O medo de contrair a Covid-19, doença causada pelo novo coronavírus, provocou um aumento de até 287,17% no Espírito Santo nas vendas de remédios que foram associados a sua prevenção, mesmo sem comprovação científica. Medicamentos, como a hidroxicloroquina, chegaram a acabar nas farmácias depois que o presidente americano, Donald Trump, e o presidente da República, Jair Bolsonaro, disseram que seria eficaz contra a enfermidade.
Os dados são do Conselho Federal de Farmácia em relação a seis substâncias: ácido ascórbico (vitamina C), colecalciferol (vitamina D), dipirona sódica, hidroxicloroquina, ibuprofeno e paracetamol. O estudo comparou a quantidade de comprimidos e cápsulas comercializados nas farmácias entre os meses de janeiro a março deste ano em relação ao mesmo período do ano passado.
No primeiro trimestre do ano foram vendidos 8.369 unidades de hidroxicloroquina nas farmácias do Estado, enquanto que no ano passado foram 4.446 unidades, ou seja, 3.923 (88,4%) a mais em 2020. A porcentagem do Espírito Santo, inclusive, é maior que a média do Brasil de alta de 67,93% na venda desse medicamento.
Segundo o presidente do Conselho Regional de Farmácia do Espírito Santo (CRF-ES), Luiz Carlos Cavalcanti, a hidroxicloroquina é usada contra a malária e doenças autoimunes, como artrite e lúpus. A busca por ela ocorreu devido à sua associação ao tratamento contra a Covid-19, mas não existe nenhuma pesquisa conclusiva sobre sua eficácia.
Devido ao grande aumento da venda, a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) decidiu enquadrar a hidroxicloroquina e cloroquina como medicamentos de controle especial. Dessa forma, entrega ou venda do medicamento nas farmácias e drogarias só pode ser feita para pessoas com a receita especial, para que uma via fique retida na farmácia e outra com o paciente.
Há estudos que apontam que a hidroxicloroquina pode ser útil, mas nenhum é conclusivo. O Conselho Federal de Medicina autorizou que o médico prescrevesse o medicamente de acordo com alguns critérios em pacientes com diagnóstico confirmado de Covid-19. Além desse remédio, muitos outros tiveram aumento porque as pessoas estão com medo de ir aos hospitais, dessa forma, passaram a tomar mais remédios que ajudam a aumentar a imunidade, como vitamina C, D, informou.
O medicamento com maior aumento na procura foi o ácido ascórbico (vitamina C), que registrou crescimento de 282,17%. Em 2020 a quantidade comprada foi de 518.530 unidades, já em 2019 foi de 135.679 unidades. Durante a pandemia circularam informações em redes sociais que o consumo máximo de vitamina C natural pode fortalecer o sistema imunológico e combater o novo coronavírus.
A comercialização de paracetamol também teve um crescimento expressivo de 73,92%, saltando de 255.119 comprimidos vendidos em 2019 para 443.701. Assim como a venda de dipirona sódica, que cresceu 59,37%, com 335.730 medicamentos no ano passado contra 535.049 atualmente.
O único remédio que teve redução na procura foi o anti-inflamatório ibuprofeno. Foram vendidas 2937.38 unidades em 2020, já em 2019 foram 277.489 unidades, houve uma queda de 5,53%. A Organização Mundial da Saúde (OMS) recomendou que pessoas com sintomas do novo coronavírus não usem ibuprofeno para aliviá-los, mas voltou atrás a respeito dos riscos relacionados ao uso do medicamento nos pacientes diagnosticados com Covid-19.
Luiz Carlos ressalta que as pessoas devem evitar se automedicar, sempre devem tomar remédio com orientação médica. Ele esclareceu que há casos que o medicamento traz mais danos que benefícios. A hidroxicloroquina, por exemplo, pode trazer diversos efeitos colaterais, com a perda da visão, redução da imunidade, anemia, distúrbios auditivos, falta de equilíbrio, diarreia, vômito, psicose e irritabilidade.
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