Após divulgação de estudo realizado por pesquisadores do Reino Unido, o qual apresentou bons resultados da aplicação de baixas doses do corticóide dexametasona em pacientes graves da Covid-19, a reportagem conversou com especialistas para entender em quais situações o uso do medicamento é recomendado e se ele de fato está apto a salvar vidas de pessoas infectadas pelo novo coronavírus. No Estado, ele já é usado em casos específicos, nas fases avançadas da doença, segundo a Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
Inicialmente, um informativo da Sociedade Brasileira de Infectologia, assinado pelo presidente Clóvis Arns da Cunha, nesta terça-feira (16), declarou reconhecer a eficácia na redução da mortalidade da doença de projeções pandêmicas. O documento afirma que a pesquisa feita por meio da Universidade de Oxford concluiu que todo paciente com Covid-19 em ventilação mecânica e os que necessitam de oxigênio fora da Unidade de Terapia Intensiva (UTI) devem receber dexametasona. Veja documento:
De acordo com o médico infectologista Lauro Ferreira Pinto, o uso do medicamento em questão para o tratamento dos casos graves do novo coronavírus não é exatamente novidade. "Dentre os procedimentos que os bons hospitais têm ensinado no manejo da Covid, está o tipo de ventilação em pronação, ou seja, por meio da qual as pessoas são colocadas com a barriga para baixo, liberando o pulmão; e também, como a doença tem inflamação muito grave na segunda fase, tem sido feito o uso de corticóide, como a dexametasona. Mas isso tem sido usado com critério, dentro dos hospitais", ponderou.
No mesmo sentido, a infectologista Rúbia Miossi também destaca a importância do uso do medicamento apenas nos hospitais. "A dexametasona vem para controlar uma fase do coronavírus que é a fase de inflamação, ele tem boa aplicabilidade ao paciente que está grave. O paciente do coronavírus que fica grave é porque tem uma resposta inflamatória do próprio organismo muito descontrolada. Então essa medicação vem no intuito de controlar a inflamação que o nosso corpo está causando, em resposta à infecção pelo vírus. É um remédio que não trata o vírus, mas que trata esta complicação grave, que é a síndrome de resposta inflamatória aguda grave, que acaba acontecendo nestes casos", explicou.
Os especialistas foram unânimes em afirmar que, sem prescrição médica, o uso da dexametasona pode apresentar riscos. Segundo Miossi, devem ser destacadas as chances de aumento da pressão arterial e da glicose, que é a taxa de açúcar no sangue. Para quem é diabético, isso significa que o Diabetes pode então ser potencializado ao se utilizar um medicamento como este.
Além disso, o uso prolongado e contínuo da medicação diminui a imunidade do paciente. "Assim a pessoa fica mais propensa a pegar infecções. É uma medicação que só deve ser utilizada nos casos que foram definidos pelo estudo, ou seja, para pacientes que estejam internados, precisando utilizar oxigênio, e para o paciente que esteja internado na UTI com ventilação mecânica. Não há indicação nenhuma por esse estudo de usar essa medicação em pessoas que estão em casa, sem alteração da oxigenação. Apesar disso, não podemos falar que os riscos da administração sejam os mesmos da cloroquina e da ivermectina, já que são drogas muito diferentes", afirmou a médica.
Da mesma forma, Lauro Ferreira Pinto afirmou que corticoides são imunodepressores, o que significa dizer que são capazes de reduzir a imunidade dos pacientes. "A pessoa fica mais vulnerável a algumas infecções, por isso o remédio deve ser usado com muito critério. O estudo inglês não fala no uso em pessoas que não precisam ser hospitalizadas, mas foi usado em pessoas hospitalizadas graves, necessitando de oxigênio ou de ventilação mecânica", disse.
Em nota técnica de número 42, divulgada pela Secretaria de Estado da Saúde (Sesa), existe menção expressa ao uso da dexametasona. O documento autoriza, ao considerar que em fases avançadas da Covid-19 há possibilidade de síndromes pulmonares, o uso dos corticoides em casos específicos, após décimo dia de sintomas e quando forem descartadas infecções bacterianas.
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