Nos últimos dois meses, o novo coronavírus tem sido mais fatal que a violência registrada nos municípios capixabas. Nos primeiros cinco meses do ano, a Secretaria de Estado da Segurança Pública (Sesp) registrou 514 assassinatos. Já a primeira morte por coronavírus foi confirmada pela Secretaria de Saúde (Sesa) no dia 1º de abril. Em maio, o Estado encerrou o mês com 604 óbitos provocados pela Covid-19.
Em entrevista recente, o secretário de Saúde, Nésio Fernandes, informou que o mês de maio foi iniciado com 124 mortes e encerrado com um aumento de mais de 300% do total de casos no período de 31 dias. Enquanto isso, a Secretaria de Segurança Pública apresentava o índice de 76 homicídios no mesmo intervalo de tempo. Em 2019, foram 80 mortes violentas.
Chegamos a 604 mortes no último dia de maio. Começamos o mês com 124 óbitos. Se o indicador crescer na mesma proporção no mês de junho, podemos passar de 1.200 óbitos. A sociedade precisa entender que Covid mata, e mata muito. A declaração foi dada pelo secretário estadual da Saúde, Nésio Fernandes, na manhã desta terça-feira (2), durante entrevista concedida à jornalista Fernanda Queiroz, da Rádio CBN Vitória.
Pablo Lira, presidente em exercício do Instituto Jones dos Santos Neves (IJSN) e professor do mestrado em segurança pública da UVV, observa que os homicídios no Brasil são considerados uma epidemia.
Os assassinatos integram a categoria de causas externas que, desde 2014, mantêm o segundo lugar no ranking dos principais motivos para mortes no país e também no Espírito Santo, com aproximadamente 17% das ocorrências no Estado.
Já as doenças infecciosas, entre as quais se encaixa agora a Covid-19, ocupava a 5ª colocação até o ano passado, com 3% das mortes. Mas, numa análise futura sobre o ano de 2020, Pablo Lira prevê mudanças. "Esses indicadores vão ser alterados. A Covid inverte a lógica e, esses primeiros meses, com número de óbitos superior ao de homicídios, demonstra a alta letalidade e o risco da doença", ressalta.
O professor aponta ainda um perfil diferente entre as vítimas: enquanto os homicídios atingem, sobretudo, homens de até 29 anos, a Covid tem matado mais pessoas do sexo masculino, porém a faixa etária frequente é superior a 60 anos.
O Espírito Santo alcançou a marca de 737 mortes por Covid-19 até esta quinta-feira (04). Dessas, 39 foram registradas em apenas um dia. As informações atualizadas diariamente no Painel Covid-19 também apontavam 16.894 casos, sendo que 773 foram contabilizados nas últimas 24 horas.
Caso a velocidade de contágio não diminua, em 15 dias o Estado pode dobrar o número atual de mortes, alcançando algo em torno de 1,4 mil pessoas, isso ainda se o sistema de saúde não entrar em colapso. Do contrário, a quantidade de óbitos será ainda maior. A projeção é de Etereldes Gonçalves Júnior, professor do Departamento de Matemática da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes).
E as previsões indicam que o Estado pode alcançar a indesejável marca de 800 mortes já no próximo fim de semana. Em entrevista ao Bom Dia ES, da TV Gazeta nesta quinta (3), o subsecretário de Vigilância em Saúde, Luiz Carlos Reblin, reforçou a importância das medidas de higiene e distanciamento social. Temos atualmente quase 700 óbitos (698) confirmados, outros 62 estão em investigação e a previsão de chegarmos à marca de 800 mortes até o fim de semana está se confirmando, salientou o representante da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
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