Uma obra de ampliação da faixa de areia, ou de engordamento, como é chamada, combinada com um muro. Essa é a medida que deve resolver o problema da erosão na Praia da Areia Preta, em Guarapari.
No mês de março, a força das águas derrubou uma parte do muro e do calçadão. O local foi interditado pela prefeitura. Para conter os prejuízos, o Executivo municipal colocou pedras e terra na região.
No último dia 28, a prefeitura informou que além de fazer o enrocamento (uso de pedras), vai construir um muro na região. Os detalhes do projeto, execução e duração da obra não foram informados.
Especialistas alertam que essa medida, sem planejamento e um estudo que considere a dinâmica da praia, não funciona a longo prazo. De acordo com a geógrafa e doutora em oceanografia, Giseli Modolo Vieira Machado, o trecho tem planície costeira estreita.
Giseli, que é pesquisadora da Universidade Federal do Espírito Santo (Ufes), destaca que a Praia da Areia Preta está em uma região que apresenta falta de sedimentos.
Ao longo dos anos, a praia perdeu dunas e falésias, suas fontes naturais de areia. Além desses fatores, a pesquisadora destaca que o tamanho da faixa de areia da praia tem relação com o grau de exposição que ela tem.
Outra característica relacionada à forma dessa praia é que ela está localizada em uma enseada. Neste caso, o transporte de areia acontece do mar para o continente e vice-versa. Há uma troca natural.
“Quando vem uma frente fria, que forma ondas maiores e mais fortes, essas ondas retiram sedimentos da parte emersa e jogam na submersa, mas quando volta a onda normal, ela devolve para praia. Quando vem frente fria, é esperada uma erosão”, explica.
No caso da Areia Preta, em vez de areia, a energia das ondas reflete em rochas, muros e calçadas. Dessa forma, a erosão acaba destruindo o que encontra pela frente. Uma alternativa seria devolver o que o mar precisa para amortecer a força das ondas.
“Quando você faz o engordamento, coloca areia no sistema, aí a praia começa a trabalhar de forma mais equilibrada. O muro é rígido, não tem mobilidade nenhuma. O que tem dado certo é o casamento de obras diferentes no mesmo lugar. A obra mole (engordamento) com a outra obra rígida (muro)", opina Giseli.
Para a pós-doutora em Engenharia Marítima e professora Departamento de Oceanografia e Ecologia da Ufes, Jacqueline Albino, o muro e o engordamento são opções interessantes, desde que sejam construídos após a realização de estudos sobre o comportamento da praia.
No caso do enrocamento, a pesquisadora informa que existem ferramentas que apontam a direção e o tipo de pedras que devem ser usadas. “Qualquer intervenção tem que ser feita com cuidado porque um elemento novo na costa pode mitigar ou intensificar a erosão”, ressalta.
Albino entende que, por se tratar de uma região com apelo turístico e até mesmo habitacional, em um primeiro momento, a prefeitura opte por obras emergenciais. Outro ponto que chama atenção é o aspecto turístico e histórico da praia e sua areia monazítica. Os especialistas destacam que os estudos devem considerar como preservar essa imagem.
“A prefeitura recebe uma pressão da população, o papel dela é responder de imediato. Mas, no âmbito de políticas públicas de modo geral, acredito que tem de haver uma preocupação com questões naturais da costa, investimentos em estudos, planejamento e formação de um grupo de gestão costeira”, sugere.
Para citar a importância do planejamento e da gestão das obras na região costeira do Espírito Santo, os especialistas citam as obras executadas em Camburi, em Vitória. Além de espigões (píer), o trecho litorâneo recebeu engordamento da faixa de praia.
A professora Jacqueline Albino, do Departamento de Oceanografia e Ecologia da Ufes, lembra que na década de 1990, a calçada da Praia de Camburi estava quebrada por causa erosão.
“Eles optaram por fazer um estudo para fazer uma alimentação artificial de areia. Também colocaram estruturas duras como aqueles espigões (píer) para conter o transporte de sedimento local. A obra é um sucesso”, comemora.
A pesquisadora pontua que o sedimento certo foi escolhido a partir do que os estudos feitos à época indicaram. “A praia interage com o tamanho do grão, com a onda e com a forma. São as ondas que decidem. Não pode jogar qualquer grão ali”, alerta.
Em 2020, um novo engordamento foi feito em Camburi. O mesmo procedimento foi repetido na Curva da Jurema, na Capital.
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