O Espírito Santo chegou a 8 mil mortes causadas pelo novo coronavírus. Triste por si só, a marca atingida nesta quinta-feira (8) ainda vem acompanhada de outro péssimo indicador: a virada de patamar nunca aconteceu tão rápido. Há apenas 16 dias, o Estado ainda ultrapassava os 7 mil óbitos.
Anteriormente, o menor intervalo de tempo havia ocorrido durante o primeiro pico da pandemia, no meio do ano passado, quando foram necessários 29 dias para a quantidade de vidas perdidas sair de 1 mil (em junho) para 2 mil (em julho). Desde então, mil novas mortes nunca tinham sido acumuladas em menos de 40 dias.
Para a contagem, A Gazeta considerou que a pandemia no Espírito Santo teve início no dia 5 de março de 2020, com a confirmação do primeiro caso pelo Ministério da Saúde. Sendo assim, o Estado chegou a mil óbitos no 100º dia e a 8 mil no 400º dia – sinal claro do agravamento.
Diretor do Instituto Jones dos Santos Neves, o pesquisador Pablo Lira explica que a piora se deve a quatro principais fatores: a sazonalidade das doenças respiratórias, as aglomerações mais frequentes, a menor adesão às medidas de distanciamento social e as novas variantes — como a inglesa, que já se mostrou mais contagiosa e letal.
• 1 mil mortes: em 13 de junho, com 100 dias de pandemia
• 2 mil mortes: em 12 de julho, com mais 29 dias
• 3 mil mortes: em 21 de agosto, com mais 40 dias
• 4 mil mortes: em 15 de novembro, com mais 86 dias
• 5 mil mortes: em 29 de dezembro, com mais 44 dias
• 6 mil mortes: em 8 de fevereiro, com mais 41 dias
• 7 mil mortes: em 23 de março, com mais 44 dias
• 8 mil mortes: em 8 de abril, com mais 16 dias de pandemia
Outra comparação que salta aos olhos é a média diária de mortes. Entre os meses de agosto e novembro, cerca de 11 pessoas morriam por dia devido ao coronavírus no Estado. Já entre o final de março e o início de abril deste ano, esse número saltou para 62 pessoas por dia — e ainda pode piorar.
De acordo com a epidemiologista Ethel Maciel, a pandemia vai se agravar nas próximas semanas e o mês de abril pode terminar como o mais mortal de todo o período. "Pelos números que temos, devemos chegar a 130 óbitos por dia, antes de melhorar", afirma. A redução deve ocorrer só a partir de maio.
A primeira morte por Covid-19 no Estado foi confirmada no dia 2 de abril de 2020, em um homem de 57 anos. De lá para cá, a doença avançou de tal forma que ficou impossível individualizar todas as perdas. Morreram idosos, médicos, policiais, indígenas, capixabas saudáveis, padres, bebês e até mãe e filha, no intervalo de um dia.
Junto dessas 8 mil dores e saudades, o Espírito Santo também tem acumulado outros recordes: na última segunda-feira (5), o Estado chegou a mais de 900 pessoas internadas em leitos de UTI, que lutam para sobreviver; e na terça-feira (6), registrou 110 novos óbitos em apenas 24 horas.
Ou seja, apesar do cansaço de mais de um ano de pandemia, cuidados como evitar aglomerações, sair de casa só quando necessário, higienizar as mãos e usar máscara adequadamente seguem sendo igualmente essenciais — ou até mais. "O Governo do Estado tem aumentado os leitos hospitalares, mas devemos chegar ao limite neste mês", diz Pablo Lira.
Diante da alta pressão na rede pública hospitalar, a Secretaria Estadual de Saúde (Sesa) anunciou abertura de novas vagas, totalizando até 1.100 em Unidades de Terapia Intensiva (UTI) em abril. Atualmente, o Espírito Santo conta com 1.009 leitos intensivos e 930 de enfermaria, dos quais 922 e 738 estão ocupados, respectivamente.
Para evitar o colapso, a Sesa também anunciou uma estratégia de testagem em massa, um novo mapa de risco com mudanças nas medidas restritivas e reforçou o pedido para que as pessoas procurem assistência médica ao sentirem qualquer sintoma da Covid-19. Paralelamente, o Estado vai começar a vacinar os idosos com 60 anos ou mais nos próximos dias.
No último pronunciamento, o secretário Nésio Fernandes pediu, novamente, colaboração aos capixabas. "O cansaço não pode virar negação ou comportamento de alto risco. Temos 75% da população em cidades de risco extremo. Sem redução da interação social, não será possível evitar que muitos óbitos ocorram", afirmou.
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