Frio, fome, insegurança. Dores com as quais Jurandir Parrilha, de 67 anos, teve de conviver durante o tempo em que morou nas ruas de Vitória. Sem rumo depois de ter vindo de São Paulo e vivido por três anos com uma irmã em Guarapari, teve problemas com alcoolismo e entrou em depressão. Dormia em bancos de praças na Praia do Canto. Até que um motorista de aplicativo, com a ajuda de uma assistente social, o encaminhou para um abrigo municipal. Foi lá que o morador em situação de rua começou a reescrever a própria história.
No abrigo, Jurandir obteve acesso ao Benefício de Prestação Continuada (BPC) e voltou aos estudos por meio de aulas na Educação de Jovens e Adultos (EJA). O esforço foi recompensado. Ele se tornou um dos 14 ex-moradores em situação de rua de Vitória aprovados no Instituto Federal do Espírito Santo (Ifes). Hoje, frequenta o segundo período do curso técnico em Hospedagem.
Dados da Secretaria de Assistência Social de Vitória apontam que, mensalmente, existem 420 pessoas em situação de rua, sendo que 225 vivem nas ruas e 195 estão sendo atendidas em um dos vários abrigos da Capital.
De acordo com a secretária da pasta, Cintya Schulz, os motivos pelos quais as pessoas estão nas ruas variam de indivíduo para indivíduo e envolvem desde conflitos familiares a casos de trabalho infantil e dependência química. “A superação é diferente para cada pessoa”, pontua Cintya.
A abordagem a moradores em situação de rua ocorre por meio de uma equipe multidisciplinar, formada por assistente social, psicólogo e educador social. No abrigo, é elaborado um Plano Individual de Atendimento (PIA), que varia de acordo com a demanda de cada um. As pessoas acolhidas também recebem assistência psicológica, kit higiene, suporte e orientação.
“Nosso grande objetivo, através de parcerias, cursos e orientação, é passar para as pessoas que elas podem, sim, mudar de vida", diz Rodrigo Trindade. “A permanência varia de acordo com cada caso. Porém, a ideia é que, em até seis meses, a pessoa seja reinserida na sociedade.”
É nesse processo que se encontra Dermeval Cardoso, de 56 anos. Natural de Linhares, no Norte do Espírito Santo, chegou em Vitória em 2011, depois de enfrentar momentos difíceis após a perda da mãe. Depois de viver na Cidade Alta e passar por várias instituições em Guarapari e Piúma, no Litoral Sul, ele foi transferido para o abrigo em Santa Lúcia. Lá, retomou os estudos no EJA e também conseguiu ser aprovado no Ifes de Vitória, onde faz o curso técnico em Segurança do Trabalho.
“Estou bem focado. Quero arrumar um emprego, alugar uma casinha e, mais para a frente, encontrar uma companheira”, planeja o estudante.
O pedagogo do Programa Nacional de Integração da Educação Profissional com a Educação Básica na Modalidade de Educação de Jovens e Adultos (Proeja) do Ifes, Campus Vitória, Marcus Vinícius Cardoso Podestá, afirma que a instituição está sempre de portas abertas por meio de cursos técnicos integrados ao ensino médio e voltados para jovens e adultos.
“Muitos alunos buscam o curso. Porém, mais que uma formação técnica, os estudantes encontram uma formação integral que permite a eles seguir para outros caminhos, como o acesso a uma universidade, ao mercado de trabalho ou mesmo ao empreendedorismo”, aponta Podestá.
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