Cada dia, um novo desafio para vencer o vício. Com medo de desenvolver doenças graves, a dona de casa Gleice de Jesus dos Santos, de 38 anos, há sete meses decidiu que era hora de parar de fumar. “Eu vi parentes meus, por causa do vício, tendo problemas de saúde, câncer e indo a óbito. Eu não quero isso pra mim”, disse. Desde então, não colocou mais nenhum cigarro na boca.
O tabagismo mata mais de 8 milhões de pessoas pelo mundo todos os anos, segundo dados da Organização Mundial da Saúde (OMS). Desse número, 1 milhão são de pessoas que não fumam. Na verdade, elas são fumantes passivas. Desde 1987, o dia 31 de maio ficou marcado por ser o “Dia Mundial sem Tabaco”, uma data criada pela agência especializada em saúde para relembrar ao planeta o impacto que a droga pode ter na vida das pessoas.
No caso de Gleice, fumar para ela parecia ser uma necessidade diante de um quadro de ansiedade. “Eu não gostava do cheiro, do gosto, mas fumava de ansiedade. Era ansiedade que fazia eu fumar. Eu fumava muito. Parava na cozinha, botava um café na garrafa, conversava no telefone (como estou falando agora com você), e ia um cigarro atrás do outro. Eram dois maços por dia. Quando bebia (bebida alcoólica), chegava a ser três”, relatou.
A dona de casa contou que fumou pela primeira vez aos 14 anos, mas desenvolveu o vício depois de casar e o manteve por cerca de 10 anos. Ela conseguiu parar por quatro anos, mas teve uma recaída e voltou a fumar há quatro anos.
Antes e depois: Gleice quando fumava e depois quando se livrou do tabagismo. (Arquivo Pessoal)
Em outubro de 2021, após desenvolver uma tosse que considerou ‘esquisita’, resolveu procurar ajuda. Ela fazia também um tratamento para emagrecimento. Em meio ao tratamento, pensou em unir o útil ao agradável. “Eu tenho acompanhamento, mas não quis mais tomar medicamentos. Consegui colocar na minha cabeça que não quero mais e tenho ido adiante. Cada dia é um processo”, contou.
O cigarro é um veneno que me prejudicou muito. Eu sei que isso não nasceu comigo e não aceito isso na minha vida mais. E parei de beber também, desde então
Gleice de Jesus dos Santos
•Dona de casa
O que ajuda ela diariamente, contra a ansiedade, é ver séries e praticar atividades físicas. “Aquela ansiedade, eu troquei para outro lado. Faço atividade, vou na academia, assisto séries. A minha mente foca outro lugar”, disse a dona de casa.
TRATAMENTOS ESPECÍFICOS
Mulher segurando um cigarro. (shutterstock)
Especialista em cuidados paliativos, a médica Nathalia Duarte, da equipe de medicina preventiva da Samp, explica que cada paciente tem um tratamento específico. “Cada paciente precisa de um tratamento específico. A nicotina estimula a liberação de hormônios que dão prazer e o organismo sente prazer. O tratamento é para contornar essa situação”, relatou a médica.
O tratamento, normalmente, deve passar pelo acolhimento de equipes de enfermagem, avaliação médica, acompanhamento com pneumologista e psicólogo.
Entre os medicamentos disponíveis, há o uso de adesivos à base de nicotina e também de ansiolíticos. “Quando a pessoa tem essa noção da importância de parar, ela vai parar hoje. É importante saber que quem quer parar precisa de ajuda. Tem que perseverar”, reforçou Nathalia.
Gleice é um exemplo de uma pessoa que teve recaída no cigarro. Segundo a especialista isso não quer dizer que o tratamento não deu certo.
“Infelizmente existem casos de recaídas, e o acompanhamento faz a diferença. Não quer dizer que não teve sucesso no tratamento. O acolhimento é para fortalecer a questão psicológica, é preciso entender o que está associado ao hábito. Diante disso, se mostra a importância de cessar o tabagismo devido aos riscos de adoecer”, explicou.
O cigarro causa doenças respiratórias, como enfisema pulmonar e câncer no pulmão, também doenças cardiovasculares, como infarto. O acidente vascular cerebral (AVC) é outro exemplo. Diversos tipos de câncer são ocasionados pelo fumo.
TRATAMENTO NOS MUNICÍPIOS
Prefeituras da Grande Vitória e do interior do Estado, em Colatina, Cachoeiro de Itapemirim e Linhares, vão realizar ações nesta terça-feira (31) para a conscientização do fumante. Elas oferecem também apoio e tratamento a quem deseja encerrar o vício a partir de grupos de combate ao tabagismo, que fazem reuniões. Os atendimentos acontecem inicialmente em unidades básicas de saúde (UBS).
Há a possibilidade de ter acompanhamento médico, com especialistas de diferentes áreas, como dentistas, psicólogos, entre outros. Há também a disponibilidade de medicamentos. Confira:
Vitória
Em Vitória, todas as 29 unidades de saúde estão aptas a realizar ações para enfrentar o tabagismo em dois eixos: na prevenção e no tratamento dos fumantes, por meio do Grupo de Apoio Terapêutico ao Tabagista (GATT).
O indivíduo deve passar por uma consulta de avaliação clínica antes de iniciar as sessões de abordagem, onde serão avaliados o nível de dependência física da nicotina, a motivação da pessoa em deixar de fumar, se há indicação ou contraindicação de uso do apoio medicamentoso, existência de comorbidades psiquiátricas e sua história clínica.
Vila Velha
Com o intuito de reduzir os problemas causados pelo uso do cigarro, a Prefeitura de Vila Velha, por meio da Secretaria de Saúde, proporciona ações de combate ao tabagismo, através de abordagens comportamentais e, se necessário, uso de medicamentos de forma complementar.
Para participar do grupo, o cidadão pode procurar a Unidade Básica de Saúde mais próxima da residência e realizar a inscrição. Na ocasião, os funcionários vão informar os dias e horários em que as reuniões dos grupos acontecem. A partir disso, uma equipe de profissionais multidisciplinar, composta por médicos, dentistas, psicólogos e entre outros especialistas, vão prestar assistência ao munícipe.
Dessa maneira, os participantes passam por quatro sessões de atendimento, onde o tratamento é conduzido de modo personalizado, de acordo com as necessidades de cada um e, se for preciso, contarão com sessões de apoio exclusivas. Além da assistência dos profissionais da saúde e das trocas pessoais durante as rodas de conversa, o munícipe aprende estratégias específicas para abandonar o vício, com exercícios a serem praticados no dia a dia.
As Unidades Básicas de Saúde (UBS) que participam do projeto auxiliando munícipes a desenvolver habilidades para cessar o fumo e permanecer sem a compulsão são:
Araçás
Barra do Jucu
Coqueiral de Itaparica
Dom João
Ibes
Jaburuna
Paul
Ponta da Fruta
Santa Rita
Terra Vermelha
Ulisses Guimarães
Vale Encantado
Vila Garrido
Vila Nova
Cariacica
Quem mora em Cariacica pode contar com o acolhimento do Programa Municipal de Apoio à Pessoa Tabagista, que funciona em quatro Unidades Básicas de Saúde:
Jardim América
Santa Fé
Jardim Botânico
e Nova Rosa da Penha II
A pessoa que quer parar de fumar deve fazer a inscrição na unidade que oferece o programa. Não há fila de espera. O usuário já sai da inscrição com data de avaliação agendada.
Após as quatro sessões, quem conseguiu parar de fumar começa a participar de sessões quinzenais e pode ser acompanhado por um ano para evitar recaídas. E quem não conseguiu parar pode passar por novo acolhimento e reiniciar o programa, que tem foco na mudança de hábitos.
Serra
Na Serra, o serviço é oferecido pelas seis Unidades Regionais de Saúde (URS):
Serra Sede
Serra Dourada
Jacaraípe
Feu Rosa
Novo Horizonte
Boa Vista
Na quarta-feira, 1º de junho, às 14h, terá uma ação na Unidade Regional de Saúde de Novo Horizonte de orientação aos usuários sobre o tabagismo e captação de pacientes para ingressar no Programa Municipal de Tabagismo.
O programa é formado por uma equipe multidisciplinar composta por: médico, enfermeiro, farmacêutico, psicólogo, assistente social, nutricionista e fisioterapeuta.
O participante do Grupo de Apoio ao Tabagista deverá apresentar os seguintes documentos: cartão SUS, comprovante de residência, documento de identificação original e com foto e a inscrição realizada pela unidade de referência do usuário.
Viana
A Prefeitura de Viana, por meio da Secretaria de Saúde (SEMSA), oferta tratamentos e orientações em todas as 18 unidades de saúde do município para quem deseja deixar a dependência.
O programa consiste em atendimentos de forma individual ou em grupo a pacientes que desejam dar fim a dependência ao tabaco. Para ter acesso, é necessário buscar a unidade de saúde mais próxima e solicitar encaminhamento médico.
O paciente passa por avaliação médica antes de ter acesso a medicações que compõe o tratamento. Além disso, é ofertado acompanhamento psicológico durante 12 meses com intuito de garantir que a pessoa permaneça abstinente.
Colatina
Em Colatina, as pessoas que queiram participar do Programa Municipal de Controle do Tabagismo intensivo ao fumante devem procurem a unidade de saúde mais próxima de casa, para ser encaminhada para o tratamento.
Mais informações pelo telefone: (27) 3711-9550 ou 99504-4842.
Linhares
Quem quer parar de fumar conta com um programa oferecido de graça pela Prefeitura de Linhares. É o Programa Municipal de Controle do Tabagismo.
Entre as atividades desenvolvidas no programa, estão: atendimento individual com médico, psicólogo, enfermagem e assistente social; atendimento em grupo cognitivo-comportamental; busca ativa de pacientes inseridos no programa; acompanhamento na evolução do tratamento, inclusive online; relatório de controle trimestral de mapa de medicamento; atividade socioeducativa através de palestras e oficinas nas escolas e empresas; encaminhamento à rede de proteção social (previdência, farmácia cidadã, Unidades de Saúde e outros)
Para participar do grupo é preciso se cadastrar no programa e aguardar a formação de novos grupos. Além do encaminhamento feito pelas unidades de saúde, os tabagistas que desejam abandonar o vício de fumar podem procurar diretamente o Naps, no Bairro Colina, Rua Governador Bley, S/N, no antigo Hospital Talma.
Programa Municipal Controle de Tabagismo - Telefone: (27) 3372-7424
Cachoeiro de Itapemirim
A Secretaria de Saúde de Cachoeiro de Itapemirim (Semus) oferece apoio clínico gratuito ao fumante que deseja deixar o vício. Para ter acesso ao tratamento, basta ir a uma das unidades básicas do município ou ao Centro de Saúde “Bolívar de Abreu”, que funcionam de 7h às 16h, e marcar uma consulta para a avaliação clínica com enfermeiro.
Depois da avaliação, o paciente passa a integrar o programa e conta com atendimento coletivo ou individual, além de participar de grupos de apoio e palestras que abordam a temática.
Caso necessite, o paciente ainda terá acesso a medicamentos recomendados pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca), como adesivos de nicotina, goma de mascar e Bupropiona, de acordo com o grau de dependência de nicotina, identificado por meio do Teste de Fagerstron.
SEM CIGARRO, MAIS TEMPO DE VIDA
Há pesquisas que mostram o benefício de parar a curto e longo prazo. “É claro que, num cenário ideal, é melhor não começar a fumar, até porque sabemos das dificuldades para abandonar um vício já instalado, mas as pesquisas indicam que há benefícios imediatos em deixar o cigarro. Além deles, o tempo de vida aumenta proporcionalmente o quão antes alguém abre mão do cigarro”, afirmou a médica pneumologista da MedSenior Lívia Marques da Silva Gama.
Em pesquisa, segundo a médica cardiologista Jaqueline Issa, quem para de fumar aos 30 anos ganha quase 10 anos em expectativa de vida. Aos 40, seriam nove anos a mais. Aos 50, seis anos e, aos 60, três anos.