Familiares, amigos e moradores da região de Coqueiral de Aracruz, no Litoral Norte do Espírito Santo, onde duas escolas foram alvos de um ataque a tiros na manhã de sexta-feira (25), se reuniram na manhã deste sábado (26) para velar os corpos das vítimas da tragédia, que deixou pelo menos quatro mortos –três professoras e uma estudante – e 12 feridos.
Entre os mortos está Selena Zagrillo, de 12 anos. A estudante do Centro Educacional Praia de Coqueiral (CEPC) morreu no local, após ser atingida por dois tiros. Ela está sendo velada na capela mortuária de Coqueiral de Aracruz.
Segundo informações da família, o velório vai até as 13h, quando o corpo da menina será levado para sepultamento na cidade de Ibiraçu, município vizinho de Aracruz.
Auxiliar de serviços gerais da escola, Glória Barcelos Loyola lamentou a perda de Selena, considerada uma menina atenciosa. “Não tivemos nem como socorrer. Já estava morta, tadinha”. E acrescentou: “Ela era muito linda. Levava biscoitinho para a gente. Nossa. Vai ficar tudo na memória.”
Ela conta ainda que estava limpando a escola no momento em que o ataque aconteceu e que, a princípio, pensou que o barulho era referente a algum tipo de brincadeira. “Aí quando eu vi ele chegando, já tirando a arma, começou a atirar. Foi a hora que todo mundo saiu correndo. Meu sobrinho (que estuda na escola) já estava lá em cima, subiu uns dez minutinhos antes. Graças a Deus ele está bem.”
Morador da região, o pintor Carlos César Souza dos Santos também está entre as pessoas que apareceram para prestar as condolências e declarou que a sensação é de tristeza e perplexidade diante do ocorrido.
“Eu nunca tinha visto isso. Vi na televisão, no Rio de Janeiro, em São Paulo. E eu falava: Deus abençoe para que nunca aconteça por aqui. E agora aconteceu. Fiquei muito chocado com isso. Fui lá ver a criança. Ontem eu fui ali perto da escola, estava cheio de polícia. É muito triste, triste mesmo. Aquela situação ali, ver a família chorando… É muito triste ver uma criança, uma jovem dentro de um caixão, os familiares, amigos, todos chorando. Tem muita gente aqui homenageando a vida dela. E fica a saudade agora.”
As outras duas vítimas são as professoras da Escola Estadual Primo Bitti, Maria da Penha Pereira de Melo Banhos, de 48 anos, conhecida como "Peinha", e Cybelle Passos Bezerra, de 45 anos.
O corpo de Cybelle também está sendo velado na capela mortuária de Coqueiral, segundo informações do G1 ES. Já o corpo de Peinha foi levado para ser velado na capela mortuária do bairro Jardins, em Aracruz. O sepultamento dela está previsto para as 14h; a família não informou o local.
A professora de biologia Jéssica dos Santos Conceição Perini compareceu ao velório de Peinha, para despedir-se da colega, que era querida por muitos.
“Os alunos chamavam ela de Penhoca, carinhosamente. Era uma pessoas super prestativa, tudo que a gente precisasse ela estava sempre pronta para ajudar. Era uma pessoa maravilhosa. Ela era ótima. Nunca imaginávamos isso. A gente vê televisão acontecendo e nunca imagina que vai acontecer conosco. Infelizmente, hoje a gente chora pela morte de duas das nossas colegas, e as outras que estão hospitalizadas, a gente não sabe realmente como está o estado de saúde.”
Jéssica também estava na sala dos professores no momento do ataque e relatou os momentos de terror.
“Nós ouvimos barulho. A princípio a gente achou que era bombinha, antes de ele entrar na sala. Mas eram muitos e começamos a correr. Mas jamais imaginamos que poderia ser algo entrando, talvez um tiroteio ali do lado de fora. E aí, de repente, a gente viu ele entrando pela porta. Foi um desespero. Eu me abaixei em frente ao sofá e só fiquei ali deitada, esperando o tiro chegar em mim. Eram muitos tiros, muitos tiros. E eu estava esperando a hora que ia chegar o meu, só pedindo a Deus que, se fosse minha hora, me perdoasse.”
E emendou: “Fiquei um tempo ali abaixada ainda e quando abri os olhos, vi o sangue, foi que percebi o estrago que ele tinha feito, todos que estavam a minha volta agoniados, a professora do lado agonizando, a Penha que já imaginávamos que tinha falecido, outras duas de bruços. Um cenário de terror que a gente nunca deseja para ninguém passar.”
Pai de uma estudante do turno vespertino da Escola Primo Bitti, o autônomo Alex de Oliveira da Fonseca lamentou as perdas e se disse abalado com o que aconteceu.
“De repente, você vê naquele corredor uma pessoa correndo, puxando uma arma, mirando para acertar uma pessoa. Ninguém imaginava. Que Deus tenha misericórdia dessas famílias, e da família dos pais do menino também. Que a justiça possa ser feita, mas que Deus possa dar esse refrigério para todas as pessoas, inclusive para mim. Poderia ter sido minha filha. Minha filha estuda à tarde no Primo Bitti. Poderia ter sido ela também.”
O autônomo fez ainda um pedido: “Que as pessoas possam ter mais empatia, se colocar no lugar das outras pessoas. Estamos vendo tempos difíceis. Que as pessoas possam ter mais amor pelas pessoas.”
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