Nas últimas semanas, chamou a atenção o grande número de baleias encalhadas no litoral do Espírito Santo. Desde o começo do mês, oito filhotes foram encontrados nas praias do Estado. Para Lupércio Barbosa, diretor do Instituto Orca, esse alto número de encalhes está relacionado a uma combinação de mau tempo com o período migratório dos animais.
Durante entrevista ao repórter Fábio Botacin da Rádio CBN nesta quarta-feira (12), Lupércio explicou que, durante o período reprodutivo, as baleias fazem uma espécie de migração até a Linha do Equador, saindo das águas geladas da Antártida para o mar quente dos trópicos. A área de concentração desses animais, porém, é entre o litoral do Espírito Santo e o sul da Bahia.
"A área de concentração delas é realmente aqui na região Sudeste, entre o Espírito Santo e o litoral sul da Bahia. É uma área de reprodução, nascimento e cria de filhotes. Muitos desses animais possivelmente são capixabas. Até o final de setembro e início de outubro, quando o filhote já tem uma garantia de estrutura física, a mãe retorna para as áreas de alimentação na Antártida. Então essas mães voltam para se alimentar e depois voltam para amamentar o filhote com leite materno. Esse ciclo se repete a cada ano", explicou.
A grande concentração desses animais nesse período do ano, portanto, é considerada normal. Porém, os encalhes não deveriam ser tão regulares. Lupércio afirmou que possivelmente isso acontece por conta de uma combinação da aglomeração desses animais nessa região com um período de mau tempo, que leva, principalmente os filhotes, a se perdem da mãe indo mais próximo do litoral.
"O período de vento sul, ventos fortes que normalmente deslocam esses animais para o continente, coincidiu com o período em que os animais estão nascendo. Os vestígios encontrados nas carcaças indicam que são animais recém nascidos, têm pouco mais de dois meses de idade. Ou nasceram aqui, ou nasceram chegando aqui. Supõe-se que, por algum motivo, talvez pelo fato da mãe não ter experiência, associado ao mau tempo e uma possível atividade humana, como um artefato de pesca, uma embarcação, pode ter causado a perda do filhote", disse.
Lupércio ressaltou também que a localização das praias onde os animais foram encontrados pode explicar parte do hábito das baleias. Isso porque foram, em sua maioria, regiões afastadas, com pouco barulho. O diretor do Instituto Orca citou, porém, que isso dificulta em parte o trabalho dos pesquisadores.
"Foram pontos coincidentemente isolados do litoral Capixaba, que por um lado dificulta a chegada das equipes e todo o trabalho que pode ser desenvolvido, mas possivelmente está relacionado ao hábito desses animais, porque mesmo que eles estejam na condição de estresse, ele sabe escolher em qual praia pode encostar, com menos barulho", disse.
No caso de se deparar com uma baleia encalhada, Lupércio disse que a ação de agentes locais é importantíssima no auxílio ao socorro do animal. Ele reforçou que o ideal é informar órgãos ambientais, mas que o Corpo de Bombeiros também pode ser contactado. Além disso, o próprio Instituto Orca também deve ser acionado através do número 0800 039 5005.
"A gente tem um número que é disponibilizado pela empresa de monitoramento, não só para o resgate de baleias, mas de golfinhos, tartarugas, etc. Qualquer pessoa pode ligar, mas a princípio qualquer agente local que tenha condições de ajudar, as pessoas devem informar para ele. O guarda-vidas tem um papel principal, pois tem a condição física e preparo para proceder todos os cuidados até a chegada do órgão ambiental, que pode dar essa assistência", informou.
E a preocupação com as baleias continua, já que a Marinha emitiu um alerta para ventos de até 75 quilômetros por hora no litoral sul do Espírito Santo. O órgão explicou que podem haver reflexos em todo o litoral do Estado. O alerta é válido até esta sexta-feira (14).
No último dia 29, a Marinha já havia emitido outro alerta válido até o dia 1º de agosto para ventos de até 75 km/h no litoral Capixaba. O alerta também notificava que a associação entre ventos e frente fria poderia gerar ondas de até 3,5 metros no mar do Espírito Santo, o que pode ter sido um fator preponderante para a grande quantidade de baleias encalhadas nas praias do Estado.
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