde estava o Atlas.
A obra que está em um dos principais pontos da Grande Vitória tem o objetivo de chamar a atenção para a arte de rua. As pichações, portanto, foram feitas com intenção e permissão do artista criador.
O dicionário da Língua Portuguesa indica que pichação, escrita com "ch", significa ato de escrever ou rabiscar sobre muros e edificações com rolo de tinta. A mesma palavra, mas escrita com "x", tem sido usada por artistas para valorizar a expressão da arte urbana.
Mesmo que não esteja regulamentada no dicionário, ela está nas ruas. Quem trata pichação como arte valoriza as mensagens deixadas, como a obra da Praça do Papa.
Gentil afirma, no entanto, que há crime em alguns casos de pichação.
"Obviamente existe crime na pichação, mas também há um debate sobre a arte. É uma questão que tento abordar sempre. A pixação com x a gente direciona para tradições, envolve um contexto de conhecimento, reprodução de identidade. A pichação com ch é um escrito na parede sobre um manifesto político, por exemplo", completa.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta