“Mamãe, meu coração está doendo” foi a última frase que a professora Alessandra Marcelino ouviu da filha Ana Luisa Ferreira Marcelino, de dez anos, antes de a menina ser levada para uma sala de emergência do Hospital Estadual Roberto Arnizaut Silvares, em São Mateus, no Norte do Estado. A garota morreu no dia 12 de janeiro de 2021, após ser atendida pelo falso médico Leonardo Luz Moreira. Dois anos depois, a família espera por Justiça. O inquérito que investiga a morte da criança ainda não foi concluído.
No braço, a mãe carrega uma homenagem para a filha. Um desenho feito por Ana Luisa virou uma tatuagem, como uma forma de manter a menina sempre perto. A professora lembra com dor e indignação dos últimos momentos com a menina.
“Para mim é muito difícil relembrar aquela cena. Eu a acompanhei até a sala de emergência e, logo depois, ele (o médico) veio e eu comecei a gritar por socorro. Eu perguntei para ele o que ele fez com a minha filha”, lembrou Alessandra, em entrevista para a repórter Rosi Bredofw, da TV Gazeta Norte.
Na semana passada, familiares e amigos colocaram um outdoor em frente ao hospital em que a menina morreu e fizeram uma manifestação na porta da delegacia de São Mateus, onde o suposto crime é investigado. No cartaz, eles reforçaram que querem resposta e justiça.
No dia 11 de janeiro de 2021, Ana Luisa Ferreira Marcelino começou a vomitar e a ficar pálida. A mãe, preocupada, levou a filha para o Hospital Estadual Roberto Arnizaut Silvares, em São Mateus. Lá, segundo Alessandra, elas foram atendidas por Leonardo Luz Moreira – um falso médico.
“Na hora que a enfermeira pulsionou a veia dela, minha filha começou a ficar pálida. Quando começou a aplicar a injeção de medicação, minha filha começou a gritar ‘mamãe, meu coração está doendo’”, relatou a mãe, na ocasião.
Um medicamento foi prescrito e aplicado na veia da criança. Logo em seguida, a menina começou a passar muito mal, teve complicações e morreu. O corpo dela foi levado para o Serviço de Verificação de Óbitos, que fica em Vitória. Na certidão de óbito consta que a morte se deu por gastroenterite viral.
Leonardo Luz Moreira, o médico que atendeu a menina, foi preso pela Polícia Federal no dia 18 de agosto de 2021, durante uma operação voltada ao combate de prática ilegal da medicina. Ele foi apontado como um falso médico.
As investigações apontam que ele se matriculou em uma faculdade da Bolívia, onde estudou medicina por apenas seis meses, adulterou os documentos para parecer que já havia cursado quatro anos e pediu transferência para uma instituição brasileira.
Ainda de acordo com as investigações, o falso médico foi contratado por diversas prefeituras da Região Norte do Espírito Santo e também pelo Governo do Estado.
Segundo a Secretaria Estadual de Justiça (Sejus), poucos meses após a prisão, Leonardo foi solto por meio de alvará, em dezembro de 2021.
Por nota, a Polícia Civil, por meio da Delegacia Especializada de Homicídio e Proteção à Pessoa (DHPP) de São Mateus, informou que o inquérito policial sobre o caso está em fase de relatório final, mas que foi requisitado pelo Ministério Público do Espírito Santo (MPES).
O órgão, por sua vez, disse que acompanha o caso e requisitou o documento para análise. "No momento, não é possível fornecer mais informações para evitar eventuais prejuízos às apurações. Após a conclusão do IP pela Polícia Civil, o MPES voltará a analisar os autos para a adoção das medidas cabíveis", afirmou.
Procurada, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa), que é responsável pelo hospital onde a menina morreu, informou que o homem não era servidor estadual e, sim, funcionário de uma empresa contratada para a prestação de serviços médicos.
A reportagem de A Gazeta tenta localizar a defesa de Leonardo e o espaço segue aberto para manifestação.
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