Fechamento do portão com cadeado, ameaça de morte a crianças e professores — com armas brandas apontadas para elas —, e na mira de disparos que falharam. Na denúncia contra o jovem apresentada à Justiça Estadual pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES) são informados detalhes de como foi a dinâmica do ataque, ocorrido em agosto, a uma escola em Jardim da Penha, Vitória.
O crime foi praticado por um estudante de 18 anos, que, segundo a denúncia, vinha sendo planejado desde 2019. Foi apontado pelo MPES que ele tentou matar cinco pessoas, uma delas uma criança com dez anos. E ainda praticou constrangimento contra uma sexta vítima, também criança.
“Apenas não consumando os homicídios por circunstâncias alheias à sua vontade, por erro de pontaria e por ter sido contido a tempo pelo funcionário da escola, que precedeu à chegada da Polícia Militar”, assinala o MPES. Preso no dia do ataque, o jovem se encontra detido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Guarapari.
O jovem foi para a escola com diversas armas, apreendidas com ele, e preparado para promover o ataque, aponta MPES.
A atuação do jovem no dia do crime começou como ele acessando um jogo eletrônico. “Ele se preparou para o massacre acessando por horas um jogo eletrônico, que, nas palavras do próprio perito, trata-se de um jogo eletrônico de suspense policial onde o jogador controla uma garota que porta armas e atira em sua escola”, informa a denúncia.
Às 13h45, o denunciado solicitou uma corrida através do aplicativo Uber e foi para a escola, descendo próximo à unidade e se aproximando da vitrine de uma loja. Na sequência, ele se vestiu de roupa preta, “armando-se ostensivamente”, aponta o MPES.
1 - ENTRADA NA ESCOLA
O jovem tentou entrar pela portaria principal da Escola Municipal de Ensino Fundamental (EMEF) Eber Louzada Zipinotti, sob o pretexto de que participaria de uma reunião. O pedido foi negado pelo porteiro.
"Com a negativa, o denunciado se dirigiu até a lateral do colégio e pulou o muro para entrar", diz o texto da denúncia.
2 - PRIMEIRA VÍTIMA FOI A COORDENADORA M.
Já no interior do estabelecimento de ensino, o jovem se dirigiu até a sala dos professores. Foi quando avistou a coordenadora M., sua primeira vítima.
Imediatamente, a coordenadora e um outro professor, que estava na sala, correram e fecharam a porta, segurando-a. “Enquanto o jovem chutava na intenção de abri-la e consumar o intento homicida, mas foi impedido, razão pela qual se dirigiu até o segundo andar onde estariam mais vítimas em potencial (crianças)”, relata a denúncia.
3 - JOVEM DECIDE TRANCAR PORTÃO DA ESCOLA
O jovem se dirigiu até a entrada principal da escola e trancou o portão com cadeado próprio, que havia levado.
“A fim de impedir a fuga das vítimas e dificultar a entrada de quem pudesse impedir a ação criminosa, e evitar o socorro às potenciais vítimas”, relata o MPES.
4 - ERRO EM DISPARO CONTRA PRESTADOR DE SERVIÇO
No primeiro andar da escola, o jovem efetuou um disparo contra outra vítima, F., um prestador de serviços do colégio que estava no local. “Mas errou a mira e o disparo atingiu o muro”.
5 - ARMA APONTADA CONTRA A CABEÇA DE CRIANÇA
Já no segundo andar da escola, o jovem encontrou com uma criança de dez anos no corredor. Após constrangimento, ele mirou a arma — besta ou balestra — contra a cabeça da criança.
“Constrangendo-o ilegalmente, ordenando que calasse a boca e o acompanhasse, mirando a besta em direção à sua cabeça. Contudo, antes que pudesse tentar contra sua vida, a criança conseguiu chutar a besta, que caiu no chão, tendo o denunciado arranhado o rosto da vítima, causando-lhe as lesões descritas no laudo de lesões corporais”, é relatado na denúncia.
6 - JOVEM ATIRA CONTRA OUTRA COORDENADORA E CRIANÇA
O ex-aluno se dirigiu, então, até a sala do 5º ano, mirou e atirou com a besta contra L, que é professora e coordenadora, atingindo-a na região da perna. Em seguida, mirou e atirou contra uma aluna de dez anos.
7 - JOVEM CONFUNDE COORDENADORA COM OUTRA PESSOA E FAZ NOVO DISPARO
Enquanto o jovem preparava a arma branca, a coordenadora B. apareceu e conseguiu empurrá-lo para fora da sala de aula.
É explicado no texto da denúncia que o jovem confundiu a coordenadora B. com outra pessoa, com inicial V., que foi coordenadora na época em que ele estudou na escola, e a confrontou.
“A confrontou de forma odiosa se ela seria a pessoa de V. e, certo de que seria, efetuou um disparo de dardo contra ela, atingindo sua perna. No momento em que o denunciado armava novamente sua besta para atirar contra a vítima B., o professor de Educação Física P. conseguiu imobilizar o jovem até a chegada da Polícia Militar”, diz a denúncia.
8 - JOVEM CONFESSA “QUE SEU INTENTO ERA MATAR PESSOAS”
Quando os policiais militares chegaram à escola, o jovem já tinha sido contido. Foi o momento em que o jovem foi advertido sobre o direito de permanecer em silêncio, mas ele teria confessado o crime aos militares.
O advogado Carlos Alberto Trad Filho, que representa o jovem, informou que o "processo está em segredo de justiça". Por este motivo disse que "não posso dar maiores informações" sobre o caso.
A Gazeta não vai publicar detalhes sobre o ataque e sobre o autor seguindo recomendações de especialistas, em atenção ao chamado “efeito contágio”. Para os estudiosos, quando a mídia publica esse tipo de informação, aumenta a possibilidade de imitadores do ato, em busca de visibilidade e notoriedade. Este é geralmente um dos objetivos dos agressores, que passam a ser idolatrados por outros indivíduos propensos à promoção de novos massacres.
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