O efeito da pandemia do novo coronavírus na educação nacional tem gerado incertezas e debates entre estudantes, escolas e gestores. A pasta da Educação, que vive um entra e sai de ministros e ainda não tem um plano de ação nacional, ainda não decidiu quando realizará o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) de 2020.
Uma consulta pública realizada pelo Ministério da Educação (MEC) pediu aos estudantes inscritos que votassem entre três possíveis datas para a realização do exame, sendo elas dezembro de 2020, janeiro de 2021 ou maio de 2021. O resultado saiu nesta quarta-feira (01) e apontou que 50% dos envolvidos preferem que as provas do Enem ocorram em maio. Aqui no Espírito Santo, cerca de 1 milhão de estudantes se inscreveram no Enem 2020 e ainda há divergências entre a escolha do que seria a melhor data.
Com os primeiros infectados pelo novo coronavírus no Brasil, as escolas foram os primeiros estabelecimentos a fecharem às portas. Sem uma orientação nacional, a rede de ensino pública e privada de cada Estado se organizou como pode.
Sobre o Enem, o então ministro Abraham Weintraub chegou a dizer que as provas não seriam adiadas. Mas a repercussão fez ele voltar atrás. E, em meio a crise instaurada pelas frases polêmicas de Weintraub até sua saída, decidiu-se fazer uma consulta pública aos estudantes inscritos para a realização da prova.
Para o coordenador do curso pré-Enem Projeto Universidade Para Todos (Pupt Mais), José Vasconcelos, a melhor data seria maio por uma questão de menor desigualdade de competição entre alunos da rede pública e privada.
"Só tivemos as duas primeiras semanas de aula presencial em março. Como não somos uma escola estruturada, preferimos encerrar as aulas. Um grupo de professores está oferecendo, por conta própria, conteúdo on-line para manterem os alunos com foco nos estudos, mas sem ligação com o Pupt Mais. Acredito que o melhor seria a prova em maio, pois o aluno da rede pública é o mais prejudicado, por não ter infraestrutura em casa como os alunos da rede privada. Além disso, até lá acredito que a pandemia já terá sido amenizada", observou Vasconcelos.
O Pupt Mais possui três turmas de pré-Enem, somando 270 alunos. Vasconcelos diz que, assim que retornarem às aulas, os alunos já podem esperar atividades presenciais também em janeiro e fevereiro, caso a data do Enem seja maio.
Outro cursinho popular, o AfirmAção, possui 230 estudantes inscritos no Enem. Um dos coordenadores do projeto, Lula Rocha, também vê maio como um mês mais coerente para as provas. "Os cursinhos populares estão atrelados às decisões de volta às aulas da rede pública e o seu calendário. Esse adiamento da prova aprofunda a desvantagens de alunos do ensino público em relação à rede privada", descreve.
O AfirmAção trabalha, atualmente, com três modalidades de preparação dos alunos durante a pandemia: vídeos on-lines em parceria com a plataforma virtual Descomplica; aulas on-lines aos sábados; e disponibilizando livros e apostilas a quem não tem acesso à tecnologia.
À frente do Sindicado das Instituições de Ensino Privado (Sinep-es), Geraldo Diório, discorda da opinião dos dois coordenadores de cursinhos populares. "Esse resultado de enquete é para a rede pública, pois se fosse em novembro, como normalmente, eles não teriam condições de fazerem a prova. Mas também não é justo que os alunos que estão prontos, cercados de ansiedade, sejam prejudicados. O ideal seria, pelo menos, que o exame fosse em janeiro. Assim, seria um mês para as duas redes estarem no mesmo ponto. Se for para maio, o ingresso dos alunos no ensino superior só vai ocorrer no segundo semestre? ", questiona Diório.
No Espírito Santo, as aulas foram suspensas no dia 16 de março. Em abril, a rede privada de ensino já havia se organizado para atender virtualmente os alunos e contar as atividades como dias letivos. Já a rede pública, porém, por ter mais dificuldades no acesso aos meios que disponibilizam aulas remotas, como videoaulas na TV ou na internet, somente neste mês de julho as atividades passaram a contabilizar dias letivos.
Não apenas coordenadores apresentam opiniões diferentes. Os alunos, em meio à toda ansiedade e angústia do momento pré-Enem e pandemia, também apresentam divergências.
A estudante Giulia do Valle, 17 anos, aluna do Darwin, vai tentar medicina com a nota do Enem 2020. Ela está entre os pouco mais de 1 milhão de inscritos que votaram na enquete. "Votei em maio, pois acredito que seja o mais justo com os alunos da rede privada e pública. Muitos alunos da rede pública não tem acesso à internet ou mesmo a uma boa educação. Para eles, os estudantes da rede pública, o Enem é a única oportunidade de entrar em uma universidade ou mesmo ter bolsas em instituições privadas. Precisamos abraçar a causa dessas pessoas e pensar no todo, por isso a oportunidade de provas em maio", explicou Giulia.
Aluna do Pupt Mais, Kézia de Jesus Souza, 18 anos, conta que votou para janeiro. O adiamento era necessário, mas a suspensão até janeiro já proporciona tempo para preparação. Se ocorrer em maio, alterará o calendário de outras faculdades. Sem contar que o resultado do Enem demoram para sair", observou a estudante.
Apesar de 50% dos participantes responderem à consulta que preferem a prova em maio de 2021, a data definitiva só será divulgada após ser articulada com o Conselho dos Secretários Estaduais de Educação (Consed), a Associação Nacional dos Dirigentes das Instituições Federais de Ensino Superior (Andifes), o Conselho Nacional das Instituições da Rede Federal de Educação Profissional, Científica e Tecnológica (Conif), entre outros.
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