> >
Desempenho na Educação vai definir repasse de ICMS para cidades do ES

Desempenho na Educação vai definir repasse de ICMS para cidades do ES

Os gestores vão precisar ficar atentos aos resultados educacionais ou poderão perder recursos, afetando a receita municipal

Publicado em 7 de dezembro de 2020 às 21:11

Ícone - Tempo de Leitura 0min de leitura
Foto de escola com sala de aula vazia
Os gestores municipais vão precisar apresentar melhores resultados na Educação para receber mais recursos do Estado. (Divulgação/Prefeitura de Linhares)

O bom desempenho das escolas municipais vai passar a ser um dos critérios para a definição do percentual de repasse do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços (ICMS) para os municípios do Espírito Santo. A mudança foi anunciada na tarde desta segunda-feira (7) pelo governador Renato Casagrande durante sua prestação de contas na Assembleia Legislativa.

Ao iniciar seu discurso, Casagrande informou que entregaria à Casa um projeto de lei com as mudanças. “A proposta é que o Índice de Participação dos Municípios (IPM) leve em consideração o desempenho dos municípios no Ideb, para que possam receber um volume maior ou menor de recursos. Estamos definindo como critério para o repasse dos recursos a qualidade da educação”, disse.

Casagrande destacou que o Espírito Santo já alcançou excelência no Ensino Médio no Brasil, em 2019. “Já estamos avançando no Ideb do ensino fundamental, mas queremos avançar ainda mais. Com a mudança, os próximos gestores municipais vão precisar ficar atentos com relação à qualidade da Educação, o desempenho da secretaria, dos diretores, porque com bom desempenho, receberá mais recursos. A nossa proposta é criar condições para melhorar a qualidade da educação”, assinalou.

O QUE MUDA

Segundo informações do governo estadual, de todo o ICMS recolhido pelo Estado, 25% são distribuídos aos municípios com base no IPM. O projeto apresentado na Assembleia muda o cálculo desse indicador para distribuição do ICMS, e ainda precisa ser apreciado pelos deputados antes de passar a vigorar.

Em nota, o governo explicou que o índice atual considera o Valor Adicionado Fiscal (VAF) que as empresas geraram em cada localidade. “Também é levada em conta a quantidade de propriedades rurais em cada cidade; a comercialização de produtos agrícolas realizados por produtores rurais dos municípios e a área geográfica da cidade, entre outros pontos”, pontuou.

Com a mudança, 75% do valor a ser repassado aos municípios será com base na proporção do VAF nas operações e prestações relativas ao ICMS, 12,5% com base no Índice de Qualidade Educacional (IQE), 3% no Índice de Qualidade na prestação de serviços de Saúde (IQS), 3,5%no Índice de Quantidade de Propriedades Rurais (IQPR), e 6% com base no índice de participação de cada Município na comercialização de produtos agrícolas, agropecuários e hortigranjeiros – ICR.

Ainda segundo a nota, serão criados coeficientes para avaliar a qualidade educacional de alunos a partir do primeiro ano do ensino fundamental. Da mesma forma, haverá coeficientes para medir a qualidade da saúde nos municípios, da quantidade de propriedades rurais e de comercialização rural. “Incluir coeficientes de qualidade da Educação e da Saúde no IPM faz com que gestores municipais passem a se preocupar ainda mais com essas áreas tão sensíveis aos moradores, trazendo ganhos para toda a população”, avalia o secretário de Estado da Fazenda, Rogelio Pegoretti, também em nota.

Se o projeto for aprovado, as mudanças entrarão em vigor para o cálculo do IPM de 2022, já que o índice de 2021 já foi definido.

MUDANÇAS DECORREM DO NOVO FUNDEB

Tânia Vilella, economista e editora da revista Finanças dos Municípios Capixabas, destacou que as mudanças foram determinadas pela Emenda Constitucional 108/2020 - nova lei do Fundeb -, aprovada este ano, que estabeleceu mudanças no financiamento da educação, devendo ser considerados os indicadores de melhoria nos resultados de aprendizagem. A nova regra deverá ser implementada em nível estadual até 2022.

Ela avalia que o novo critério para a educação, por exemplo, será um indutor. “Vai premiar quem tiver melhor desempenho na qualidade do ensino. O gestor municipal vai ter preocupação maior com a qualidade do ensino, caso contrário pode ter desvantagem na definição do IPM”, constatou.

Outro ponto importante, ressaltou Tânia, é que seria importante que a lei fosse aprovada ainda no primeiro semestre do próximo ano. Ela explicou que as mudanças vão trazer alterações no recebimento do dinheiro da cidade, o que afeta o planejamento e o orçamento dos municípios. “As cidades precisam se preparar, fazer uma projeção do índice deles, para se planejarem para 2022”, observou.

Na média, relatou a economista, os recursos do ICMS representam a principal receita das cidades capixabas. Em 2019, representou 21% de toda a receita dos municípios. “Alguns têm uma dependência maior do ICMS, ele participa mais da receita, e vai ser mais afetado se perder ou ganhar em função de um critério novo. Santa Maria de Jetibá, por exemplo, representa 40% de sua receita, ao contrário de Vila Velha, que equivale a 18% da receita municipal”, comparou.

Para Eduardo Araújo, economista e membro do Conselho Federal de Economia (CFE), a proposta encaminhada para a Assembleia é um avanço. “Cria um estímulo para que as cidades consigam competir não apenas no que é mais prático, como atrair empresa, mas em outro parâmetro. É uma excelente sinalização para os gestores de que a educação precisa ser priorizada na gestão. O prefeito vai perceber que terá que se preocupar em reter estudante na escola e que ele tenha uma nota melhor”, analisou.

Com a medida, ponderou o economista, ocorre uma inversão na discussão, que deixa de ser em torno dos prefeitos que precisam de mais dinheiro. “Agora estamos em outro momento, em que passou a ser mais importante a efetividade da aplicação dos recursos na área de educação. Uma lógica que deveria ser utilizada para a transferência de outros recursos”, concluiu.

Este vídeo pode te interessar

Notou alguma informação incorreta no conteúdo de A Gazeta? Nos ajude a corrigir o mais rapido possível! Clique no botão ao lado e envie sua mensagem

Envie sua sugestão, comentário ou crítica diretamente aos editores de A Gazeta

A Gazeta integra o

The Trust Project
Saiba mais