Os diagnósticos de depressão, além de aumentarem durante a pandemia, têm acometido mais as mulheres do que os homens em Vitória. No ano passado, cerca de 15,7% das moradoras relataram ter a doença, enquanto 5,3% das pessoas do gênero masculino sofriam com o mesmo problema.
Esse valor é superior à média nacional obtida pela Vigitel 2021, um levantamento do Ministério da Saúde divulgado em abril de 2022. No Brasil, independentemente do sexo, esse índice gira em torno de 11,3%, sendo que a média somente entre as mulheres é de 14,85%.
Os dados mostraram ainda que as capitais com maior incidência da doença entre elas foram Belo Horizonte (23%), Campo Grande (21,3%) e Curitiba (20,9%), e menos frequente em Belém (8%), São Luís (9,6%) e Macapá (10,9%).
Um dos principais motivos para a doença acometer sobretudo as mulheres, segundo o médico psiquiatra Rodrigo Eustáquio Telles Vieira, é a sobrecarga emocional, desencadeada tanto pelo acúmulo de atividades domésticas quanto pela desigualdade de gênero.
O especialista também acredita que, por ser silenciosa e motivo de tabu em alguns grupos sociais, existe a possibilidade de subnotificação da doença entre os homens, o que explicaria a diferença de porcentagem.
Outro fator que contribuiu para o agravamento da doença de forma geral em Vitória e que virou motivo de alerta para as autoridades de saúde foi a pandemia da Covid-19, conforme destaca a psicóloga Natane Moysés.
Um levantamento feito pela Universidade Estadual do Rio (UERJ), em 2020, sobre o impacto do novo coronavírus, revelou que o porcentual de casos tinha passado de 4,2% para 8% nos primeiros meses da crise no Brasil.
"Todo mundo tinha uma rotina que foi interrompida de forma abrupta e que, ao mesmo tempo, provocou medo. Além das inseguranças financeiras e do isolamento, o luto foi predominante durante esse período, sobretudo de pessoas que não esperávamos. Amigos e familiares jovens, saudáveis, que foram acometidas sem a chance de uma última despedida''. destaca Moysés.
Ainda segundo o levantamento da Vigitel, a incidência de depressão em Vitória é tão grande que já ultrapassa o da diabetes — doença crônica considerada muito comum. Na Capital Capixaba, 10,9% da população adulta foi diagnosticada com o transtorno de humor, e 8,8% possui o quadro autoimune.
O município segue a tendência nacional: o número de brasileiros acometidos pela doença em 2021 chega a uma média de 11,3% — superior ao número de portadores de diabetes, que somam 9,1%.
Conforme definição da OMS, a depressão resulta de uma complexa interação de fatores sociais, psicológicos e biológicos. Indivíduos que passam por eventos adversos (a exemplo de desemprego, luto, trauma, entre outros) são mais propensas a desenvolverem o transtorno.
Alguns dos principais sintomas são:
Seu tratamento normalmente acontece por meio de medicamentos ou acompanhamento psicológico, a depender do nível do transtorno, que pode variar de leve a grave.
"Estimamos que pelo menos 10% a 11% da população possui transtornos de humor, depressivos, e a tendência é aumentar cada vez mais. Já se tornou um problema de saúde pública", salienta o médico psiquiatra Jairo Navarro.
A psiquiatra Nathália Gurgel defende que existem algumas medidas que podem melhorar essa situação não apenas na capital capixaba, mas também em todo o Estado. Sem o apoio da família e de pessoas próximas, o diagnóstico se torna ainda mais difícil e o sentimento de desamparo do paciente pode aumentar, ocasionando a piora do quadro clínico.
"Também é muito importante a realização de políticas públicas com a finalidade de treinar equipes multidisciplinares para rastreio e triagem de pacientes com transtorno depressivo, para que eles possam ser identificados e tratados com maior agilidade, gerando uma melhor evolução da doença", completa.
Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem
Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta