As investigações sobre o acidente que provocou a morte de Amanda Marques, 20 anos, e que deixou namorado dela, Matheus José da Silva, 23, internado, apontaram falhas na conduta de policiais civis e militares responsáveis pela ocorrência, no dia 17 de abril. Ao final do inquérito, o delegado pediu que as atitudes fossem apuradas pelas corregedorias das corporações.
O acidente em questão aconteceu na Rodovia Darly Santos, em Vila Velha. Amanda e o namorado, Matheus Jose Silva, 23, haviam saído da casa da mãe da jovem, no bairro Jockey, e seguiam de moto para o bairro Divino Espírito Santo, onde moravam. Era Matheus quem pilotava a moto, modelo Honda XRE 300, no momento em que o Toyota Corolla, que seguia no mesmo sentido na pista, atingiu a traseira da motocicleta. O Corolla arrastou vítimas e a moto por cerca de 50 metros até parar.
Amanda morreu no local, enquanto Matheus foi levado por uma ambulância do Serviço de Atendimento Médico de Urgência (Samu) para o Hospital Estadual de Urgência e Emergência, em Vitória, onde permaneceu internado por 10 dias.
Segundo o levantamento da Delegacia de Delitos de Trânsito, testemunhas contaram no local que o motorista do Corolla, Wagner Nunes de Paulo, tentou arrancar com o carro para escapar, porém, foi impedido por outros motoristas que pararam no local para ajudar os envolvidos na batida.
O relatório final das investigações foi adquirido pelo repórter Tiago Félix, da TV Gazeta, e apresenta mais pontos incoerentes.
Ainda na cena do acidente, já com a chegada da equipe do Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu 192) e da Guarda Municipal, um policial civil chegou ao local em uma viatura descaracterizada e ficou próximo a Wagner, conversando. O policial é amigo da família de Wagner, que também tem policiais civis, e estava de folga.
Ele tentou tirar o motorista do local para, supostamente, levá-lo à Delegacia Regional de Vila Velha. Porém, foi impedido pela equipe do Samu e também da guarda municipal.
Ainda segundo consta o relatório da investigação do acidente, o policial civil teria ameaçado de prisão uma das testemunhas que afirmava que Wagner estava embrigado.
Segundo o relatório da investigação, também houve falha dos PMs que assumiram a ocorrência ao não registrarem em momento algum que Wagner apresentava aparentemente sinais de embriaguez, como relatado por outras testemunhas, ou mesmo sobre a presença do policial civil junto ao detido nos registros formais necessários.
Os militares nem sequer completaram os autos de constatação de alteração psicomotora, como é solicitado em caso de acidente onde os condutores se recusam a fazer teste de bafômetro.
Na Delegacia Regional, Wagner permaneceu cercado de familiares durante todo o tempo, procedimento que não é o padrão da Polícia Civil.
Outra conduta questionada no relatório da Delegacia de Delitos de Trânsito é o fato do delegado de plantão na Delegacia Regional de Vila Velha, para onde o suspeito foi levado, não ter conduzido Wagner para o exame toxicológico junto à perícia da corporação, onde a recusa do exame - direito que o acusado possui - é documentada adequadamente.
Uma cópia do procedimento da investigação foi encaminhada para as Corregedorias das Polícias Civil e da Militar para que sejam avaliadas as condutas dos policiais envolvidos.
A reportagem de A Gazeta procurou tanto a Polícia Civil quanto a Polícia Militar. A Polícia Civil informou que a Corregedoria da corporação apurará os fatos narrados no relatório do inquérito policial. Já a Polícia Militar respondeu que até o momento não recebeu nenhum documento relativo ao fato e, após tomar conhecimento de todo o conteúdo das peças que envolvem o acidente de trânsito e que foram encaminhadas à Corregedoria, irá instaurar o devido procedimento apuratório.
Na data do crime, Wagner foi autuado em flagrante por homicídio culposo - quando não há intenção de matar - na direção de veículo automotor, previsto no artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro. Foi arbitrada uma fiança de R$ 10 mil, que não foi paga, por isso Wagner foi encaminhado para o Centro de Triagem de Viana no domingo (18).
Dentro do prazo legal estipulado, o delegado Maurício Gonçalves encaminhou à Justiça a conclusão do inquérito policial que investigava o acidente e concluiu que se tratou de um homicídio qualificado por motivo fútil, uma vez que foram reunidos fatos que apontam que Wagner ingeriu bebida alcoólica antes de pegar a direção do Corolla. Fora isso, ainda tentou fugir do local e não prestou socorro às vítimas.
Wagner continua detido no Centro de Triagem de Viana desde o dia do acidente. A reportagem entrou em contato com o advogado de defesa do motorista, Ramon Coelho, que disse ainda não ter se interado do conteúdo do inquérito e, por isso, não iria se manifestar.
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